Ninguém venceu o único debate das legislativas alemãs
Por Catarina Falcão
publicado em 3 Set 2013 in (jornal) i online
Steinbrück teve um desempenho acima do esperado pelos
eleitores, mas Merkel continua a ser a preferida dos alemães
Peer Steinbrück, candidato social-democrata às eleições
alemãs, dispunha de 90 minutos para combater a vantagem que Angela Merkel leva
nas sondagens. Não conseguiu. A chanceler teve resposta pronta para todas as
críticas à sua governação e à sua actuação no plano europeu - incluindo a
aplicação dos programas de austeridade em vários países -, continuando a ser a
figura que, mesmo no plano pessoal, mais agrada aos alemães.
O ponto quente - num debate considerado frio pelos analistas
e em que não houve um vencedor claro - deste frente-a-frente foi a intervenção
da Alemanha na política europeia e a influência de Merkel na estratégia de
austeridade aplicada aos países com maiores dificuldades na União Europeia.
"Na crise, eu teria seguido uma estratégia diferente. É
claro que deve haver consolidação orçamental nestes países, mas não uma dose
mortal", afirmou Peer Steinbrück, defendendo um plano Marshall para a
recuperação da Europa, lembrando que após a Segunda Guerra Mundial a Alemanha
também precisou de ajuda e "não deve esquecer". A crítica pareceu
estranha a Angela Merkel, já que, segundo a chanceler, os sociais-democratas
aprovaram todas as medidas relacionadas com a gestão da crise europeia no
Bundestag (parlamento alemão), incluindo o polémico Tratado Orçamental. Tal
como os sociais-democratas defendem, Merkel diz também acreditar na
solidariedade no espaço europeu, mas aponta que a essa solidariedade se deve
associar a responsabilidade pelos respectivos orçamentos e dívidas.
Quanto à situação mais preocupante vivida na Grécia,
Steinbrück acusou Merkel de não saber quanto é que o próximo resgate anunciado
pelo seu governo poderá vir a custar, ao que Merkel respondeu ser difícil
prever como é que a Grécia irá evoluir nos próximos meses. O social-democrata
acabou por perder pontos quando a pergunta lhe foi redireccionada e ele admitiu
ser "impossível" prever uma quantia.
TUDO NA MESMA O debate de domingo foi moderado por quatro
apresentadores de talk shows (provenientes de diferentes canais de televisão) e
visto por cerca de 15 milhões de pessoas, mas não deverá ter grande impacto nas
actuais contas das eleições germânicas. A vantagem de 16% que Merkel leva nas
sondagens - actualmente a chanceler conta com 39% das intenções de voto,
enquanto o SPD de Steinbrück se fica pelos 23%, segundo a sondagem da "Der
Spiegel" - não parece ter-se esbatido, com apenas 10% dos telespectadores
a considerarem mudar o sentido de voto devido a este frente-a-frente.
Mesmo com um desempenho acima do esperado, esta benesse pode
já não vir a tempo para o social-democrata, que tem apenas três semanas para
ganhar vantagem sobre a rival.
Angela Merkel apenas aceitou fazer um debate com o seu
oponente e antigo ministro das Finanças, uma movimentação que vem reforçando o
seu posicionamento nos últimos meses face a Steinbrück: ignorá-lo é o melhor
remédio. Apesar de a opinião pública em geral considerar que Steinbrück tem um
vasto domínio das questões técnicas e até teve um desempenho acima do esperado
neste debate, a personalidade de Merkel continua a ser preferida pelos
eleitores e por isso agir com normalidade tem sido a estratégia da chanceler.
A chanceler está tão à vontade no seu papel que assumiu no
domingo que nos últimos quatro anos o seu governo tem vindo a fazer um trabalho
"sensacional", com o país a manter-se numa rota de crescimento apesar
de estar inserido num bloco em profunda crise. Factos difíceis de contradizer
por Steinbrück, que ainda tentou, sem sucesso, alguns ataques como a questão do
aumento do salário mínimo, a crise de natalidade no país e a espionagem
americana dos dados informáticos dos alemães. Neste tema, Merkel tremeu, mas
não caiu, dando espaço a Steinbrück para acusar o governo alemão de não tomar
medidas eficazes contra os ataques à privacidade dos seus cidadãos.
Quanto à situação na Síria, Merkel admitiu que foi cometido
um "crime terrível", mas garantiu que a Alemanha só agirá sob o
mandato das Nações Unidas. A chanceler revelou que no próximo encontro do G20
terá reuniões bilaterais com a China e com a Rússia para procurar uma resposta
colectiva. Também Stein-brück garantiu que não se envolveria num ataque
unilateral.
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