segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Ninguém venceu o único debate das legislativas alemãs


Ninguém venceu o único debate das legislativas alemãs

Por Catarina Falcão
publicado em 3 Set 2013 in (jornal) i online

Steinbrück teve um desempenho acima do esperado pelos eleitores, mas Merkel continua a ser a preferida dos alemães
Peer Steinbrück, candidato social-democrata às eleições alemãs, dispunha de 90 minutos para combater a vantagem que Angela Merkel leva nas sondagens. Não conseguiu. A chanceler teve resposta pronta para todas as críticas à sua governação e à sua actuação no plano europeu - incluindo a aplicação dos programas de austeridade em vários países -, continuando a ser a figura que, mesmo no plano pessoal, mais agrada aos alemães.

O ponto quente - num debate considerado frio pelos analistas e em que não houve um vencedor claro - deste frente-a-frente foi a intervenção da Alemanha na política europeia e a influência de Merkel na estratégia de austeridade aplicada aos países com maiores dificuldades na União Europeia.

"Na crise, eu teria seguido uma estratégia diferente. É claro que deve haver consolidação orçamental nestes países, mas não uma dose mortal", afirmou Peer Steinbrück, defendendo um plano Marshall para a recuperação da Europa, lembrando que após a Segunda Guerra Mundial a Alemanha também precisou de ajuda e "não deve esquecer". A crítica pareceu estranha a Angela Merkel, já que, segundo a chanceler, os sociais-democratas aprovaram todas as medidas relacionadas com a gestão da crise europeia no Bundestag (parlamento alemão), incluindo o polémico Tratado Orçamental. Tal como os sociais-democratas defendem, Merkel diz também acreditar na solidariedade no espaço europeu, mas aponta que a essa solidariedade se deve associar a responsabilidade pelos respectivos orçamentos e dívidas.

Quanto à situação mais preocupante vivida na Grécia, Steinbrück acusou Merkel de não saber quanto é que o próximo resgate anunciado pelo seu governo poderá vir a custar, ao que Merkel respondeu ser difícil prever como é que a Grécia irá evoluir nos próximos meses. O social-democrata acabou por perder pontos quando a pergunta lhe foi redireccionada e ele admitiu ser "impossível" prever uma quantia.

TUDO NA MESMA O debate de domingo foi moderado por quatro apresentadores de talk shows (provenientes de diferentes canais de televisão) e visto por cerca de 15 milhões de pessoas, mas não deverá ter grande impacto nas actuais contas das eleições germânicas. A vantagem de 16% que Merkel leva nas sondagens - actualmente a chanceler conta com 39% das intenções de voto, enquanto o SPD de Steinbrück se fica pelos 23%, segundo a sondagem da "Der Spiegel" - não parece ter-se esbatido, com apenas 10% dos telespectadores a considerarem mudar o sentido de voto devido a este frente-a-frente.

Mesmo com um desempenho acima do esperado, esta benesse pode já não vir a tempo para o social-democrata, que tem apenas três semanas para ganhar vantagem sobre a rival.

Angela Merkel apenas aceitou fazer um debate com o seu oponente e antigo ministro das Finanças, uma movimentação que vem reforçando o seu posicionamento nos últimos meses face a Steinbrück: ignorá-lo é o melhor remédio. Apesar de a opinião pública em geral considerar que Steinbrück tem um vasto domínio das questões técnicas e até teve um desempenho acima do esperado neste debate, a personalidade de Merkel continua a ser preferida pelos eleitores e por isso agir com normalidade tem sido a estratégia da chanceler.

A chanceler está tão à vontade no seu papel que assumiu no domingo que nos últimos quatro anos o seu governo tem vindo a fazer um trabalho "sensacional", com o país a manter-se numa rota de crescimento apesar de estar inserido num bloco em profunda crise. Factos difíceis de contradizer por Steinbrück, que ainda tentou, sem sucesso, alguns ataques como a questão do aumento do salário mínimo, a crise de natalidade no país e a espionagem americana dos dados informáticos dos alemães. Neste tema, Merkel tremeu, mas não caiu, dando espaço a Steinbrück para acusar o governo alemão de não tomar medidas eficazes contra os ataques à privacidade dos seus cidadãos.


Quanto à situação na Síria, Merkel admitiu que foi cometido um "crime terrível", mas garantiu que a Alemanha só agirá sob o mandato das Nações Unidas. A chanceler revelou que no próximo encontro do G20 terá reuniões bilaterais com a China e com a Rússia para procurar uma resposta colectiva. Também Stein-brück garantiu que não se envolveria num ataque unilateral.

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