quinta-feira, 1 de julho de 2021

Marcelo quer ver apurada matéria de facto no acidente que envolveu carro de Cabrita




ACIDENTES

Marcelo quer ver apurada matéria de facto no acidente que envolveu carro de Cabrita

 

CDS e Chega querem saber se o ministério mantém o que transmitiu em comunicado no dia seguinte ao acidente, que não existia sinalização no local, depois da Brisa ter afirmado que havia.

 

Maria Lopes e Luciano Alvarez

1 de Julho de 2021, 6:01

https://www.publico.pt/2021/07/01/politica/noticia/marcelo-quer-apurada-materia-facto-acidente-envolveu-carro-cabrita-1968597

 

O caso envolve Eduardo Cabrita, mas o ministro da Administração Interna não quis fazer qualquer comentário. Já Marcelo Rebelo de Sousa, tendo Cabrita mesmo ao seu lado no final de uma visita à Unidade Especial de Polícia (UEP), em Belas (Sintra), defendeu nesta quarta-feira ser “essencial” que se investigue a “matéria de facto” sobre o acidente que envolveu o carro do governante e que provocou a morte por atropelamento a um trabalhador da limpeza da A6.

 

Questionado pelo PÚBLICO sobre se a demora em haver explicações públicas sobre o acidente não se estava a tornar um “berbicacho” político para o ministro — o termo já chegou a ser usado por Marcelo a propósito das eleições de 2023 — e se, por envolver um governante, não exigia mais celeridade, o Presidente da República realçou que o essencial é haver matéria de facto e que há “várias instâncias que se encarregam de investigar a matéria de facto para diversos efeitos”.

 

“As autoridades investigam quem quer que seja que vá dentro do veículo automóvel, quem quer que seja o cidadão que seja atingido. Portanto, essa investigação e esse apuramento de facto deve decorrer e, a meu ver, não deve depender de saber se ia A ou B ou C a conduzir, ao lado do condutor ou atrás do condutor. O que for apurado é apurado”, acrescentou.

 

 

Foi a primeira vez, em 12 dias, o Presidente da República se referiu ao acidente. O ministro também teve oportunidade de o fazer, mas rejeitou-a. “Não é este o momento adequado”, respondeu aos jornalistas que o questionaram, em Sintra. Nessa mesma manhã, o PÚBLICO enviou três perguntas ao gabinete do ministro que ficaram sem resposta.

 

Também o CDS optou por enviar cinco perguntas ao MAI, através do Parlamento, em vez de chamar o ministro à Assembleia. Depois de terem exigido saber a que velocidade circulava o veículo, os deputados centristas insistiram: “Mantém V. Exa que as obras existentes no local do acidente não estavam assinaladas? A viatura seguia dentro do limite de velocidade aplicável àquele troço da A6? A viatura interveniente no acidente é propriedade do Ministério da Administração Interna? Na positiva, foi contactado algum responsável do Ministério da Administração Interna, nomeadamente V. Exa, para algum termo do processo de inquérito? Foi aberto processo de inquérito interno às circunstâncias do acidente, a fim de determinar a existência de prejuízos e os titulares do direito a indemnização? Já alguém contactou a viúva e as filhas da vítima, a fim de perceber quais as suas necessidades imediatas e encaminhá-las para os serviços adequados do Estado, enquanto não houver resultados do inquérito interno?”.

 

O deputado do Chega também enviou perguntas ao ministro. “Confirma-se que o veículo oficial seguia a uma velocidade superior a 200km/h? Estava ou não sinalizado o espaço em obras no local do acidente? O veículo seguia em marcha de urgência ou marcha normal no regresso da deslocação do senhor ministro  a Portalegre?”, escreveu André Ventura, num texto em que afirma estar “a passar para a sociedade portuguesa uma terrível imagem de impunidade por parte dos governantes e agentes do Estado”.

 

O ministro tem 30 dias para responder às questões.

 

Filme dos acontecimentos

18 de Junho

O carro em que seguia Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, sofreu um acidente de viação que provocou a morte de um homem de 43 anos. O homem, que morreu atropelado na auto-estrada A6, é um trabalhador que fazia a manutenção da via, revelaram as autoridades. A viatura era conduzida por um motorista do ministério e o acidente aconteceu por volta das 13h, ao quilómetro 77 na auto-estrada, que liga Marateca à fronteira do Caia, em Elvas (distrito de Portalegre). A GNR anunciou de imediato que as circunstâncias em torno deste acidente seriam averiguadas pelo Núcleo de Investigação Criminal de Acidentes de Viação do Destacamento de Trânsito de Évora.

 

19 de Junho

O Ministério da Administração Interna esclareceu num comunicado que o trabalhador atropelado estava a atravessar a faixa de rodagem e que não houve qualquer despiste. Além disso, acrescentou “não havia qualquer sinalização que alertasse os condutores para a existência de trabalhos de limpeza em curso”.

 

20 Junho

A empresa do trabalhador que morreu atropelado por carro de Eduardo Cabrita, a Arquijardim, revelou que iria pagar as despesas do funeral. As cerimónias fúnebres não contaram com a presença de nenhum membro do Governo, que apenas enviou uma coroa de flores e uma carta de condolências.

 

 22 de Junho

O Ministério Público anunciou que abriu um inquérito para apurar as circunstâncias da morte do trabalhador atropelado pelo carro que transportava o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita.

 

24 de Junho

O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) anunciou ter aberto um inquérito interno sobre as circunstâncias em que foi prestado o socorro no acidente que envolveu o carro que transportava o ministro da Administração Interna. Em causa está o trajecto efectuado pelo veículo de emergência médica e o tempo que levou a viatura a chegar ao local do acidente.

 

26 de Junho

A viúva do trabalhador que foi mortalmente atropelado queixou-se, em declarações ao Correio da Manhã, de apenas ter recebido “uma carta” com as condolências, mas que ninguém lhe perguntou “se precisava de ajuda”. Disse ainda temer pelo futuro das filhas de 15 e 19 anos.

 

28 de Junho

Em conferência de imprensa, o presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, exigiu saber a que velocidade seguia a viatura que transportava o ministro da Administração Interna.

 

29 de Junho

Responsáveis da Brisa desmentem parte do primeiro comunicado do MAI, afirmando que as obras na auto-estrada estavam devidamente sinalizadas e que os trabalhos se realizavam na berma da estrada. Ao PÚBLICO, fonte do MAI recusou comentar as versões contraditórias, afirmando que nada mais havia a acrescentar ao comunicado e lembrando que decorria ainda o inquérito aberto pelo Ministério Público.

 

30 de Junho

Numa cerimónia pública, em que esteve acompanhado pelo Presidente da República, Eduardo Cabrita recusou fazer qualquer comentário sobre o acidente. Marcelo Rebelo de Sousa defendeu ser essencial apurar a matéria de facto sobre acidente. O grupo parlamentar do CDS-PP e o deputado do Chega pediram explicações ao Ministério da Administração Interna sobre o acidente com o carro em que seguia o ministro, questionando se mantém que os trabalhos naquela auto-estrada não estavam assinalados.

 

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