Átrio norte da estação de metro do Areeiro está fechado há
cinco anos e não se sabe quando reabrirá
Sofia Cristino
Texto
18 Janeiro, 2019
A requalificação da estação começou em 2008 e deveria
terminar em 2011, mas, mais de dez anos depois, a obra está por concluir. Os
comerciantes da zona já perderam a conta do número de datas anunciadas para a
reabertura dos acessos do átrio norte, vedados desde Outubro de 2013. No
passado dia 9 de Janeiro, o ministro do Ambiente garantiu que o concurso
público, para a conclusão da empreitada, será lançado ainda este mês. A empresa
de transportes tem, porém, uma versão algo diferente. A O Corvo, o Metro diz estar
a aguardar pela portaria de extensão de encargos para lançar um novo concurso,
o que deverá acontecer até ao final do primeiro trimestre. Mas não avança
nenhuma data para a reabertura do átrio norte. Quem trabalha junto à estação de
metro acusa a transportadora de deixar as obras ao abandono e sente-se cansado
de esperar. O presidente da Junta de Freguesia do Areeiro acusa o Metro de
Lisboa de não ter “nenhuma consideração” pelas pessoas.
Nos três acessos do átrio norte da estação de metro do
Areeiro, vêem-se sacos de cimento, baldes e restos de materiais de obras, como
se a empreitada tivesse sido abandonada ontem, mas o estado de desleixo já
remonta a Novembro de 2013. A requalificação da estação do Areeiro começou em
2008 e, depois de uma primeira fase, que demorou cerca de cinco anos, o novo
átrio sul da plataforma reabriu, com dois novos acessos à superfície. Mas a
obra de remodelação do átrio norte foi suspensa, até hoje. Os comerciantes da
Praça Sá Carneiro, entre a Avenida João XXI e a Avenida Padre Manuel da
Nóbrega, dizem que já perderam a conta das promessas do Metropolitano de Lisboa
de conclusão das obras. “Já anunciaram o recomeço das obras dezenas de vezes,
mas, como se vê, não fazem nada. Já me disseram que o projecto inicial estava
errado, já falaram em dificuldades financeiras, enfim, acho que gastam o
dinheiro que não têm”, critica Manuel Lopes, 78 anos, há 35 anos a trabalhar na
Geo2000, uma loja de pedras preciosas e minerais.
O estabelecimento comercial fica em frente a uma das saídas
do metro, na Praça Sá Carneiro, e apesar do bloqueio deste acesso não ter
afectado o negócio, o proprietário do espaço e geólogo queixa-se da “falta de
consideração pelas pessoas” por parte da empresa de transportes públicos. “Nem se
dignaram a colocar uma placa informativa com a indicação de que os novos
acessos são do outro lado da praça. Há muita gente a chegar aqui, de comboio e
autocarro, que não conhece a zona, e me pergunta se o metro fechou. Não pedimos
muito, bastava só abrirem as saídas”, diz. Por detrás da vedação dos acessos do
metro – um na Praça do Areeiro e os outros dois na Avenida Padre Manuel da
Nóbrega –, além dos restos de materiais de construção, continua a acumular-se
lixo doméstico, como latas de refrigerante, pacotes de bolachas e até
televisões antigas, conferindo à zona um “mau aspecto”, criticado quem ali
trabalha.
Luís Caiado, 47 anos, gerente da Pastelaria Cinderela, a
funcionar naquela zona da cidade desde 1951, sente-se exausto. “Durante dez
anos, andei a enervar-me, todos os dias. Para quê? Isto é uma vergonha e,
agora, já nem penso nisso, pela minha saúde”, suspira, com a voz cansada. A
pastelaria perdeu muitos clientes, principalmente no período do pequeno-almoço
e ao final da tarde, mas o prejuízo financeiro já deixou de ser a maior
preocupação de Luís Caiado. “Os anos vão passando e, o mais frustrante, é
dizerem que a data de conclusão é ‘este ano’ e nunca cumprem. Além disso, está
tudo abandalhado e deixado ao abandono, é vergonhoso”, lamenta.
Na Praça Sá Carneiro
há, porém, quem não veja nenhum problema na vedação do acesso ao metro do
Areeiro e atribua outras causas ao prejuízo financeiro sentido pelos
comerciantes. Leopoldo Gonçalves, 54 anos, proprietário de uma papelaria, mesmo
em frente a uma das saídas encerradas do metro, acredita que há menos pessoas a
circular na zona por causa do encerramento de alguns serviços básicos, mas
também à diminuição do poder de compra. “A distância deste acesso aos outros é
de meia dúzia de metros, não vejo nenhum problema em mantê-lo fechado. Não é a
abertura das saídas que vai salvar o comércio do Areeiro, ainda há muita
nostalgia de ‘um Areeiro’ que já não existe. Por outro lado, estar a criar mais
recantos pode causar insegurança, nesta zona há muitos assaltos”, alerta.
Até ao próximo dia 21 de Janeiro, o balcão da Segurança
Social, situado na Avenida Afonso Costa, também vai encerrar e ser
deslocalizado para a Avenida 5 de Outubro, situação que deixa o lojista um
pouco mais apreensivo. “A restauração vai sofrer muito, mas é por causa do
fecho dos serviços básicos”, explica. Para Leopoldo Gonçalves, a pior
consequência da paragem da empreitada é a sujidade. “O problema é que vai parar
para ali todo o tipo de lixo. Como é uma zona onde se formam remoinhos, às
vezes, há resíduos pelo ar”, conta o lojista, ali desde 2015. As prioridades da
empresa de transportes relativas aquele infra-estrutura, diz ainda, deveriam
estar relacionadas com a construção de escadas rolantes e de acessos para
pessoas com mobilidade reduzida. “Não há nenhuma acessibilidade, há pessoas com
carrinhos de bebés e com deficiências que, simplesmente, não conseguem utilizar
a estação”, diz.
Na Avenida Padre
Manuel da Nóbrega, onde se encontram os outros dois acessos vedados da estação
de metro do Areeiro, o sentimento é o mesmo. “Agora, as pessoas já não saem
aqui, perdi muitos clientes. Todos precisamos que voltem a abrir”, diz
Ransagar, proprietário de um quiosque. O
Corvo dirigiu-se a outros estabelecimentos comerciais na zona, mas várias
pessoas dizem estar cansadas da situação “vergonhosa” da estação do metro do
Areeiro e não terem mais nada a dizer.
O próprio presidente
da Junta de Freguesia do Areeiro, Fernando Braamcamp (PSD), quando questionado
sobre o atraso na empreitada, partilha esse sentimento. “O que posso dizer
mais? Já estou cansado”, desabafa. Braamcamp diz que a empresa de transportes
não tem tido “nenhuma consideração” pelas pessoas. “É inexplicável que um
serviço que serve milhares de cidadãos se mantenha há mais de dez anos nesta
situação. A postura da administração do Metro é inqualificável. Não há nenhuma
justificação para o que aconteceu, parecemos um país de quarto mundo. Se isto
acontecesse noutro país, a empresa tinha logo sido corrida, havia outras
consequências”, acredita.
O autarca social
democrata conta que teve de ser a própria junta de freguesia a solicitar ao
Metro de Lisboa autorização para limpar os acessos fechados ao público.
“Acumula-se muito lixo. O que dá uma péssima imagem a quem passa e a quem vai à
janela e vê aquela sujidade. Temos de pedir ao Metro para fazermos a limpeza,
uma competência que nem é nossa. Uma vez, demoraram dois meses a concederem-nos
autorização para limpar, é uma vergonha”, critica. O presidente da Junta de
Freguesia do Areeiro recorda ainda que foi a própria Câmara Municipal de Lisboa
(CML) a desmontar o estaleiro de obras, que ficou abandonado durante um ano,
por suspensão da empreitada. Atitude também classificada de “vergonhosa”.
No passado dia 9 de
Janeiro, o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, em entrevista à Rádio
Renascença, reconheceu que “houve um problema” na estação do Areeiro, mas
garantiu que o concurso para a conclusão da empreitada seria lançado este mês.
Já o Metro de Lisboa, em depoimento escrito a O Corvo, não corrobora tal
promessa. O ML diz que está a “aguardar pela portaria de extensão de encargos
para lançar um novo concurso público” – processo habitualmente muito moroso -,
o que espera vir a acontecer no primeiro trimestre deste ano, não avançando uma
data concreta para abertura do átrio norte. A empresa pública justifica ainda o
atraso na conclusão do átrio sul com a “conjuntura económico-financeira
nacional” e “as dificuldades financeiras do empreiteiro”. “A empreitada foi
suspensa até que estivessem reunidas as condições para retomar os trabalhos. Em
consequência, o Metropolitano de Lisboa rescindiu o contrato, em 2015, e
efectuou um novo projecto, que irá agora submeter a concurso público”, avança.
Em Agosto de 2017, o
ML avançou que estaria aberto um concurso público, até ao dia 10 de Agosto
daquele ano, para a remodelação do átrio norte da estação do Areeiro. O
concurso previa a instalação de elevadores, a renovação das paredes, tectos e
pavimentos, a actualização dos sistemas técnicos e a reorganização dos espaços
de apoio à exploração naquela área. Em Abril de 2014, O Corvo já tinha
contactado o metropolitano sobre o mesmo assunto, mas a empresa de transportes
disse apenas que os trabalhos estavam suspensos, desde Novembro de 2013, devido
a um litígio judicial com o empreiteiro, sem avançar qualquer data para o
reinício da obra.
Em Maio de 2015, os
trabalhadores envolvidos nos trabalhos de reabertura dos acessos do metro
disseram a O Corvo que os três acessos que permaneciam fechados desde Outubro
de 2013 – um na Praça do Areeiro e os outros dois na Avenida Padre Manuel da
Nóbrega – deveriam reabrir a 15 desse mês. Segundo os operários da construção
civil, faltaria apenas limpar aquelas saídas do metropolitano. Mas tal intenção
não foi cumprida. Alguns dias depois, o Metro de Lisboa negou publicamente as
informações prestadas pelos trabalhadores. “O Metropolitano de Lisboa
encontra-se a consolidar o projecto de remodelação do átrio norte da estação
Areeiro, prevendo lançar o respectivo procedimento de concurso no decorrer do
presente ano, pelo que a reabertura de acessos em causa apenas será efectuada
após conclusão das obras”, referiu, na altura, a empresa a O Corvo.
Uns meses depois, em
Outubro de 2015, o metro já avançava outras datas. A transportadora garantia ao
Corvo que previa executar a conclusão dos trabalhos no átrio norte ao longo do
ano de 2016. “A Transportes de Lisboa-Metropolitano de Lisboa encontra-se a
consolidar o projecto de remodelação do átrio norte da Estação Areeiro,
prevendo executar a totalidade da obra em 2016”, prometia-se. Nesse momento, o
Metro confirmou ainda que a obra se encontrava suspensa, por incumprimento
contratual, insanável, por parte do empreiteiro. “A empresa está a actualizar o
projecto, face ao que ainda se encontra por executar, bem como a preparar um
novo procedimento concursal, com o objectivo de retomar e concluir as obras
durante o próximo ano”, avançava.
Tais promessas não
foram, porém, até hoje, cumpridas. A justificação para o atraso, dada agora
pelo Metro de Lisboa, prende-se, novamente, com incumprimentos contratuais e
questões financeiras, no mesmo ano em que a empresa de transportes avança com a
construção de duas novas estações de metro – Santos e Estrela – e a ligação da
estação do Rato à do Cais do Sodré, criando-se uma linha circular. O plano de
expansão do metro, anunciado em Maio de 2017, tem sido muito criticado por
especialistas de mobilidade, funcionários do metro, da comissão de utentes e de
todos os partidos políticos, à excepção do PS. Estas obras deverão arrancar,
porém, nos próximos meses, e constituem um dos maiores investimentos da rede de
transportes, nos próximos anos, estando orçadas em cerca de 210 milhões euros.
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