quinta-feira, 29 de julho de 2021

Pedro Adão e Silva: explique-se, pf!

 


OPINIÃO

Pedro Adão e Silva: explique-se, pf!

 

A serem verdade não apenas os factos, mas o entendimento que deles se fez, é gravíssimo que um agente público, com as altas responsabilidades que tem, menospreze um canal televisivo – seja ele qual for, ligado ou não a um clube de futebol que, por acaso, não é o seu.

 

André Lamas Leite

29 de Julho de 2021, 14:18

https://www.publico.pt/2021/07/29/opiniao/opiniao/pedro-adao-silva-expliquese-pf-1972300

 

Declaração de interesses: desde Março deste ano que venho colaborando com regularidade com o Porto Canal, detido por uma sociedade comercial em cujo capital social é maioritário o Futebol Clube do Porto. Isto dito, apenas por dever de probidade, mas que nunca me impediria de criticar opções editoriais do canal ou de escrever o mesmo quanto a outros, vamos ao sucedido.

 

O Porto Canal procurou, segundo nota da sua Direcção de Informação, uma reacção do recém-empossado Comissário Executivo para as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, Sr. Prof. Doutor Pedro Adão e Silva, ao facto de o Governo não ter decretado luto nacional pela morte de Otelo Saraiva de Carvalho. Segundo o mesmo comunicado, o comissário ter-se-á referido ao canal como “essa coisa”, furtou-se a qualquer reacção e terá dito à jornalista que, por trabalhar para aquela estação televisiva, não se podia intitular verdadeiramente como “jornalista”.

 

Recuemos um pouco no tempo: certamente de modo discutível – como todos os editoriais dos órgãos de comunicação social –, o Porto Canal foi o primeiro a dar a notícia da nomeação do Sr. Prof. Doutor para o cargo e a questionar, sobretudo, a estrutura, duração e custo. No programa em que intervinha, tive oportunidade de me pronunciar sobre o assunto, em termos menos críticos que o editorial, o que prova bem que nunca me deram nenhuma “cartilha” para a mão. Se o tivessem feito, sairia na mesma hora.

 

Donde, confrontando o comunicado com este facto, naturalmente que o Sr. Prof. Doutor Pedro Adão e Silva não terá ficado nada agradado com o Porto Canal. Está no seu legítimo direito. Direito do qual emerge um dever: o de, com urgência, dar explicações ao país e pronunciar-se sobre os factos que lhe são imputados. A serem verdade não apenas os factos, mas o entendimento que deles se fez, é gravíssimo que um agente público, com as altas responsabilidades que tem, menospreze um canal televisivo – seja ele qual for, ligado ou não a um clube de futebol que, por acaso, não é o seu –, ainda por cima com este historial, para além de demonstrar pouca inteligência emocional. Se assim tiver sido, é preocupante a qualidade do perfil escolhido. Por outro lado, tecer comentários sobre o título de “jornalista” não só demonstra uma tremenda falta de educação, como incompreensão do seu quadro funcional: essa competência cabe à Comissão da Carteira Profissional de Jornalista.

 

A separação entre bons e maus, entre aqueles para os quais se fala ou não, com as altas funções públicas ocupadas pelo Sr. Prof. Doutor Pedro Adão e Silva, simplesmente não pode acontecer. Todos temos as nossas preferências, legítimas, por certo, mas quem ocupa funções deste tipo não se pode esquecer que representa o interesse de todos. E se é de todos, importa falar, com educação e mantendo o nível, com quem se aprecia ou não. Espero, naturalmente, também uma reacção do Sindicato dos Jornalistas, depois de exercido o contraditório e, segundo consta do comunicado, tudo indica que existirá um inquérito junto da Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

 

Como jurista e professor de Direito, o contraditório é sagrado. E é apenas isso que peço ao Sr. Comissário Executivo: que diga o que sucedeu, na sua perspectiva, pois episódios como este em nada dignificam o próprio Estado de Direito, de que a comunicação social é um dos esteios.

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