O VoodoCorvo dedica a sua quase exclusiva atenção às Eleições Alemãs e à sua importância para o Futuro da Europa.
A ùnica exepção reside na indispensável atenção dada ao relatório do IPCC (a ser publicado esta semana) e às questões fundamentais, incontornáveis e preocupantes das Alterações Climáticas e do Aquecimento Global, e aos seus efeitos no desenvolvimento Futuro da vida no Planeta.
António Sérgio Rosa de Carvalho
As eleições alemãs e o futuro da Europa
Editorial / PúblicoA Alemanha tem de saber, agora, depois de todas as resistências, ajudar a resolver a crise do euro
Ninguém diria que uma campanha que no essencial foi
morna e aborrecida (exceptuando talvez o gesto impróprio mas muito mediático de
Steinbrück) se animasse, ontem, com a perspectiva de maiores dúvidas quanto ao
resultado: um terço de alemães indecisos quanto ao voto, a apenas um dia das
eleições, pode significar que, sendo Merkel reeleita, não o será no formato da
coligação actual, a da CDU com o Partido Liberal Democrata, o FDP. E isso, a
suceder, poderá abrir a porta a uma outra aliança, que Merkel não deseja, mas a
que se poderá ver forçada pela votação: com os sociais-democratas do SPD de
Steinbrück, que, depois de uma campanha desastrada, sobretudo devido às gaffes
do seu líder, poderão ter um resultado aquém do que historicamente poderiam
reivindicar. Esta solução, a da coligação CDU-SPD (que, aliás, já existiu
durante o primeiro mandato de Merkel), é aquela que, pelos vistos, mais
agradaria a muitos observadores europeus, sobretudo àqueles que imaginam que o
SPD poderia de algum modo "suavizar" as posições mais renitentes da chanceler
face à crise do euro e às receitas de austeridade. Tudo isto, porém, serão
contas a fazer depois de conhecidos os resultados da votação de hoje, onde os
alemães deverão renovar a sua confiança em Merkel para continuar à frente dos
destinos do país, mas, ao mesmo tempo, e isso dependerá das variações dos votos
nos restantes partidos, poderão forçá-la a seguir por diferentes caminhos, sem
que nenhuma ruptura se afigure no horizonte. A Alemanha de hoje, que assenta
grande parte do seu sucesso nas exportações (o ponto forte da sua economia) em
combinação com regras laborais flexíveis (há muitos salários baixos e não existe
salário mínimo, mas ao mesmo tempo o sistema de apoio social é bastante sólido e
o índice de desemprego é o mais baixo de toda a Europa, 5,3%), tem um lugar
preponderante na economia europeia que tentará manter a todo o custo. Mas isso
implica que a Alemanha veja com outros olhos os seus parceiros económicos na
zona euro e o papel que eles representam na manutenção de tal status. Não é por
acaso que, num artigo saído na imprensa internacional (e que o PÚBLICO também
publica hoje, ver pág. 52), o presidente do Comité Económico e Social Europeu,
Henri Malosse, em carta aberta ao futuro chanceler (que deverá ser a actual),
diz: "O que farão as vossas empresas quando os espanhóis, os gregos, os lituanos
e os portugueses já não puderem cumprir o seu papel de parceiros económicos?" E
isto quer dizer apenas uma coisa: a Alemanha tem de saber, agora, depois de
todas as pressões e resistências, contribuir para a resolução da crise do euro.
No seu discurso de ontem Merkel fez uma defesa forte da Europa e do euro,
associando ao futuro da Alemanha a saúde da moeda única. Com adversários do euro
a tomarem posições na meta eleitoral, Merkel não terá segunda oportunidade para
dar caminho útil às suas palavras. A Europa depende disso.
A potência relutante
Está em causa o papel da Europa no mundo. A Alemanha não poderá ficar fora. O
que pensa Merkel disso é ainda uma incógnita
1. Em Novembro de 2011, de visita a Berlim, o chefe
da diplomacia polaca, Radek Sikorski, disse uma frase da qual toda a gente ainda
se lembra: "Tenho menos medo do poder alemão do que o medo que começo a sentir
da inacção da Alemanha." Para um polaco não foi coisa pouca. O ministro
referia-se à crise do euro e às hesitações da chanceler. Nessa altura, a Europa
começava a admitir algo de impensável: que o euro e, com ele, a Europa poderiam
não sobreviver à crise. Já muita coisa aconteceu depois disso. Angela Merkel
quer salvar o euro, porque entende que é esse o interesse alemão, mesmo que seja
estritamente à sua maneira e que a parada ainda não esteja ganha. Mas a questão
da liderança alemã continua a ser debatida, pelo menos fora das suas fronteiras.
"A potência hegemónica relutante" é como os anglo-saxónicos lhe gostam de
chamar. "Os apelos à Alemanha para que se envolva mais na gestão dos problemas
internacionais, nas ameaças e nos conflitos tem muito pouco eco dentro de
portas", escreve Ulrike Guérot, do European Council on Foreign Relations de
Berlim. "Para uma maioria de alemães o ideal seria que a Alemanha se comportasse
como uma grande Suíça." Ou como uma "potência emergente". A Alemanha colocou
todo o seu peso na conquista de um lugar não permanente no Conselho de Segurança
da ONU em 2011-2012. Foi uma maneira de dizer que se acha com direito a um lugar
permanente, como de resto outros países como o Brasil ou a Índia. O problema é
que causou a consternação geral entre os aliados quando, em Março de 2011,
resolveu abster-se na votação da intervenção militar na Líbia. Os alemães
gostaram. Como gostaram, mais recentemente, que a chanceler se tenha distanciado
da intervenção francesa no Mali (para evitar um banho de sangue em Bamaco),
limitando-se a "alugar" à França dois aviões de transporte.
Se fosse precisa outra prova da "relutância" alemã, ela foi dada em 2011 pelo
episódio que levou à demissão do Presidente federal, Horst Kohler. Numa visita
ao Afeganistão, Kohler tentou lançar o debate sobre a responsabilidade da
Alemanha pela estabilidade mundial. O que disse estava no domínio do óbvio: que
era importante a participação da Alemanha na operação da NATO ao largo da
Somália para combater a pirataria marítima, porque era preciso proteger as rotas
do comércio, cruciais para a economia alemã. As suas declarações provocaram uma
tal polémica em Berlim, que teve de se demitir. Amigo de Merkel, não teve uma
palavra dela para o defender. É preciso compreender que "a Alemanha habituou-se desde a fundação da RFA (1949) a evitar um debate estratégico autónomo", diz Guérot. Mudar de cultura não é fácil.
2. A Alemanha está no Afeganistão, mas as regras a que as suas tropas são sujeitas tornam-nas de pouca utilidade. Participou, ainda no tempo de Schroeder, em várias das missões da NATO e da União nos Balcãs. Mas continua com pouca vontade de assumir as suas responsabilidades numa política externa e de segurança da Europa digna desse nome. "A Alemanha é o maior problema para uma política de segurança e defesa europeia", diz Charles Grant, o director do Center for European Reform de Londres. "Ou segue o seu interesse nacional, ou mantém-se neutral." Os alemães não se importam de serem visto como um "país de mercantilistas", diz Guérot. "Quando, em Paris ou em Londres, se debate estratégia, em Berlim discutem-se negócios."
A investigadora alemã tem duas explicações para esta relutância da Alemanha. A primeira, que toda a gente reconhece, está no passado recente. Os alemães habituaram-se a cultivar uma cultura pacifista que agora têm dificuldade em abandonar. Este é o lado positivo do problema, quando o seu poder económico e político sobre a Europa é enorme. A segunda razão tem a ver com o hábito de confiar nos Estados Unidos para a sua segurança. Um hábito que valeu durante a Guerra Fria, mas que hoje já ninguém pode dar como adquirido. O "pivô" americano em direcção ao Pacífico é uma realidade incontornável. Deixará um vazio estratégico enorme numa Europa que viveu as últimas décadas do século passado contando com a protecção americana.
3.Está em causa o papel da Europa no mundo. A Alemanha não poderá ficar fora. O que pensa Angela Merkel sobre isso é ainda uma incógnita. Sabe-se o que fez quando substituiu Schroeder na Chancelaria. Tentou remediar os estragos da guerra do Iraque. Distanciou-se de Moscovo e aproximou-se de Varsóvia. Valorizou os direitos humanos em cada visita à China. A crise apagou tudo isto. Ainda tem hoje uma relação ambígua com Obama, embora o Presidente a veja como o seu principal interlocutor do lado de cá do Atlântico e não tenha poupado esforços para a seduzir. Deixou a França e o Reino Unido sozinhos na Líbia ou na Síria (o que lhe dá uma enorme popularidade entre os alemães) sem aviso prévio.
Judy Dempsy, num longo artigo publicado no site do Carnegie Endowment ("O trabalho inacabado de Merkel: por que é que a Alemanha precisa de agir estrategicamente"), considera que a chanceler se depara com um vasto conjunto de desafios sobre os quais ninguém sabe ainda exactamente o que pensa. O papel da Alemanha na política externa e de defesa europeia é um deles. Mas há outros igualmente fundamentais. Que Europa quer no futuro? Mais integrada e mais comunitária, com o reforço das instituições europeias? Ou mais intergovernamental, com o poder nas mãos dos Estados? A tradição alemã era a primeira. Wolfgang Schäuble, que é o verdadeiro herdeiro de Kohl, chegou a dar alguns sinais de que o caminho seria mais integração política, com a sua ideia de um Tesouro europeu ou de um presidente da Comissão eleito directamente. Merkel não parece interessada em ir por aí. Já abdicou da ideia de rever o tratado para ir ao encontro da posição da França. A forma como dirigiu a resposta à crise europeia ajudou a minar a autoridade da Comissão. Não quer ver, de maneira nenhuma, o Reino Unido a ir-se embora. "A Alemanha não quer ficar sozinha numa Europa dominada pelo Mediterrâneo", diz Hans Stark, do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI). Deixou de falar em "método comunitário" para passar a preferir o "método europeu". O próximo ano poderá ser de alguma definição. Há eleições para o Parlamento Europeu, com as grandes famílias políticas a defenderem que cada uma deve ter o seu candidato a presidente da Comissão. A ideia não lhe agrada. Será necessário substituir os presidentes da Comissão e do Conselho Europeu e também a alta- representante para a política externa e de segurança. Os actuais ocupantes dos cargos foram escolhidos antes da sua chegada ao poder com base na sua relativa fraqueza. Ver-se-á para que lado cai a chanceler. Mas o seu desafio maior é encontrar um entendimento com Paris. Por maiores que sejam as divergências sobre quase tudo, Merkel percebe que abandonar a França lhe traria um custo político incalculável. E, claro, a crise do euro ainda não está resolvida. Nada garante que não regressará em força depois deste interregno mais tranquilo graças à intervenção decisiva do BCE e do seu presidente.
Haverá enormes expectativas em toda a Europa sobre o seu terceiro mandato. Os analistas alemães aconselham a baixá-las. A Alemanha não mudará radicalmente na gestão da crise do euro e não terá grande pressa em contribuir para uma visão estratégica europeia adequada ao mundo que está a emergir. Claro que nada disto foi discutido na campanha eleitoral.
Jornalista. Escreve ao domingo
We Germans don't want a German Europe
Germany has no taste for shaping others in its image – but
we want a European Union that can compete
Wolfgang Schäuble
The Guardian, Friday 19 July 2013 / http://www.theguardian.com/commentisfree/2013/jul/19/we-germans-dont-want-german-europe
Where do we in Europe stand today? Three years after the
start of the first assistance programme for Greece, and about three months
after we agreed on a programme for Cyprus, the picture is mixed. On the plus
side, there are many encouraging signs from the crisis-hit countries in the
eurozone. Labour markets and social security systems are being reformed; public
administration, legal structures and tax regimes are being modernised. These
efforts are already bearing fruit. There is more competitiveness. Economic
imbalances are shrinking. Investor confidence is returning.
Institutional improvements in Europe have increased the
likelihood of sound budgets in future years. We have introduced more binding
fiscal rules, brakes on national debt and a robust crisis-resolution mechanism
that gives us time to pursue the necessary reforms. The next step is the
banking union, which will further reduce risk, both for the financial sector
itself and for taxpayers. Our efforts to regulate financial markets will ensure
that those who make high-risk investment decisions are liable for any ensuing
losses. In other words, we are restoring the link between opportunity and risk.
But there is also a negative side. There is widespread
uncertainty among people in our countries. Young people in parts of Europe face
a dearth of opportunity. People are losing their jobs because their country is
undergoing a profound economic transition. And too often public discourse about
the crisis is dominated by mutual recriminations and populist commentary.
National clichés and prejudices, which we believed to be long overcome, are rearing
their ugly heads again.
This debate is full of contradictions, not least where
Germany's role in tackling the crisis is concerned. There is little consensus
in Europe, either about what Germany is doing or about what it should be doing.
Some commentators even claim that the notorious "German question" is
back. It has been said that Germany is "too strong" to fit in, but
also that it is "too weak" to lead the continent. Germany has been
simultaneously accused of wanting to reshape Europe in its own image and of
refusing to show any leadership. And even those calling for more German
leadership seem to be doing so for contradictory reasons. Some want Germany to
drop its resistance to debt-financed stimuli, claiming that this would help us
to overcome the crisis. Others want even more fiscal solidity in exchange for
Germany's solidarity.
The views on Germany's actual policies are no less
contradictory. For example, voices outside the country have called for Germany
to relax its "draconian" austerity policies while, in Germany, the
government has been accused of not saving nearly enough, or even at all. As is
so often the case, the truth is somewhere in between. We are working to achieve
a reasonable degree of consolidation, to build confidence and thus to lay the
foundations for sustainable growth in Germany and in Europe as a whole.
The idea that Europe should be – or even can be – led by a
single country is wide of the mark. Germany's restraint does not just reflect
the burden of its history. The truth is that the unique political structure
that is Europe does not lend itself to a leader–follower dynamic. Europe
signifies the equal coexistence of its member states. At the same time,
however, Germany does feel a special responsibility towards the mutually agreed
strategy for resolving the crisis in the eurozone. We are taking on this
leadership responsibility in a spirit of partnership, especially with our
French friends. Like the other countries in the eurozone, both big and small,
we know how fundamentally important it is to co-ordinate our efforts closely if
we want to overcome the crisis.
From the very beginning of the crisis we Europeans have
pursued a joint strategy. This strategy aims to achieve the overdue
consolidation of public budgets. But even more, it aims to overcome economic
imbalances by improving the competitiveness of all eurozone countries. This is
why the adjustment plans for countries that are receiving financial support
call for fundamental structural reforms that aim to put them back on track
towards long-term growth and thus secure sustainable prosperity for all. Sound
public finances create confidence.
But sound public finances are not enough to ensure
sustainable growth. In addition, we need to reform and modernise our labour
markets, our welfare state, and our legal and tax systems. We have to make sure
that all citizens of Europe enjoy working and living conditions that are not
based on artificial growth bubbles.
These reforms will not take effect overnight. We Germans
know this better than anyone. Ten years ago Germany was the "sick man of
Europe". We had to tread a long and painful path to become today's engine
of growth and anchor of stability in Europe. We too had extremely high levels
of unemployment, even long after we started to adopt urgently necessary
reforms. But without these reforms there can be no sustainable growth. Stimulus
programmes based on even more government debt will only shift higher burdens on
to our children and grandchildren, and will have no lasting benefits.
To create new jobs in Europe, we need businesses that offer
innovative and attractive products that people want to buy. European companies
can do this only if governments create the right conditions to help companies
to achieve success in our increasingly globalised world. That applies not just
to German businesses, but to French, British, Polish, Italian, Spanish, Portuguese
and Greek companies as well.
The idea that Germans want to play a special role in Europe
is a misunderstanding. We do not want a German Europe. We are not asking others
to be like us. This accusation makes no more sense than the national
stereotypes that lurk behind such statements. The Germans are joyless
capitalists infused with the Protestant work ethic? In fact, some economically
successful German regions are traditionally Catholic. The Italians are all
about dolce far niente (delicious idleness)? The industrial regions in northern
Italy would not be the only ones to bristle at that. All of northern Europe is
market-driven? The Nordic welfare states, with their emphasis on social
solidarity and income redistribution, certainly do not fit this caricature.
Those who nurture such stereotypes should look at recent
surveys that show a clear majority of people – not just in northern Europe, but
also in the south – in favour of combating the crisis through reforms, public
spending cuts and debt reduction.
The Germans themselves are the last people who would want to
put up with a German Europe. We want to put Germany at the service of the
European community's economic recovery – without weakening Germany itself. That
would not be in anybody's interests. We want a Europe that is strong and
competitive, a Europe where we plan our budgets sensibly, and where we do not
pile up more and more debt.
The key task is to create conditions that are conducive to
successful economic activity, in the context of global competition and
demographic trends that pose a challenge for the whole of Europe. None of these
things are German ideas. They are the tenets of forward-looking policies.
Sound fiscal policies and a good economic environment are
the only ways to gain the confidence of investors, businesses and consumers and
thus achieve sustainable growth. All international studies confirm this, as do
the European Central Bank, the European commission, the OECD and the
International Monetary Fund – organisations headed, incidentally, by an
Italian, a Portuguese, a Mexican and a Frenchwoman respectively.
And the policies of European governments are geared towards
these objectives. Those European countries currently grappling with complex
adjustment processes deserve our highest appreciation for the way they are
reforming their labour markets and social security systems, modernising their
administrative structures, legal systems and tax systems, and consolidating
their budgets. We should have the deepest respect for the efforts they are
making. Our reward – everyone's reward – will be a strong and competitive
Europe.
Na recta final, o resultado das eleições de hoje está em aberto - espera-se que Angela Merkel se mantenha no cargo, mas quem governará a Alemanha com a chanceler?
Ontem, a chanceler alemã adoptou um tom que não é o seu normal para tentar responder aos dois principais desafios que está a enfrentar hoje. O primeiro é o partido Alternativa para a Alemanha, fundado em Fevereiro deste ano, que é a voz contra os resgates aos países em crise e defende a dissolução da moeda única; o segundo é a posição do seu actual aliado de coligação, o Partido Liberal Democrata (FDP).
Defesa forte da Europa
No comício em Berlim, Merkel fez uma forte defesa da Europa e do euro, ligando a saúde da moeda única à prosperidade da Alemanha e, directamente, aos postos de trabalho no país. Também falou de uma questão que provoca indignação na Alemanha, os protestos contra a chanceler nos países em crise: "Perguntam-me o que sinto quando vou à Grécia ou a Portugal e as pessoas se manifestam contra mim. E eu digo: "Fico contente, porque esse foi um direito que eu não tive durante muitos anos [Merkel viveu na antiga República Democrática da Alemanha, RDA]. E fico feliz por vivermos com liberdade de opinião.""
Em relação ao segundo desafio, a CDU teme que alguns dos seus, antecipando um cenário de grande coligação com os sociais-democratas (centro-esquerda), se decidam por um voto táctico nos liberais.
Na Alemanha há dois votos: o primeiro é dado directamente ao candidato pelo círculo eleitoral (sendo eleito o que mais votos tem em cada um dos 299 círculos) e o segundo é para o partido, e dita a força da sua representação parlamentar (para evitar muitos mandatos a mais, caso haja grande diferença entre o primeiro e o segundo, este ano será pela primeira vez posto em prática um sistema para os "equilibrar"). Os liberais têm apelado ao segundo voto dos eleitores democratas-cristãos, evocando a possibilidade de não conseguirem chegar aos 5% necessários para ter representação parlamentar. No comício, Merkel alertou contra esta ideia: "Peço-vos, pessoalmente, que usem o vosso segundo voto para assegurar que posso continuar a ser a vossa chanceler."
Desmobilização assimétrica
Há quem diga que Angela Merkel teve uma estratégia de "desmobilização" do eleitorado e esta poderá agora funcionar contra si. Daniel Lede Abal, deputado dos Verdes no parlamento do estado federado de Baden-Würtemberg, defendeu esta teoria, numa entrevista por Skype: "Com esta estratégia a CDU talvez perca eleitores, mas os outros partidos pedem mais." Lede Abal acusa a chanceler de ter "adormecido" todas as questões - e não deixa de apontar responsabilidades à oposição que não conseguiu "encontrar questões que mobilizassem o eleitorado".
A revista Economist partilha de uma opinião semelhante, mencionando que a flexibilidade de Merkel (em questões internas, ao contrário da percepção de intransigência na União Europeia com o seu martelar na austeridade) e a sua mestria em apropriar-se de temas da oposição é essencial para a "desmobilização assimétrica", que afectará assim mais os outros partidos do que o seu.
A participação eleitoral já vinha a cair na Alemanha: de 79% em 2002 para 77,6% em 2005, até 70,7% em 2009.
Para contrariar a tendência, há anúncios a apelar ao voto (no metro, um deles mostra vários eleitores com cartazes a explicar porque votam. "Porque posso", diz um).
Uma iniciativa com sucesso foi o Wahl-o-Mat, um questionário com 38 perguntas sobre educação, saúde ou ambiente, que cruza as respostas dadas com os programas dos partidos (e ainda pergunta ao utilizador quais destes temas são os mais importantes para si). Depois dá uma indicação - que, sublinha, não é uma proposta de voto - dos partidos com que mais se identificam as respostas.
Nem sempre coincide com as convicções das pessoas - "A mim deu-me Verdes", diz uma rapariga numa conversa no comboio torcendo o nariz; parece que preferia a CDU -, mas tem dado motivo para discussão, que é o que era pretendido.
O próximo Governo enfrenta uma série de desafios, desde externos (a crise do euro está longe de ter terminado, com antecipação de novos empréstimos a Grécia e a possibilidade a ser cada vez mais colocada no caso de Portugal, a discussão sobre a união bancária continua) a internos (o aumento dos custos da energia associados ao fim faseado da produção de energia nuclear no país, o aumento do número de reformados e a baixa natalidade a fazerem o país precisar de mais trabalhadores).
À saída do comício de Angela Merkel, os seus apoiantes mostravam-se confiantes em mais quatro anos de segurança. "Ela preocupa-se com as pessoas", dizia Birgit, bibliotecária e apoiante da CDU "há mais de 20 anos" (era da Alemanha de Leste). Quanto ao futuro, "primeiro tem de tratar da crise do euro", diz, "e depois pode tratar de algumas questões internas que ainda é preciso, como a desigualdade dos salários e das reformas entre Leste e Oeste que ainda existe".
Já Ruth e Dieter Hermann costumavam votar no SPD, mas desta vez vão votar CDU. "Merkel é esperta, analisa tudo antes de seguir em frente - é cientista", comentam. "Transmite confiança."
Cautelosa Mutti
Esta será a chave do seu sucesso. A chanceler tem uma grande popularidade, mas atrai mais simpatia comedida do que entusiasmo arrebatado - o seu principal rival, Peer Steinbrück, tinha-a retratado na véspera como uma condutora cautelosa que anda sempre à volta da rotunda sem se atrever a escolher a direcção a tomar.
Isso tem funcionado a seu favor. A cautela acaba por ser vista como um seguro contra imprevisibilidade, e tornou-se o traço forte de Merkel. E ela transformou-se numa figura tão forte que a CDU nem precisa de muitas propostas: o programa do partido é Merkel, a Mutti (mamã) que assegura aos alemães que tudo será bem tratado, que o país está em boas mãos - mãos sem grandes entusiasmos, seguras.
Analysis: Southern Europe awaits German election in fear,
hope
É quase certo que Merkel ganhe, mas falta saber com quem governará
Na recta final, o resultado das eleições de hoje está em aberto - espera-se que Angela Merkel se mantenha no cargo, mas quem governará a Alemanha com a chanceler?
As mãos de Angela Merkel têm sido um dos símbolos
desta campanha: as mãos que estão numa posição de segurança, calma, ponderação.
Mas ontem, no último comício da chanceler, em Berlim, as mãos de Merkel
mostraram uma postura mais combativa - até chegou a cerrar os punhos.
As eleições de hoje, que pareciam quase ganhas à partida pela actual
coligação entre os democratas-cristãos e os seus aliados liberais, começaram,
depois de uma campanha marcada pelo aborrecimento, a provocar entusiasmo quando
as sondagens começaram a deixar cada vez mais dúvidas sobre um resultado. A
possibilidade de um partido antieuro entrar no Parlamento e a possibilidade de
os liberais não conseguirem por seu lado entrar no Bundestag, o que seria
inédito, tem animado os debates. E, a um dia da votação, um terço dos eleitores
estavam ainda indecisos.Ontem, a chanceler alemã adoptou um tom que não é o seu normal para tentar responder aos dois principais desafios que está a enfrentar hoje. O primeiro é o partido Alternativa para a Alemanha, fundado em Fevereiro deste ano, que é a voz contra os resgates aos países em crise e defende a dissolução da moeda única; o segundo é a posição do seu actual aliado de coligação, o Partido Liberal Democrata (FDP).
Defesa forte da Europa
No comício em Berlim, Merkel fez uma forte defesa da Europa e do euro, ligando a saúde da moeda única à prosperidade da Alemanha e, directamente, aos postos de trabalho no país. Também falou de uma questão que provoca indignação na Alemanha, os protestos contra a chanceler nos países em crise: "Perguntam-me o que sinto quando vou à Grécia ou a Portugal e as pessoas se manifestam contra mim. E eu digo: "Fico contente, porque esse foi um direito que eu não tive durante muitos anos [Merkel viveu na antiga República Democrática da Alemanha, RDA]. E fico feliz por vivermos com liberdade de opinião.""
Em relação ao segundo desafio, a CDU teme que alguns dos seus, antecipando um cenário de grande coligação com os sociais-democratas (centro-esquerda), se decidam por um voto táctico nos liberais.
Na Alemanha há dois votos: o primeiro é dado directamente ao candidato pelo círculo eleitoral (sendo eleito o que mais votos tem em cada um dos 299 círculos) e o segundo é para o partido, e dita a força da sua representação parlamentar (para evitar muitos mandatos a mais, caso haja grande diferença entre o primeiro e o segundo, este ano será pela primeira vez posto em prática um sistema para os "equilibrar"). Os liberais têm apelado ao segundo voto dos eleitores democratas-cristãos, evocando a possibilidade de não conseguirem chegar aos 5% necessários para ter representação parlamentar. No comício, Merkel alertou contra esta ideia: "Peço-vos, pessoalmente, que usem o vosso segundo voto para assegurar que posso continuar a ser a vossa chanceler."
Desmobilização assimétrica
Há quem diga que Angela Merkel teve uma estratégia de "desmobilização" do eleitorado e esta poderá agora funcionar contra si. Daniel Lede Abal, deputado dos Verdes no parlamento do estado federado de Baden-Würtemberg, defendeu esta teoria, numa entrevista por Skype: "Com esta estratégia a CDU talvez perca eleitores, mas os outros partidos pedem mais." Lede Abal acusa a chanceler de ter "adormecido" todas as questões - e não deixa de apontar responsabilidades à oposição que não conseguiu "encontrar questões que mobilizassem o eleitorado".
A revista Economist partilha de uma opinião semelhante, mencionando que a flexibilidade de Merkel (em questões internas, ao contrário da percepção de intransigência na União Europeia com o seu martelar na austeridade) e a sua mestria em apropriar-se de temas da oposição é essencial para a "desmobilização assimétrica", que afectará assim mais os outros partidos do que o seu.
A participação eleitoral já vinha a cair na Alemanha: de 79% em 2002 para 77,6% em 2005, até 70,7% em 2009.
Para contrariar a tendência, há anúncios a apelar ao voto (no metro, um deles mostra vários eleitores com cartazes a explicar porque votam. "Porque posso", diz um).
Uma iniciativa com sucesso foi o Wahl-o-Mat, um questionário com 38 perguntas sobre educação, saúde ou ambiente, que cruza as respostas dadas com os programas dos partidos (e ainda pergunta ao utilizador quais destes temas são os mais importantes para si). Depois dá uma indicação - que, sublinha, não é uma proposta de voto - dos partidos com que mais se identificam as respostas.
Nem sempre coincide com as convicções das pessoas - "A mim deu-me Verdes", diz uma rapariga numa conversa no comboio torcendo o nariz; parece que preferia a CDU -, mas tem dado motivo para discussão, que é o que era pretendido.
O próximo Governo enfrenta uma série de desafios, desde externos (a crise do euro está longe de ter terminado, com antecipação de novos empréstimos a Grécia e a possibilidade a ser cada vez mais colocada no caso de Portugal, a discussão sobre a união bancária continua) a internos (o aumento dos custos da energia associados ao fim faseado da produção de energia nuclear no país, o aumento do número de reformados e a baixa natalidade a fazerem o país precisar de mais trabalhadores).
À saída do comício de Angela Merkel, os seus apoiantes mostravam-se confiantes em mais quatro anos de segurança. "Ela preocupa-se com as pessoas", dizia Birgit, bibliotecária e apoiante da CDU "há mais de 20 anos" (era da Alemanha de Leste). Quanto ao futuro, "primeiro tem de tratar da crise do euro", diz, "e depois pode tratar de algumas questões internas que ainda é preciso, como a desigualdade dos salários e das reformas entre Leste e Oeste que ainda existe".
Já Ruth e Dieter Hermann costumavam votar no SPD, mas desta vez vão votar CDU. "Merkel é esperta, analisa tudo antes de seguir em frente - é cientista", comentam. "Transmite confiança."
Cautelosa Mutti
Esta será a chave do seu sucesso. A chanceler tem uma grande popularidade, mas atrai mais simpatia comedida do que entusiasmo arrebatado - o seu principal rival, Peer Steinbrück, tinha-a retratado na véspera como uma condutora cautelosa que anda sempre à volta da rotunda sem se atrever a escolher a direcção a tomar.
Isso tem funcionado a seu favor. A cautela acaba por ser vista como um seguro contra imprevisibilidade, e tornou-se o traço forte de Merkel. E ela transformou-se numa figura tão forte que a CDU nem precisa de muitas propostas: o programa do partido é Merkel, a Mutti (mamã) que assegura aos alemães que tudo será bem tratado, que o país está em boas mãos - mãos sem grandes entusiasmos, seguras.
Angela Merkel poised for record
poll win and historic third term
Her success remains a mystery for many, but victory could
see the German chancellor beat Thatcher's record
Kate Connolly in Berlin and
Josie Le Blond in Fulda
The Observer, Saturday 21 September 2013 / http://www.theguardian.com/world/2013/sep/21/angela-merkel-german-elections
The excitement on Fulda's University Square hinted at the
imminent arrival of an A-list celebrity. Crowds jostled impatiently to pass
through a security check, a total of 5,000 gathering in front of two big
screens, some on picnic benches, others standing, while hundreds more watched
from the roofs and windows of offices and apartment blocks.
When Angela Merkel appeared, waving and smiling amid a sea
of orange balloons and "Angie" placards, camera phones shot into the
air and a rousing cheer went up.
After five hard weeks of campaigning ahead of Sunday's
election, it might have been expected that the German chancellor would look
exhausted at one of her final rallies in the western state of Hesse last week.
But she was in fighting mood. "I was back in my constituency today and
tanked up a bit of the Baltic sea breeze," she told the crowds.
"After that I feel ready for anything."
If, as widely expected, the 59-year old German leader is
re-elected for a third term, she will be on course to become Europe's
longest-serving female leader, outstripping Margaret Thatcher's claim to the title.
Since first coming to power in 2005, Merkel has rejected the
comparisons between herself and Britain's "Iron Lady". Indeed, apart
from a few biographical details, the similarities between the conservative
social democrat and the free marketeer are few and far between. Germans, at
least, have long stopped making the comparison.
But comparisons there are. Both female and scientists, able
to survive on little sleep, the two women suffered from image problems at the
start of their leaderships. Advisers to Thatcher suggested she carry a handbag
and soften her voice, while Merkel got highlights, a more relaxed hairstyle and
learned to deal with the issue of how to look in control by holding her hands
in a rhombus shape in front of her stomach, now her trademark gesture. But the
differences between them, not least politically, are far bigger than the
similarities. One revealing example is that, while Thatcher sold off council
houses, Merkel is in favour of rent controls.
Fascination with the Protestant pastor's daughter is on a
par with that of the grocer's daughter. Merkel's has been the extraordinary
rise of a girl who grew up in small-town communist East Germany to become
arguably the most powerful woman in the world. Among Germans, her appeal lies
as much in her misfit status on the political scene, including the questions as
to how a childless, female Protestant managed to make it to the helm of a
political party dominated by Catholic west German males, and from there to
become a towering figure on the international stage.
Summing up the anomaly, Berthold Kohler, one of the
publishers of the conservative Frankfurter Allgemeine (FAZ), says: "Twelve
years ago, when she was elected as the head of the Christian Democrats, no one
imagined she'd still be in the driver's seat in 2013, let alone that she would
be looking back having spent seven years in the chancellery."
The former German chancellor Helmut Kohl was the first to
discover Merkel, recognising her potential when she was 35, and the press
officer of the GDR's Democratic Awakening party. He awarded her her first
ministerial role in 1990. Just nine years later she effectively turned against
him, using a comment piece in the FAZ to tell the rest of the Christian
Democratic Union (CDU) they should distance themselves from him, after a
funding scandal that nearly sank the party.
He was the first of the many males whose political corpses
have strewn her career path. Though they have almost all fallen on their own
swords (for taking backhanders, plagiarising PhDs), their demise under her
leadership has earned her one of her many nicknames, Männermörderin (men
murderer). She has often forged better relationships with women. Indeed, her
office manager and closest adviser is Beate Baumann, who is said to know her
almost as well as her husband, shy chemistry professor Joachim Sauer. She has
also forged lasting friendships with Hillary Clinton, Condoleezza Rice and
Christine Lagarde.
And while having learned to work with her male counterparts,
including George W Bush, Nicolas Sarkozy, Silvio Berlusconi, and to a lesser
extent Vladimir Putin, she has let it be known that she despises their displays
of overblown machismo. It has been she – the first to admit she dislikes
conflict – who has stood up and literally rearranged the chairs at conferences
in a last-ditch, and arguably maternal, intervention to forge better
communication.
But still she remains a mystery to many Germans. "You
know me," has been her frequent mantra at election rallies, accompanied by
remarks about how well the German economy is doing – by which she means "a
vote for me is a vote for the continuity of these good times".
But, says Stefan Kornelius, foreign editor of the
Süddeutsche Zeitung, whose biography of Merkel, The Chancellor and Her World,
was published on Saturday, to many Germans "this politician who rose
almost unnoticed to lead the leaders of Europe" still remains a conundrum.
"The Germans have been pondering the mystery of Merkel for many years,
trying to interpret her character and the inner workings of her mind," he
says.
In interviews over the years, and in the runup to this
election, there has been a drip feed of stories, largely from Merkel herself,
accompanied by the release of 22 pictures from her childhood to the present,
that have helped to build up something of a picture. Almost every German knows
that her favourite foods, which she enjoys making herself, are plum cake and
potato soup. We recently learned that she first got drunk on cherry wine and
that a Soviet soldier once stole her bicycle.
Applying pragmatism to her desire to learn English under
communism, she devoured technical manuals and copies of the Morning Star. A
favourite anecdote is how she was in a sauna, a weekly date she kept with a
girlfriend, when she heard that the Berlin Wall had come down in 1989. Rather
than rush out on to the streets of the divided city, the two stayed until the
end of their session, only later heading out into the November night to join
the crowds crossing into the west before heading home to bed.
She also let it be known in the last couple of weeks, how,
when she separated from her first husband, Ulrich Merkel, after just five years
of marriage, she took refuge in a Berlin squat recommended by friends. (We also
know from previous tellings of their separation, that, ever the pragmatist, she
took the washing machine with her when she left.)
Asked at a citizens' forum earlier this month just how much
the chancellorship had changed her, Merkel readily admitted that she had lost
her confidence to drive a car, "except on small country roads",
having enjoyed the luxury over the past few years of being chauffeur-driven
everywhere. Opponents might seize on that to say she is detached from ordinary
people. Except there is plenty of evidence to the contrary. After a recent
Brussels summit that went through the night, she was seen in her local
supermarket, buying a leek, a bottle of wine and some olive oil, dressed in the
same suit in which she had negotiated a major deal some few hours previously.
While those close to her will cite her mental rigour and her
pragmatism as being at the heart of her winning formula, her secret, say an
increasing number, lies in her ability to "send voters to sleep": of
maintaining her support base through what political scientists have described
as "asymmetric demobilisation" – a deliberate dulling of the issues
and defusing conflicts with her opponents by absorbing their positions, so
that, according to one expert, "they have no oxygen to breathe". To
make the point, the general secretary of the Social Democrats, Andrea Nahles,
went so far as to sing a song from her favourite children's book character,
Pippi Longstocking, to argue that Merkel was grossly simplifying the issues.
"I'll shape my world … just the way I like it," she intoned, slightly
off-key, in front of a stunned Bundestag audience.
The CDU's response was to thank Nahles in a letter for her
"perhaps unintended compliment", saying it appreciated the comparison
between Merkel and Pippi who, like the chancellor, "has lots of fans in
Germany … lives independently and is very courageous … a girl who broke loose
from the gender role prescribed for her by society".
By Julien Toyer
updated 7/24/2013 / http://www.nbcnews.com/id/52561462/ns/business-stocks_and_economy/t/analysis-southern-europe-awaits-german-election-fear-hope/#.Uj5sm9K-2So
MADRID (Reuters) - Like the coming of the messiah, depressed
southern Europe nations await Angela Merkel's likely victory in Germany's
September election with a mixture of hope and trepidation.
Four years into the euro zone debt crisis, people in
debt-laden Spain, Italy, Greece, Portugal and Cyprus are deeply worried that a
third term in power for the conservative chancellor may only bring them more
austerity and pain.
The five countries that implemented Merkel's anti-crisis
recipes and cut spending massively in areas such as health and education, have
been in or close to recession since 2008. Unemployment tops 27 percent in Spain
and Greece.
Their leaders, however, disagree. Confident that Merkel will
tone down her budget cutting mantra and accept more burden-sharing within the
euro zone, they are positioning themselves as close allies of Europe's main
paymaster.
"I think we will see a different Mrs Merkel after the
elections," said Cypriot President Nicos Anastasiades, echoing a view
shared by most of his fellow southern European leaders.
In Greece, where crunch time for plugging a budget gap with
a third bailout of the country starts at the end of September, hopes are high
that debt issues can finally be sorted out after the German election, maybe
through a new debt write-off.
In Italy and Portugal, where austerity has not yielded many
positive results, policymakers believe Merkel will accept a more balanced model
for managing the economic crisis if she wins.
In Spain, where banks were rescued with 42 billion euros of
European money, expectations are that the chancellor will lean towards common
euro zone debt issuance and accept a full-fledged banking union, unlocking
credit in the recession-hit nation.
WISHFUL THINKING?
While market turmoil has eased in the euro zone and last
year's massive capital outflows from southern Europe to safe-haven Germany have
started to reverse, more needs to be done.
The correction pace of imbalances in the European Central
Bank's Target 2 cross-border payments system, a key indicator of financial
stress within the single currency zone used by ECB President Mario Draghi to
monitor monetary policy, remain slow.
Continued German support will be key to keep the fever down.
Senior government sources in these countries insist Merkel
has signaled flexibility on these issues in recent private talks. But she has
given no public indication of such a U-turn and many in Berlin caution it is
highly unlikely to happen, warning against wishful thinking.
"Many people are waiting for the elections then hope,
expect ... a change in the German position. This is not what I would
expect," German European Central Bank executive board member Joerg
Asmussen told Reuters in an interview this month.
Noting that other countries such as the Netherlands,
Finland, Slovakia and Estonia shared Berlin's doubts, he said: "It's easy
to hide behind Germany... It's a group of countries, it's not only
Germany."
What's more, a good part of Merkel's post-election crisis
response will depend on which party she needs to team up with to secure a
majority.
PARTNERS
Anastasiades, Portugal's Pedro Passos Coelho, Italy's Enrico
Letta, Spain's Mariano Rajoy and Greece's Antonis Samaras share a common
appetite for closing ranks behind Merkel as she tops the polls 60 days to the
vote.
Earlier this month, they flocked to Berlin to cheer her at a
summit on youth unemployment in Europe which many saw as a mere political show
for her campaign.
Centre-right governments in Spain, Portugal, Greece and
Cyprus hope to bank on a new political landscape in the European Union after
the departure of France's Nicolas Sarkozy and Italy's Mario Monti, Merkel's
closest allies in the continent.
New French President Francois Hollande and Italian Prime
Minister Letta, both from the centre-left political family, while working on
their relations with Merkel do not enjoy the close ties of their predecessors.
"Hollande will always be there of course but Germany
needs a very strong ally in the south and that should be us," said a
senior Spanish government source who talked to Reuters on condition of anonymity.
"No effort should be spared in gaining this place we already enjoyed in
the nineties."
Rajoy is not alone in pushing this line. Samaras, Passos
Coelho and Anastasiades are also jockeying for a "special
relationship" with Merkel which they say will help secure their countries
better bailout deals.
Although results have been limited, they intend sticking to
their game plan after the September 22 elections.
"Irrespective of how harsh she was towards us, she is a
capable leader both of Germany and of Europe," Anastasiades said, adding
that Merkel's leadership was behind recent successes by the euro zone in
tackling the debt crisis.
"NAZI, NAZI"
But while politicians, businessmen and bankers are convinced
different winds are blowing in Berlin, ordinary citizens have yet to be
persuaded.
The efforts deployed by Merkel and her finance minister
Wolfgang Schauble to support governments in the struggling countries and
restore Germany's damaged public image have had little or no effect so far.
The dominant feeling remains that Germany was too slow to
respond to the debt crisis and when it did, it pursued only national objectives
such as indirectly bailing out its banks exposed to southern Europe, and
shielding its own taxpayers.
An anti-Merkel sentiment has grown in these nations as she
imposed unpopular austerity policies in return for financial support, adding to
historical animosity towards Germany dating back from World War Two.
"I just hope it's not true that treating us badly makes
her more popular in Germany," said Teresa Reis, a technology student in
Lisbon. "That would mean something is seriously wrong with Germany and
Europe. But anyway, we all need better leaders and I hope Germany gets one too."
The tune is the same in Athens where, on the occasion of
Schauble's visit last week, a group of women unfolded Greek flags and chanted
"Nazi, Nazi" outside the finance ministry.
One of the protesters, 34-year old Efi Anestopoulou who has
been unemployed since the crisis began, told Reuters: "I've been
unemployed for three years and my pockets are empty. I don't even have money to
buy food.
"I didn't rob anyone, I didn't steal any money to
deserve this... It's our politicians who don't want us to revolt against the
German visitor," she said in a trembling voice, showing her empty pockets
to a policeman trying to disperse the small group.
(Additional reporting by Renee Maltezou in Athens, Michele
Kambas in Nicosia, Andrei Khalip in Lisbon and Naomi O'Leary in Rome; Editing
by Paul Taylor)
(c) Copyright Thomson Reuters 2013. Check for restrictions
at: http://about.reuters.com/fulllegal.asp
Sem comentários:
Enviar um comentário