LISBOA
Prédios dos grandes grafitti na Fontes Pereira de Melo
vão ser reabilitados
Emparedados há muito, os edifícios serviram de tela à
arte urbana e existe agora um projecto para a sua reabilitação, que contempla a
construção de dois novos prédios no mesmo quarteirão.
João Pedro Pincha
e Lusa
27 de Julho de
2021, 18:38
A Câmara de
Lisboa adiou a discussão de um projecto para requalificar o conjunto de
três edifícios abandonados na Avenida Fontes Pereira de Melo que ganhou
notoriedade nos últimos anos devido aos seus grafitti de grandes
dimensões. Depois de muitos anos de abandono e degradação, com uma petição
pública e um incêndio pelo meio, autarquia e proprietário chegaram a acordo.
Para trás ficou a intenção de ali erguer uma torre, propondo-se agora a
manutenção das fachadas, do número de pisos à superfície e a reconstrução da
cobertura.
O conjunto de
edifícios, que ocupa um quarteirão entre a Fontes Pereira de Melo e as ruas
Martens Ferrão e Andrade Corvo, é um dos últimos exemplos de arquitectura
de finais do século XIX e princípios do XX naquela zona da cidade, que
cresceu por iniciativa de Ressano Garcia. No terreno existiam ainda mais dois
edifícios da mesma época, mas foram demolidos em 2004.
O projecto da
empresa Azipalace, do grupo hoteleiro Sana, prevê a reabilitação dos três
edifícios existentes, a construção de dois e a demolição de uma estrutura em
lajes de betão existente nas traseiras. Os novos edifícios serão construídos na
Rua Martens Ferrão (sete pisos e aproveitamento da cobertura em sótão) e na Rua
Andrade Corvo (seis pisos e aproveitamento da cobertura em sótão). Os cinco
imóveis destinam-se maioritariamente ao uso habitacional, ainda que incluam
áreas de serviços. Prevê-se a criação de 136 fogos.
No ano passado, a
Assembleia Municipal de Lisboa analisou uma petição com 396 assinaturas que
pugnava pela salvaguarda do quarteirão, tendo recomendado à câmara que tomasse
“as necessárias diligências junto do proprietário para acabar com a degradação
desses edifícios situados numa das mais importantes avenidas da cidade”. Em
Março deste ano deflagrou um incêndio na cobertura dos prédios. Segundo
informações então recolhidas pelo PÚBLICO, a PJ acredita ter-se tratado de um
acidente, até porque os imóveis eram usados por pessoas sem-abrigo.
Depois de
chumbada a pretensão de uma torre, os serviços de Urbanismo da autarquia
emitiram em Junho um parecer favorável ao projecto “condicionado à necessidade
de a operação urbanística assegurar a instalação de uma creche para 42
crianças”, em alternativa à cedência de uma parcela para aquele fim.
Numa nota enviada
às redacções e à Câmara de Lisboa, o movimento cívico Fórum Cidadania LX
transmitiu um “aplauso fervoroso” ao vereador Ricardo Veludo pelo facto de
submeter para discussão este projecto. “Não sendo o projecto ideal, porque, uma
vez mais, estamos perante o esventramento do subsolo para efeitos de
estacionamento automóvel, com a consequente impermeabilização do solo e uma
maior presença de carros no centro da cidade, onde por sinal existem
metropolitano e várias carreiras de autocarro, trata-se de um projecto que
representa uma vitória para a cidade e para todos os que lutaram para que
aquele conjunto singular da Avenida Fontes Pereira de Melo não fosse demolido”,
salienta o movimento.
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