Bárbara Vara diz não ter estranhado dois milhões do pai na
Suíça
Arguida repetiu o que já tinha dito antes: que confiou no
pai, e que sempre fez o que este lhe indicou, sem o questionar.
Ana Henriques
Ana Henriques 28 de Janeiro de 2019, 19:14
No primeiro dia de instrução da Operação Marquês, a filha de
Armando Vara, Bárbara Vara assegurou não ter estranhado que o pai possuísse
dois milhões de euros em contas bancárias na Suíça – apesar de até 2009
desconhecer este facto. Pensou que vinham de negócios do progenitor, alegou.
Neste processo, Bárbara Vara é acusada de dois crimes de
branqueamento de capitais por, alegadamente, ter ajudado o pai a lavar
dinheiro. Na tese da acusação, quando era administrador da Caixa Geral de
Depósitos, Armando Vara envolveu o banco num negócio ruinoso, relacionado com a
compra e expansão do resort de Vale do Lobo, tendo em troca recebido um milhão
de euros de luvas, através de uma sociedade offshore que lhe pertencia a si e à
filha. Foi para dissimular a proveniência desse dinheiro, assegura a acusação,
que Bárbara Vara trocou a casa onde morava, na Avenida do Brasil, por outra
mais cara na Lapa.
Esta segunda-feira, no Tribunal Central de Instrução
Criminal, a filha de Armando Vara foi uma vez mais confrontada com a ignorância
que manifestou em anteriores interrogatórios sobre os negócios do antigo
governante. E mais uma vez repetiu o que já tinha dito antes: que confiou no
pai, e que sempre fez o que este lhe indicou, sem o questionar. A arguida
chegou a depositar dinheiro numa conta no Dubai, que assegurou acreditar ser
para o pai abrir várias empresas naquele país. Ter-se-á limitado a dar o nome
para a criação de duas sociedades offshore. E não terá relacionado os elevados
montantes depositados nas contas do pai na Suíça com o facto de ele ser
administrador da Caixa Geral de Depósitos.
Bárbara Vara negou conhecer Horta e Costa, alegadamente
também implicado no esquema de Vale do Lobo, ou sequer o milionário holandês
Jerome Van Dooren que nos primeiros meses de 2008 depositou cerca de dois
milhões de euros para uma conta da UBS de Joaquim Barroca, vice-presidente do
grupo Lena. Soma que o Ministério Público suspeita que seria para dividir entre
o ex-primeiro-ministro José Sócrates e Armando Vara, com a cumplicidade do
empresário Carlos Santos Silva – arguido com quem Bárbara Vara disse esta
segunda-feira só se lembrar de ter estado uma vez, na casa dos avós em Vinhais.
Armando Vara também tem vindo a dizer que a filha – cujo
interrogatório durou apenas cerca de hora e meia – é alheia aos crimes que lhe
imputam na Operação Marquês. O antigo governante devia ser ouvido esta
terça-feira no Tribunal Central de Instrução Criminal, mas, como se encontra a
cumprir pena na cadeia de Évora e decorre uma greve de guardas prisionais, o
seu interrogatório foi adiado para 5 de Fevereiro
Portugal abaixo da média europeia na tabela de percepções da
corrupção
Desde 2012 que a variação é mínima, com o país estagnado a
meio do índex da Transparência Internacional. Falta uma estratégia nacional de
combate à corrupção, diz a secção portuguesa desta ONG.
Leonete Botelho
Leonete Botelho 29 de Janeiro de 2019, 6:00
Portugal melhorou um ponto mas baixou um lugar no índex de
percepções da corrupção da Transparência Internacional para 2018. Na média
ponderada dos 13 rankings consultados para a elaboração desde índex, o país
subiu de 63 para 64 pontos, numa escala de zero a 100, em que quanto maior o
número, menor será a corrupção sentida. Ainda assim, baixou do 29.º para o 30.º
lugar, visto que houve outros países que registaram melhorias mais sensíveis.
Esta pequena oscilação revela, portanto, que Portugal
continua estagnado neste combate, mantendo-se dois pontos abaixo da média dos
países da Europa Ocidental (66 pontos), a região mais bem classificada do mundo
neste ranking de 180 países de todo o mundo. A Dinamarca continua a ser o país
que lidera esta tabela, com 88 pontos, seguido pela Nova Zelândia (87), Finlândia,
Singapura, Suécia e Suíça (todos com 85 pontos).
“Desde 2012 que Portugal está parado a meio da tabela
europeia sem progressos reconhecíveis no combate à corrupção”, constata o
presidente da Transparência e Integridade, João Paulo Batalha. Na sua opinião,
“a acumulação de escândalos de falta de ética na vida pública, a inoperância de
uma Comissão para a Transparência no Parlamento que em três anos ainda não
produziu resultados ou as tentativas de controlo político sobre os Conselhos
Superiores da Magistratura e do Ministério Público são a tradução prática de
uma falta de vontade política que é evidente e reconhecida pelos observadores
externos que compõem este índice”.
Para esta avaliação também contribuirá o elevado número de
arquivamentos de processos de corrupção – em 2017, cerca de dois terços destes
processos foram arquivados – e o baixo número de condenações, o que é ainda
mais notório em casos mediáticos.
João Paulo Batalha lamenta que continue a não existir em
Portugal, uma estratégia nacional de combate à corrupção, independentemente da
cor política do Governo. “O facto de o Governo se ocupar em disputas com a OCDE
sobre o impacto da corrupção na economia em vez de levar a cabo uma estratégia
nacional de combate a este flagelo mostra bem que a política vigente continua a
ser a de tentar mascarar a realidade em vez de a enfrentar”, aponta.
Lembrando que este é um ano eleitoral que abrirá um novo
ciclo político no país, João Paulo Batalha defende que o combate à corrupção
deve estar “no centro da discussão política e que todos os candidatos” às
eleições europeias, regionais da Madeira e legislativas se devem comprometer
com “reformas claras e específicas de combate à corrupção”.
“Portugal não será imune à degradação das democracias que se
verifica a nível global se não agir para preservar as suas instituições. O
debate é inadiável e não podemos desperdiçar mais oportunidades para o assumir
de frente”, declara.
Democracia e corrupção: relações perigosas
A relação entre corrupção e democracia é evidente neste
índex, como salienta a presidente da Transparência Internacional, Delia
Ferreira Rubio, na nota informativa que acompanha o trabalho. “A nossa pesquisa
mostra uma relação clara entre a qualidade da democracia e a capacidade de
combater com sucesso a corrupção no sector público: a corrupção espalha-se
muito mais facilmente onde as instituições democráticas são fracas, como temos
visto em vários países onde políticos populistas e anti-democráticos a usam
como tema para tirarem vantagem pessoal e política”, afirma.
Os resultados globais deste ranking mostram, segundo a TI, o
impacto nocivo que a corrupção está a ter na qualidade das democracias em todo
o mundo. Mais de dois terços dos 180 países analisados têm uma pontuação
inferior a 50, com uma média global de apenas 43 pontos. Abaixo dessa média
estão países como a Turquia (41 pontos), China (39), Brasil e Timor-Leste (35
pontos cada), Rússia (28), Moçambique (23), Angola (19), Venezuela (18), Guiné
Equatorial e Guiné-Bissau (16 cada).
Para a elaboração deste índex são tidos em conta 13 outros
barómetros globais e regionais, de 12 instituições diferentes que captam
percepções de corrupção nos últimos dois anos, como o Varieties of Democracy
(V-Dem), Freedom House Nations in Transit, Economist Intelligence Unit Country
Risk Service, relatórios do Banco Mundial, do Banco de Desenvolvimento
Africano, do Fórum Económico Mundial, do Political Risk Services Group, do
World Justice Project Rule of Law Index ou da fundação germânica Bertelsmann,
entre outros. Para que um país ou território seja incluído neste índex, tem de
existir um mínimo de três fontes a avaliar esse país. A pontuação de um país é
calculada como a média de todas as pontuações padronizadas disponíveis para
esse país, arredondada para números inteiros.
Para que o combate à corrupção possa “fazer progressos
reais, contribuindo para fortalecer as democracias em todo o mundo”, a
Transparência Internacional apela a todos os governos que fortaleçam as
instituições responsáveis por garantir um sistema de integridade assente em
freios e contrapesos ao poder político que funcionem de forma livre e sem
intimidações e dêem passos concretos para aproximar os compromissos de combate
à corrupção da sua efectiva implementação.
Apela ainda aos Estados que apoiem as organizações da
sociedade civil que trabalham para a mobilização cívica e participação política
dos cidadãos, assim como assegurem a existência de uma imprensa livre e dêem
condições para que os jornalistas trabalhem em segurança, sem qualquer forma de
intimidação ou perseguição.
tp.ocilbup@ohletobl
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