ACIDENTES
Marcelo quer ver apurada matéria de facto no acidente que
envolveu carro de Cabrita
CDS e Chega querem saber se o ministério mantém o que
transmitiu em comunicado no dia seguinte ao acidente, que não existia
sinalização no local, depois da Brisa ter afirmado que havia.
Maria Lopes e
Luciano Alvarez
1 de Julho de
2021, 6:01
O caso envolve
Eduardo Cabrita, mas o ministro da Administração Interna não quis fazer
qualquer comentário. Já Marcelo Rebelo de Sousa, tendo Cabrita mesmo ao seu
lado no final de uma visita à Unidade Especial de Polícia (UEP), em Belas
(Sintra), defendeu nesta quarta-feira ser “essencial” que se investigue a
“matéria de facto” sobre o acidente que envolveu o carro do governante e que
provocou a morte por atropelamento a um trabalhador da limpeza da A6.
Questionado pelo
PÚBLICO sobre se a demora em haver explicações públicas sobre o acidente não se
estava a tornar um “berbicacho” político para o ministro — o termo já chegou a
ser usado por Marcelo a propósito das eleições de 2023 — e se, por envolver um
governante, não exigia mais celeridade, o Presidente da República realçou que o
essencial é haver matéria de facto e que há “várias instâncias que se
encarregam de investigar a matéria de facto para diversos efeitos”.
“As autoridades
investigam quem quer que seja que vá dentro do veículo automóvel, quem quer que
seja o cidadão que seja atingido. Portanto, essa investigação e esse apuramento
de facto deve decorrer e, a meu ver, não deve depender de saber se ia A ou B ou
C a conduzir, ao lado do condutor ou atrás do condutor. O que for apurado é
apurado”, acrescentou.
Foi a primeira
vez, em 12 dias, o Presidente da República se referiu ao acidente. O ministro
também teve oportunidade de o fazer, mas rejeitou-a. “Não é este o momento
adequado”, respondeu aos jornalistas que o questionaram, em Sintra. Nessa mesma
manhã, o PÚBLICO enviou três perguntas ao gabinete do ministro que ficaram sem
resposta.
Também o CDS
optou por enviar cinco perguntas ao MAI, através do Parlamento, em vez de
chamar o ministro à Assembleia. Depois de terem exigido saber a que velocidade
circulava o veículo, os deputados centristas insistiram: “Mantém V. Exa que as
obras existentes no local do acidente não estavam assinaladas? A viatura seguia
dentro do limite de velocidade aplicável àquele troço da A6? A viatura
interveniente no acidente é propriedade do Ministério da Administração Interna?
Na positiva, foi contactado algum responsável do Ministério da Administração
Interna, nomeadamente V. Exa, para algum termo do processo de inquérito? Foi
aberto processo de inquérito interno às circunstâncias do acidente, a fim de
determinar a existência de prejuízos e os titulares do direito a indemnização?
Já alguém contactou a viúva e as filhas da vítima, a fim de perceber quais as
suas necessidades imediatas e encaminhá-las para os serviços adequados do
Estado, enquanto não houver resultados do inquérito interno?”.
O deputado do
Chega também enviou perguntas ao ministro. “Confirma-se que o veículo oficial
seguia a uma velocidade superior a 200km/h? Estava ou não sinalizado o espaço
em obras no local do acidente? O veículo seguia em marcha de urgência ou marcha
normal no regresso da deslocação do senhor ministro a Portalegre?”, escreveu André Ventura, num
texto em que afirma estar “a passar para a sociedade portuguesa uma terrível
imagem de impunidade por parte dos governantes e agentes do Estado”.
O ministro tem 30
dias para responder às questões.
Filme dos
acontecimentos
18 de Junho
O carro em que
seguia Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, sofreu um acidente
de viação que provocou a morte de um homem de 43 anos. O homem, que morreu
atropelado na auto-estrada A6, é um trabalhador que fazia a manutenção da via,
revelaram as autoridades. A viatura era conduzida por um motorista do
ministério e o acidente aconteceu por volta das 13h, ao quilómetro 77 na
auto-estrada, que liga Marateca à fronteira do Caia, em Elvas (distrito de
Portalegre). A GNR anunciou de imediato que as circunstâncias em torno deste
acidente seriam averiguadas pelo Núcleo de Investigação Criminal de Acidentes
de Viação do Destacamento de Trânsito de Évora.
19 de Junho
O Ministério da Administração
Interna esclareceu num comunicado que o trabalhador atropelado estava a
atravessar a faixa de rodagem e que não houve qualquer despiste. Além disso,
acrescentou “não havia qualquer sinalização que alertasse os condutores para a
existência de trabalhos de limpeza em curso”.
20 Junho
A empresa do
trabalhador que morreu atropelado por carro de Eduardo Cabrita, a Arquijardim,
revelou que iria pagar as despesas do funeral. As cerimónias fúnebres não
contaram com a presença de nenhum membro do Governo, que apenas enviou uma
coroa de flores e uma carta de condolências.
22 de Junho
O Ministério
Público anunciou que abriu um inquérito para apurar as circunstâncias da morte
do trabalhador atropelado pelo carro que transportava o ministro da Administração
Interna, Eduardo Cabrita.
24 de Junho
O Instituto
Nacional de Emergência Médica (INEM) anunciou ter aberto um inquérito interno
sobre as circunstâncias em que foi prestado o socorro no acidente que envolveu
o carro que transportava o ministro da Administração Interna. Em causa está o
trajecto efectuado pelo veículo de emergência médica e o tempo que levou a
viatura a chegar ao local do acidente.
26 de Junho
A viúva do
trabalhador que foi mortalmente atropelado queixou-se, em declarações ao
Correio da Manhã, de apenas ter recebido “uma carta” com as condolências, mas
que ninguém lhe perguntou “se precisava de ajuda”. Disse ainda temer pelo
futuro das filhas de 15 e 19 anos.
28 de Junho
Em conferência de
imprensa, o presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, exigiu saber a
que velocidade seguia a viatura que transportava o ministro da Administração
Interna.
29 de Junho
Responsáveis da
Brisa desmentem parte do primeiro comunicado do MAI, afirmando que as obras na
auto-estrada estavam devidamente sinalizadas e que os trabalhos se realizavam
na berma da estrada. Ao PÚBLICO, fonte do MAI recusou comentar as versões
contraditórias, afirmando que nada mais havia a acrescentar ao comunicado e
lembrando que decorria ainda o inquérito aberto pelo Ministério Público.
30 de Junho
Numa cerimónia
pública, em que esteve acompanhado pelo Presidente da República, Eduardo
Cabrita recusou fazer qualquer comentário sobre o acidente. Marcelo Rebelo de
Sousa defendeu ser essencial apurar a matéria de facto sobre acidente. O grupo
parlamentar do CDS-PP e o deputado do Chega pediram explicações ao Ministério
da Administração Interna sobre o acidente com o carro em que seguia o ministro,
questionando se mantém que os trabalhos naquela auto-estrada não estavam
assinalados.
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