Afinal em quem vamos votar?
A grave crise de representatividade e de prestígio da classe política é preocupante.
Esta crise que foi acentuada pela crise económica, é acompanhada e assim ilustrada, no entanto, por uma crescente exigência de transparência e autenticidade e tendência de participação por parte dos cidadãos.A Internet, transformada em agora/fórum do aqui/agora imediatista, plataforma de debate e opinião imediatista, da qual a própria imprensa não pode prescindir na sua indefinição de modelo jornalístico neste tempo de transição, tornou-se por vezes num imenso omnipresente/omnipotente símbolo do velho "voto" grego de ostracismo.
Os "cacos" que serviam de instrumento de voto na velha Grécia, foram substituídos pelo imediatismo dos "like" e os perigos do populismo acompanham as vantagens da inquestionável liberdade.
A classe política tem consciência da necessidade imperativa de purificação, de reforma, mas foi largamente ultrapassada pela velocidade dos acontecimentos/tendências e surpreendida pela explosão de liberdade, irreverência e exigência por parte dos votantes.
Tal como os dinossauros se extinguiram no passado, os candidatos nas autárquicas sentem-se agora ameaçados pelo cataclismo/malaisede uma opinião pública que deixou de ser influenciável pelo velhos clichés da polarização baseada nas etiquetas ideológicas.
Em Lisboa estamos perante as autárquicas mais excêntricas desde que a democracia representativa se instalou.
Assim temos como principal candidato um presidente sem adversário alternativo e com uma "agenda política" futura que o poderá levar a assumir "outros cargos" num futuro próximo.
Do outro lado temos um "candidato mistério" que até agora não exprimiu uma só ideia ou conceito sobre Lisboa, e somos inundados por um fluxo permanente, irrevelante e especulativo, de notícias sobre a sua vida privada.
Para aqueles verdadeiramente interessados em Lisboa, e interessados em encontrar uma alternativa à situação presente, esta situação é desesperante, e acentua este profundo sentimento de vazio e de incapacidade do sistema e da classe política em proporcionar um verdadeiro candidato, capaz de representar uma alternativa que os represente.
Sim, já sabemos que no famoso dia 28 de Julho de 2005 foram dados três minutos de discussão aos deputados de cada força partidária antes de aprovarem a famosa lei dos mandatos.
Sim, a democracia participativa "cumpriu" a sua vocação através de meios de pressão, mas a lei de demarcação continua a ser a total independência e pureza de intenções e o voto nunca pode ser substituído pelos tribunais.
A efectividade e o papel da democracia participativa termina em ambições eleitorais.
Um "líder" da "cidadania" nunca poderá ser membro de um partido político ou de uma "organização secreta" ou motivado por um "programa" pessoal, terá de ser e permanecer exterior ao sistema e aos jogos do poder.
Para isso já nos bastam os processos de politização dos "independentes" "Zé"/Helena Roseta. O papel da cidadania participativa é o de exclusivamente "estimular" de forma crítica e permanente a reforma do sistema de representatividade política e de representar sem o constrangimento dos "compromissos" as verdadeiras ansiedades dos cidadãos, transformados posteriormente em votantes.
Transformar e elevar "os cacos" (sinais) vindos da sociedade de forma totalmente independente, a fim de que eles possam ser assimilados e traduzidos em programas reformados pelos representantes políticos/candidatos nos quais podemos votar.
Este não é o caso em Lisboa. Afinal em quem vamos votar!?
Historiador de Arquitectura
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