E se o Martim Moniz fosse uma grande praça pedonal?
É essa a proposta de um lisboeta, urbanista por recreação,
que se insurge contra a forma como a maioria das praças da cidade estão
desenhadas.
João Pedro Pincha
JOÃO PEDRO PINCHA 10 de Janeiro de 2019, 8:13
O anúncio da criação de um mercado com contentores na placa
central do Martim Moniz tem originado um animado debate em Lisboa e parece ter
funcionado como um catalisador de ideias para a praça. Eis mais uma: acabar com
o tráfego automóvel circular, aumentar consideravelmente os passeios e criar um
jardim.
Pedro Machado não é arquitecto e não é urbanista, mas isso
não o tem impedido de idealizar uma cidade diferente, com menos espaço para os
carros e mais para os peões. São esses os princípios que diz estarem presentes
na sua proposta para o Martim Moniz, desenvolvida nas últimas semanas.
“Sou muito favorável a uma maior pedonalização dos espaços
públicos”, diz Machado, que anda muito a pé pela cidade e depara-se diariamente
com obstáculos à fruição urbana pelos peões. “A minha ideia foi aumentar a
permeabilidade pedonal. É bom quando os espaços são mais permeáveis.” Em
Lisboa, comenta, “praticamente todas as praças são em forma de ilha”, em que “o
trânsito circula à volta” e chegar à ilha pode ser um grande desafio.
Depois de, no início de Dezembro, ter lido no PÚBLICO sobre
as ideias do arquitecto Augusto Vasco Costa para o Martim Moniz, Pedro Machado
imaginou duas soluções para aquela praça malfadada. Uma, mais conservadora,
mantém a circulação automóvel em volta da placa central, embora reduzindo o
número de vias de trânsito. A outra vai mais longe, prevendo a supressão total
do tráfego junto à Capela de Nossa Senhora da Saúde. Para os automobilistas
poderem continuar a fazer inversão de marcha, Pedro Machado coloca uma pequena
rotunda junto à Rua da Palma.
Na segunda proposta, Machado sugere a “criação de um jardim
na metade norte da praça e um mais pequeno na parte sul, de forma a desenhar a
junção do centro da praça com o espaço pedonal da Senhora da Saúde”. Nessa zona
despida de vegetação concentram-se alguns quiosques, junto a canteiros, e fica
aberta a possibilidade de haver concertos e espectáculos. “Esta é a única praça
do centro da cidade com um declive significativo [no sentido norte-sul], o que
a torna especialmente indicada para este efeito”, argumenta.
No jardim a norte, que em ambas as soluções é o de maior
dimensão, Pedro inclui um lago, que acredita poder ser um elemento “muito
agradável” para os frequentadores do espaço. Aliás, este urbanista por gosto
crê que estas propostas vão “de encontro àqueles que são os desejos
manifestados pela população”. Depois de se conhecer o projecto do mercado com
contentores, no fim de Novembro, muitos moradores da Baixa participaram numa
reunião promovida pela Junta de Freguesia de Santa Maria Maior em que se
manifestaram mais favoráveis à criação de um jardim e de um “espaço de
silêncio”.
Com ou sem trânsito junto à Senhora da Saúde, em ambas as
propostas de Pedro Machado há alguns elementos comuns: alargamento dos passeios
junto à paragem do eléctrico 28 e do Hotel Mundial, redução do número de vias
de tráfego em toda a praça e intervenção na fachada do Centro Comercial da
Mouraria. “Eu sou sensível às pessoas que têm ali as suas lojas e as suas vidas”,
diz, argumentando no entanto que aquele prédio é um elemento dissonante e não
pode continuar assim. Defende, por isso, uma “pombalinização do edifício”,
conferindo-lhe algumas características próprias do casario tradicional
lisboeta. Nos esboços das propostas, Pedro Machado incluiu uma imaginação de
“como tudo seria diferente” se não existisse o centro comercial.
Dois dias depois de a ter divulgado junto do Fórum Cidadania
Lx (em cuja página de Facebook recebeu sobretudo críticas positivas), Machado
enviou esta quarta-feira as suas propostas ao presidente da câmara, Fernando
Medina. Em Agosto passado, a autarquia encomendou ao arquitecto José Adrião um
“projecto de requalificação dos espaços exteriores da Praça do Martim Moniz”
cujos contornos são ainda desconhecidos.
Em Novembro, aquando da apresentação do mercado com
contentores, o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, garantiu ao PÚBLICO que
esse projecto “vai incidir exclusivamente no lado das Escadinhas da Saúde, na
envolvente da capela, para aumentar a área pedonal e organizar as paragens do
eléctrico, para dar mais conforto às pessoas que utilizam aquela zona”.
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