quinta-feira, 29 de julho de 2021

COMUNICADO




 

A 19 dA 19 de Outubro de 2020 perguntava eu directamente no PÚBLICO ao Engenheiro Ricardo Veludo, Vereador do Urbanismo:

Caro sr. engenheiro, que tenciona fazer ou continuar a (não) fazer com o que resta do património arquitectónico do séc. XIX!?  https://www.publico.pt/2020/10/19/local/noticia/demolicao-fontes-pereira-melo-pergunta-directa-ricardo-veludo-1935880

Tratava-se do muito ameaçado e maltratado notável conjunto de três edifícios na Fontes Pereira de Melo, que depois dos famosos atentados que pretendiam ser expressão de “Arte Urbana”, sofreram ainda um suspeito incêndio.

Temia-se o pior. Daí a retórica pergunta/ Apelo da minha parte publicada no Público.

No próximo dia 27 uma nova proposta fai ser discutida em reunião de Câmara.

O projecto aparente ser, dentro do possível, muito aceitável, o que denota sem dúvida um esforço consciente da parte do Eng. Ricardo Veludo de manter os edifícios na sua volumetria e arquitectura exterior original, consolidando assim o importante diálogo que este conjunto mantém com o Palácio Sotto Mayor. Estes, os últimos exemplos de Património de Sec. XIX desta Avenida.

Os meus cumprimentos portanto ao Eng. Ricardo Veludo que demonstrou sensibilidade e sem dúvida uma capacidade de diálogo e persuasão com o Promotor e respectivo Arquitecto.

ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO / Historiador de Arquitectura.

O artigo original no Público pode ser lido aqui.

 



Demolição na Fontes Pereira de Melo. Uma pergunta directa a Ricardo Veludo

 

Caro sr. engenheiro, que tenciona fazer ou continuar a (não) fazer com o que resta do património arquitectónico do séc. XIX!?

 

António Sérgio Rosa de Carvalho

19 de Outubro de 2020, 20:03

https://www.publico.pt/2020/10/19/local/noticia/demolicao-fontes-pereira-melo-pergunta-directa-ricardo-veludo-1935880

 

A 28 de Fevereiro de 2008 formulava eu aqui, desde já através de um título, uma pergunta fundamental: que fazer com o que resta do património arquitectónico do séc. XIX em Lisboa? 

 

Entre o ‘fazer’ ou ‘continuar a deixar fazer’ esta pergunta era dirigida aos responsáveis da CML e da “Cultura”. Entre estas duas dimensões em que os vereadores do Urbanismo operam e decidem, existe uma vasta realidade estratégica, camuflada e tácita, de interesses instalados, nomeações políticas e pressões contínuas de promotores e Arquitectos ‘Criativos’ a que esses mesmos vereadores estão sujeitos.

 

Agora que o “reinado” de Manuel Salgado terminou, as atenções viram-se em expectativa para o eng. Ricardo Veludo e para a questão do ‘continuar, ou não, a deixar fazer’.

 

No caso dos três notáveis edifícios que formavam um conjunto patrimonial com o Palácio Sotto Mayor e uma verdadeira ‘ilha de resistência’ à demolição do pouquíssimo que resta na avalanche de arranha-céus que passou a caracterizar esta avenida, repetiu-se o padrão, em fases já ‘clássicas’ de procedimento: começa-se pela remoção das coberturas e deixam-se janelas abertas. Passa-se à demolição de interiores, considerados em perigo de derrocada.

 

Deixam-se as fachadas sustentadas a apodrecer num “engonhanço” propositado, enquanto os protestos do público e as deliberações se desenvolvem, até se chegar à inevitabilidade da demolição devido a questões de (in)segurança estrutural.

 

No caso destes três edifícios, o processo adquiriu dimensões mais perversas, trocando-se o Valor Patrimonial Arquitectónico e Urbanístico por um “Valor Cultural” através da assim chamada Arte Urbana. Assim, maquiavelicamente e subtilmente, relativizou-se o critério original de valor arquitectónico, camuflando-o através da sua redução a mero suporte de pinturas temporárias. Os edifícios passaram assim a ter portanto o estatuto de ‘a prazo’ e de ‘prontos a demolir’. Uma espécie de letreiro implícito a anunciar: “aquilo”... “já não vale nada”.

 

Olhando para um outro notável conjunto de edifícios da mesma época, os 86 a 96 da Av. Duque de Loulé, e acompanhando o processo num artigo publicado por José António Cerejo a 14 de Julho de 2015 verificamos que o processo de licenciamento durou treze anos, nos quais depois de grandes polémicas públicas, em 2009 houve um momento de esperança em que ‘foi aprovado um outro projecto que obrigava à preservação dos interiores, incluindo a “organização espacial do desenho original” e a “maior parte dos elementos decorativos existentes”. Mas o desfecho foi clássico, com a demolição total dos valiosos interiores em 2015. Neste caso, as notáveis e restauradas fachadas ainda lá estão a lembrar-nos dolorosamente daquilo que perdemos nos interiores.

 

Este processo tem-se repetido continuamente e vezes sem conta, numa destruição sistemática do património arquitectónico do séc. XIX  e dos inícios do séc. XX. Caro sr. engenheiro Ricardo Veludo, que tenciona fazer ou continuar a (não) fazer com o que resta do património arquitectónico do séc. XIX!?e Outubro de 2020 perguntava eu directamente no PÚBLICO ao Engenheiro Ricardo Veludo, Vereador do Urbanismo:


Caro sr. engenheiro, que tenciona fazer ou continuar a (não) fazer com o que resta do património arquitectónico do séc. XIX!? 

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