Afinal em quem vamos votar?
ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO 22/08/2013 in Público
A grave crise de representatividade e de prestígio da classe
política é preocupante.
Esta crise que foi acentuada pela crise económica, é
acompanhada e assim ilustrada, no entanto, por uma crescente exigência de
transparência e autenticidade e tendência de participação por parte dos
cidadãos.
A Internet, transformada em agora/fórum do aqui/agora
imediatista, plataforma de debate e opinião imediatista, da qual a própria
imprensa não pode prescindir na sua indefinição de modelo jornalístico neste
tempo de transição, tornou-se por vezes num imenso omnipresente/omnipotente
símbolo do velho "voto" grego de ostracismo.
Os "cacos" que serviam de instrumento de voto na
velha Grécia, foram substituídos pelo imediatismo dos "like" e os
perigos do populismo acompanham as vantagens da inquestionável liberdade.
A classe política tem consciência da necessidade imperativa
de purificação, de reforma, mas foi largamente ultrapassada pela velocidade dos
acontecimentos/tendências e surpreendida pela explosão de liberdade,
irreverência e exigência por parte dos votantes.
Tal como os dinossauros se extinguiram no passado, os
candidatos nas autárquicas sentem-se agora ameaçados pelo cataclismo/malaise de
uma opinião pública que deixou de ser influenciável pelo velhos clichés da
polarização baseada nas etiquetas ideológicas.
Em Lisboa estamos perante as autárquicas mais excêntricas
desde que a democracia representativa se instalou.
Assim temos como principal candidato um presidente sem
adversário alternativo e com uma "agenda política" futura que o
poderá levar a assumir "outros cargos" num futuro próximo.
Do outro lado temos um "candidato mistério" que
até agora não exprimiu uma só ideia ou conceito sobre Lisboa, e somos inundados
por um fluxo permanente, irrevelante e especulativo, de notícias sobre a sua
vida privada.
Para aqueles verdadeiramente interessados em Lisboa, e
interessados em encontrar uma alternativa à situação presente, esta situação é
desesperante, e acentua este profundo sentimento de vazio e de incapacidade do
sistema e da classe política em proporcionar um verdadeiro candidato, capaz de
representar uma alternativa que os represente.
Sim, já sabemos que no famoso dia 28 de Julho de 2005 foram
dados três minutos de discussão aos deputados de cada força partidária antes de
aprovarem a famosa lei dos mandatos.
Sim, a democracia participativa "cumpriu" a sua
vocação através de meios de pressão, mas a lei de demarcação continua a ser a
total independência e pureza de intenções e o voto nunca pode ser substituído
pelos tribunais.
A efectividade e o papel da democracia participativa termina
em ambições eleitorais.
Um "líder" da "cidadania" nunca poderá
ser membro de um partido político ou de uma "organização secreta" ou
motivado por um "programa" pessoal, terá de ser e permanecer exterior
ao sistema e aos jogos do poder.
Para isso já nos bastam os processos de politização dos
"independentes" "Zé"/Helena Roseta. O papel da cidadania
participativa é o de exclusivamente "estimular" de forma crítica e
permanente a reforma do sistema de representatividade política e de representar
sem o constrangimento dos "compromissos" as verdadeiras ansiedades
dos cidadãos, transformados posteriormente em votantes.
Transformar e elevar "os cacos" (sinais) vindos da
sociedade de forma totalmente independente, a fim de que eles possam ser
assimilados e traduzidos em programas reformados pelos representantes
políticos/candidatos nos quais podemos votar.
Este não é o caso em Lisboa. Afinal em quem vamos votar!?
Historiador de Arquitectura
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