Copos de plástico descartáveis proibidos em Lisboa a partir
de 2020
Venda de bebidas para consumo na rua terá de ser feita de
outra forma. Autarquia diz que há várias soluções e dá um ano aos empresários
da restauração para se adaptarem.
João Pedro Pincha
JOÃO PEDRO PINCHA 10 de Janeiro de 2019, 14:17 actualizado a
10 de Janeiro de 2019, 16:20
A partir de 2020 vai ser proibido vender bebidas em copos de
plástico descartáveis em Lisboa. A câmara municipal, que anunciou a medida esta
quinta-feira, quer aproveitar a realização da Capital Verde Europeia do próximo
ano para incentivar os restaurantes e bares a ter comportamentos mais
ambientalmente responsáveis e que não signifiquem uma dor de cabeça para a
higiene urbana.
A autarquia dá aos empresários “até 31 de Dezembro de 2019
para eliminarem os plásticos descartáveis, nomeadamente os copos, em espaço
público”, disse o vice-presidente, Duarte Cordeiro, vereador responsável pelos
Serviços Urbanos. “Acreditamos que a restauração da cidade está pronta para
este desafio.”
Esta proibição, que não abrange só os copos e aplica-se ao
consumo na rua (onde tradicionalmente se usam os recipientes de plástico), faz
parte de um conjunto mais alargado de medidas que a câmara quer incluir na nova
versão do Regulamento de Gestão de Resíduos, Limpeza e Higiene Urbana. A versão
mais recente desse documento data de 2004 e as alterações vão ser discutidas na
próxima semana.
Duarte Cordeiro assegurou que esta proibição não significa
que passe a ser interdito consumir bebidas alcoólicas em espaço público, como é
reclamado por alguns sectores da cidade (embora por motivos diferentes). A
autarquia não quer “mudar hábito nenhum da cidade”, disse o vice-presidente,
garantindo que ele próprio e o presidente Fernando Medina são adeptos de um bom
copo ao ar livre.
“Existem soluções,
existe capacidade. Muitas vezes não há vontade, mas com esta medida assinalamos
uma vontade política”, afirmou ainda Duarte Cordeiro, dando os exemplos das
Festas de Lisboa, da passagem de ano e do Jardim do Arco do Cego, em que os copos
descartáveis foram substituídos por reutilizáveis. Tal como já acontece em
alguns festivais de Verão e outros eventos, os frequentadores pagam uma caução
pelo copo e, se o devolverem intacto, recebem o dinheiro de volta.
Segundo números obtidos pelo PÚBLICO, durante a festa de
passagem de ano na Praça do Comércio foram entregues mais de 58 mil copos aos
cidadãos e cerca de 10 mil não foram devolvidos.
Os empresários têm agora praticamente um ano para se
adaptarem às novas regras, que entram em vigor no primeiro dia de 2020. Os
espaços não são obrigados a optar por copos de plástico reutilizáveis, podendo
escolher copos de vidro ou limitando a saída de bebidas para a rua. O não
cumprimento desta norma ficará sujeita a coimas entre os 150 e os 1500 euros (pessoa
singular) ou entre os 1000 e 15 mil euros (pessoas colectivas).
Estuário do Douro com mais partículas de plástico do que
larvas de peixes
Estudo do CIIMAR concluiu que para cada larva existem 1,5
partículas de microplásticos no Estuário do Douro. Investigadores alertam que
esta situação é "potencialmente perigosa" para as espécies que lá
coabitam.
P3/LUSA 10 de Janeiro de 2019, 18:11
Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação
Marinha e Ambiental (CIIMAR), no Porto, concluíram que a quantidade de
partículas de plástico existente no estuário do rio Douro é superior ao número
de larvas de peixes que habitam naquele ecossistema.
"Analisámos a quantidade de larvas de peixes [peixe
recém-eclodido] e de microplásticos [partículas com menos de cinco milímetros
resultantes da fragmentação de plástico] ao longo de todo o estuário e o estudo
apontou para um rácio médio de uma larva para 1,5 partículas de
microplásticos", começou por contar à Lusa Sandra Ramos, investigadora do
CIIMAR responsável pela coordenação do artigo, publicado recentemente na
revista Science of the Total Environment.
O estudo, que começou a ser desenvolvido em 2016, teve como
principal objectivo "perceber qual o rácio entre as larvas de peixes e os
microplásticos" existentes no estuário do rio Douro, zona que serve de
"refúgio" a várias espécies marinhas. "Os estuários têm esta
capacidade de maximizar a sobrevivência destes estados de desenvolvimento
bastante vulneráveis e há muitas espécies marinhas que os utilizam como local
de berçário para as larvas ou para os peixes juvenis", explicou.
Segundo a investigadora, sendo a "fase larvar dos
peixes" bastante vulnerável às alterações ambientais e aos efeitos da
acção do ser humano, o surgimento de microplásticos nesta zona do rio é
"potencialmente perigoso" para as espécies que lá coabitam. "Há
alguns problemas associados aos microplásticos. Um deles é a ingestão, isto
porque as espécies podem confundir estas partículas com alimentos, e outro é a
ocupação destes materiais no espaço da coluna de água e a competição entre os
animais por espaço e luz", clarificou.
"Há alguns problemas associados aos microplásticos. Um
deles é a ingestão, isto porque as espécies podem confundir estas partículas
com alimentos, e outro é a ocupação destes materiais no espaço da coluna de
água e a competição entre os animais por espaço e luz."
Sandra Ramos
Assim, ao longo de um ano, a equipa de investigadores do
CIIMAR, através da recolha mensal de amostras, encontrou um total de 2152
partículas de microplásticos e identificou 32 espécies diferentes, o que
representa uma média de "17 partículas de plástico por 100 metros cúbicos
de água", comparativamente às "12 de larvas de peixes por 100 metros
cúbicos".
De acordo com Sandra Ramos, o estudo demonstrou ainda que a
concentração das partículas de plástico é mais "abundante na zona
intermédia" do estuário, ou seja, entre a Ponte da Arrábida e a Ponte do
Freixo, e durante a época das chuvas, quando o caudal do rio é maior, o que
revela que a "fonte de contaminação tem origem a montante".
"Estes dados de concentrações de microplásticos representam problemas não
só para as larvas de peixe, mas também para toda a comunidade e para todas as
zonas que dependem do estuário, neste caso, a zona costeira adjacente",
acrescentou.
Sandra Ramos revelou ainda à Lusa que a equipa do CIIMAR
prevê iniciar um novo estudo, cujo foco vão ser as "fontes de contaminação"
e a análise aprofundada às larvas de peixe, de modo a compreender se os animais
ingerem ou não as partículas de plástico.
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