A 19 dA 19 de Outubro de 2020 perguntava eu directamente no PÚBLICO ao Engenheiro Ricardo Veludo, Vereador do Urbanismo:
Caro sr.
engenheiro, que tenciona fazer ou continuar a (não) fazer com o que resta do
património arquitectónico do séc. XIX!? https://www.publico.pt/2020/10/19/local/noticia/demolicao-fontes-pereira-melo-pergunta-directa-ricardo-veludo-1935880
Tratava-se do
muito ameaçado e maltratado notável conjunto de três edifícios na Fontes
Pereira de Melo, que depois dos famosos atentados que pretendiam ser expressão de
“Arte Urbana”, sofreram ainda um suspeito incêndio.
Temia-se o pior.
Daí a retórica pergunta/ Apelo da minha parte publicada no Público.
No próximo dia 27
uma nova proposta fai ser discutida em reunião de Câmara.
O projecto
aparente ser, dentro do possível, muito aceitável, o que denota sem dúvida um
esforço consciente da parte do Eng. Ricardo Veludo de manter os edifícios na
sua volumetria e arquitectura exterior original, consolidando assim o
importante diálogo que este conjunto mantém com o Palácio Sotto Mayor. Estes,
os últimos exemplos de Património de Sec. XIX desta Avenida.
Os meus
cumprimentos portanto ao Eng. Ricardo Veludo que demonstrou sensibilidade e sem
dúvida uma capacidade de diálogo e persuasão com o Promotor e respectivo
Arquitecto.
ANTÓNIO SÉRGIO
ROSA DE CARVALHO / Historiador de Arquitectura.
O artigo original
no Público pode ser lido aqui.
Demolição na Fontes Pereira de Melo. Uma pergunta directa
a Ricardo Veludo
Caro sr. engenheiro, que tenciona fazer ou continuar a
(não) fazer com o que resta do património arquitectónico do séc. XIX!?
António Sérgio
Rosa de Carvalho
19 de Outubro de
2020, 20:03
A 28 de Fevereiro
de 2008 formulava eu aqui, desde já através de um título, uma pergunta fundamental:
que fazer com o que resta do património arquitectónico do séc. XIX em
Lisboa?
Entre o ‘fazer’
ou ‘continuar a deixar fazer’ esta pergunta era dirigida aos responsáveis da
CML e da “Cultura”. Entre estas duas dimensões em que os vereadores do Urbanismo
operam e decidem, existe uma vasta realidade estratégica, camuflada e tácita,
de interesses instalados, nomeações políticas e pressões contínuas de
promotores e Arquitectos ‘Criativos’ a que esses mesmos vereadores estão
sujeitos.
Agora que o “reinado”
de Manuel Salgado terminou, as atenções viram-se em expectativa para o eng.
Ricardo Veludo e para a questão do ‘continuar, ou não, a deixar fazer’.
No caso dos três
notáveis edifícios que formavam um conjunto patrimonial com o Palácio Sotto
Mayor e uma verdadeira ‘ilha de resistência’ à demolição do pouquíssimo que
resta na avalanche de arranha-céus que passou a caracterizar esta avenida,
repetiu-se o padrão, em fases já ‘clássicas’ de procedimento: começa-se pela
remoção das coberturas e deixam-se janelas abertas. Passa-se à demolição de
interiores, considerados em perigo de derrocada.
Deixam-se as
fachadas sustentadas a apodrecer num “engonhanço” propositado, enquanto os
protestos do público e as deliberações se desenvolvem, até se chegar à
inevitabilidade da demolição devido a questões de (in)segurança estrutural.
No caso destes
três edifícios, o processo adquiriu dimensões mais perversas, trocando-se o
Valor Patrimonial Arquitectónico e Urbanístico por um “Valor Cultural” através
da assim chamada Arte Urbana. Assim, maquiavelicamente e subtilmente,
relativizou-se o critério original de valor arquitectónico, camuflando-o
através da sua redução a mero suporte de pinturas temporárias. Os edifícios
passaram assim a ter portanto o estatuto de ‘a prazo’ e de ‘prontos a demolir’.
Uma espécie de letreiro implícito a anunciar: “aquilo”... “já não vale nada”.
Olhando para um
outro notável conjunto de edifícios da mesma época, os 86 a 96 da Av. Duque de
Loulé, e acompanhando o processo num artigo publicado por José António Cerejo a
14 de Julho de 2015 verificamos que o processo de licenciamento durou
treze anos, nos quais depois de grandes polémicas públicas, em 2009 houve um
momento de esperança em que ‘foi aprovado um outro projecto que obrigava à
preservação dos interiores, incluindo a “organização espacial do desenho
original” e a “maior parte dos elementos decorativos existentes”. Mas o
desfecho foi clássico, com a demolição total dos valiosos interiores em 2015.
Neste caso, as notáveis e restauradas fachadas ainda lá estão a lembrar-nos
dolorosamente daquilo que perdemos nos interiores.
Este processo
tem-se repetido continuamente e vezes sem conta, numa destruição sistemática do
património arquitectónico do séc. XIX e dos inícios do séc. XX. Caro sr.
engenheiro Ricardo Veludo, que tenciona fazer ou continuar a (não) fazer com o
que resta do património arquitectónico do séc. XIX!?e Outubro
de 2020 perguntava eu directamente no PÚBLICO ao Engenheiro Ricardo Veludo,
Vereador do Urbanismo:
Caro sr. engenheiro, que tenciona fazer ou continuar a (não) fazer com o que resta do património arquitectónico do séc. XIX!?
Sem comentários:
Enviar um comentário