quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Bolsonaro não cede nem mais um centímetro de terra aos índios / Jair Bolsonaro launches assault on Amazon rainforest protections

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Bolsonaro não cede nem mais um centímetro de terra aos índios
As principais competências do organismo estatal que historicamente geriu a demarcação de terras indígenas foram transferidas para o Ministério da Agricultura, controlado pela grande indústria agrícola.

JOÃO RUELA RIBEIRO 2 de Janeiro de 2019, 17:59

Passavam poucas horas da sua tomada de posse como Presidente do Brasil quando Jair Bolsonaro dava a machadada final no organismo que durante décadas assegurou a delimitação e a atribuição de terras às comunidades indígenas. Um dos primeiros actos legislativos da era Bolsonaro é um verdadeiro presente para os grandes proprietários rurais e põe em causa o sistema de redistribuição de terras, garantido pela Constituição.

Uma das medidas provisórias assinadas por Bolsonaro logo na primeira noite como chefe de Estado brasileiro prevê a transferência das principais competências até agora atribuídas à Fundação Nacional do Índio (Funai) para o Ministério da Agricultura, incluindo a identificação, delimitação e demarcação de terras indígenas. A deputada dos Democratas (DEM) Tereza Cristina foi a escolhida por Bolsonaro para a pasta da Agricultura, e é uma das mais destacadas líderes da “bancada do boi”, assim chamada por congregar parlamentares alinhados com os interesses dos grandes proprietários rurais.


Com a passagem das competências nucleares da Funai para um ministério dominado por apoiantes do agro-negócio, o futuro das demarcações de terras indígenas parece negro. Estão em fase de estudo 115 processos de demarcação de terras, de acordo com a própria Funai. Sonia Guajajara, ex-candidata a vice-Presidente pelo Partido Socialismo e Liberdade e um dos rostos da causa indígena, condenou a decisão de Bolsonaro, dizendo que “o desmanche já começou”.

Bolsonaro disse que tem como objectivo “integrar estes cidadãos”, dizendo que os índios vivem em comunidades “isoladas” e são explorados por organizações não-governamentais. “Mais de 15% do território nacional é demarcado como terra indígena e quilombolas. Menos de um milhão de pessoas vivem nestes lugares isolados do Brasil de verdade, exploradas e manipuladas por ONG”, escreveu o Presidente no Twitter.

A delimitação de terras e a sua entrega pelo Estado às comunidades indígenas é garantida pela Constituição – cerca de 14% do território brasileiro está destinado para este fim. Até agora, cabia à Funai a realização de estudos antropológicos, históricos, fundiários, cartográficos e ambientais, que determinavam a delimitação de uma dada área para uma exploração exclusiva das comunidades indígenas. E era também este organismo criado nos anos 1960 que delimitava fisicamente as terras, após decisão do Ministério da Justiça, e que indemnizava os ocupantes não-índios.

Há muito que a Funai era uma pedra no sapato dos grandes proprietários rurais que desejavam uma marcha atrás nas delimitações de terras. Desde a chegada de Michel Temer ao poder que o organismo já vinha a ser alvo de várias investidas – os deputados ruralistas foram cruciais para que Dilma Rousseff fosse destituída e travaram a abertura de uma investigação a Temer. Em Março de 2017, 87 cargos da Funai foram extintos e, pouco depois, a Câmara dos Deputados abriu uma comissão de inquérito que acabou por indiciar mais de 60 funcionários por suspeitas de corrupção. Em Junho do mesmo ano, a alta-comissária da ONU para os Direitos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, alertava para o enfraquecimento da Funai: “Acho que há uma tentativa do Governo de reduzir a protecção dos direitos indígenas.”

Para além do mais que provável congelamento de novas delimitações, Bolsonaro não tem escondido a intenção de reverter algumas demarcações já aprovadas, como a da Raposa Serra do Sol, em Roraima, onde o solo é fértil e rico em minérios. “Você tem como explorar de forma racional”, disse Bolsonaro no mês passado, lembra o El País Brasil. Espera-se, porém, uma dura batalha judicial, por causa do elevado valor constitucional atribuído às demarcações indígenas.


Jair Bolsonaro launches assault on Amazon rainforest protections
Executive order transfers regulation and creation of indigenous reserves to agriculture ministry controlled by agribusiness lobby

Dom Phillips in Rio de Janeiro
 @domphillips
Wed 2 Jan 2019 17.33 GMT Last modified on Thu 3 Jan 2019 01.49 GMT

Hours after taking office, Brazil’s new president, Jair Bolsonaro, has launched an assault on environmental and Amazon protections with an executive order transferring the regulation and creation of new indigenous reserves to the agriculture ministry – which is controlled by the powerful agribusiness lobby.

The move sparked outcry from indigenous leaders, who said it threatened their reserves, which make up about 13% of Brazilian territory, and marked a symbolic concession to farming interests at a time when deforestation is rising again.

“There will be an increase in deforestation and violence against indigenous people,” said Dinaman Tuxá, the executive coordinator of the Articulation of Indigenous People of Brazil (Apib). “Indigenous people are defenders and protectors of the environment.”

Sonia Guajajara, an indigenous leader who stood as vice-presidential candidate for the Socialism and Freedom party (PSOL) tweeted her opposition. “The dismantling has already begun,” she posted on Tuesday.

Previously, demarcation of indigenous reserves was controlled by the indigenous agency Funai, which has been moved from the justice ministry to a new ministry of women, family and human rights controlled by an evangelical pastor.

The decision was included in an executive order which also gave Bolsonaro’s government secretary potentially far-reaching powers over non-governmental organizations working in Brazil.

The temporary decree, which expires unless it is ratified by congress within 120 days, mandates that the office of the government secretary, Carlos Alberto Dos Santos Cruz, “supervise, coordinate, monitor and accompany the activities and actions of international organizations and non-governmental organizations in the national territory”.

Bolsonaro, who has often criticised Brazilian and international NGOs who he accuses of “sticking their noses into Brazil”, defended the measure in a tweet on Wednesday. “More than 15% of national territory is demarcated as indigenous land and quilombos. Less than a million people live in these places, isolated from true Brazil, exploited and manipulated by NGOs. Together we will integrate these citizens,” he posted.

Separately, the incoming health minister, Luiz Henrique Mandetta, suggested on Wednesday that there would be spending cuts on healthcare for indigenous people. “We have figures for the general public that are much below what is spent on healthcare for the indigenous,” he said, without providing details.

During last year’s election campaign, Bolsonaro promised to end demarcation of new indigenous lands, reduce the power of environmental agencies and free up mining and commercial farming on indigenous reserves. His measure also gave the agriculture ministry power over new quilombos – rural settlements inhabited by descendants of former slaves.

After she was sworn in on Wednesday, the new agriculture minister, Tereza Cristina Dias, defended the farm sector from accusations it has grown at the expense of the environment, adding that the strength of Brazil’s farmers had generated “unfounded accusations” from unnamed international groups.

Silas Malafia, an influential televangelist and close friend of Bolsonaro, said developed countries who centuries ago cut down their own forests should pay if they wanted Brazil to preserve the Amazon.

“We’re going to preserve everything because the gringos destroyed what they had?” he said.

Former environment minister Marina Silva tweeted: “Bolsonaro has begun his government in the worst possible way.”


Tuxá, the indigenous leader, said: “We will go through another colonisation process, this is what they want.”

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