Rússia "rouba" aliados à União Europeia e Barroso
atira-se a David Cameron
Por António Ribeiro Ferreira
publicado em 12 Set 2013 in (jornal) i online
Arménia, Moldávia, Geórgia e Ucrânia voltaram costas a
Bruxelas e só têm olhos para Moscovo. E o referendo no Reino Unido sobre a
Europa é irresponsável e populista
A União Europeia não tem política externa. Os exemplos são
muitos e a recente crise na Síria mostrou mais uma vez que a Europa a uma só
voz é um mito em que só alguns acreditam. Mas Bruxelas tenta alargar a sua
influência, não só com novas adesões, como aconteceu recentemente com a
Croácia, que se tornou o seu 28.o membro, mas também com parcerias políticas e
económicas com países que são disputados igualmente pela poderosa Rússia de
Putin e Medvedev. E o vencedor, pelo menos para já, é claramente o novo czar da
Rússia.
Ontem em Estrasburgo, no discurso sobre o Estado da União,
Durão Barroslo decidiu abrir o livro e fazer uma série de queixinhas aos
eurodeputados. E acusou Moscovo de estar a tentar limitar a soberania de alguns
países que querem estabelecer laços mais profundos com a União Europeia. O
presidente da Comissão Europeia lamentou que a Arménia, por exemplo, que estava
prestes a estabelecer um acordo com Bruxelas, tivesse rompido as negociações
para se atirar para os braços de Moscovo. Mas além da Arménia, Durão Barroso
deu os exemplos da Moldávia e da Geórgia, que estão a ser fortemente
pressionadas pelos russos para seguirem o caminho dos arménios. O pior, no
entanto, é a Ucrânia. O maior país da região, que já foi o celeiro da antiga
União Soviética, está com o coração partido entre Bruxelas e Moscovo. E, para
espanto do presidente da Comissão Europeia, os ucranianos, apesar das
liberdades e de tudo o mais que a União Europeia oferece aos povos do mundo,
está a um passo de abraçar de novo os seus vizinhos russos, uma aliança que
nunca deixou de existir mas que pode tornar-se muito penosa para Bruxelas.
ATAQUE A DAVID CAMERON
Outros alvos de Durão Barroso em
Estrasburgo foram David Cameron e o Partido Conservador. Tudo pelo referendo
anunciado pelo chefe do governo britânico no início do ano sobre a permanência
do Reino Unido na União Europeia. O presidente da Comissão Europeia atirou
forte sobre Londres e disse que o UKIP, o partido eurocéptico, pode não só
vencer o referendo como as próximas eleições europeias de 2014. Durão Barroso
acusou David Cameron de não ter capacidade política para confrontar o UKIP e de
preferir adoptar posições eurocépticas e populistas para tentar impedir a fuga
do eleitorado. Mas, advertiu Barroso, "o eleitorado, entre a cópia e o
original, prefere sempre o original".
Sem nada a perder, já que é pouco provável que se mantenha
como presidente da Comissão Europeia depois das eleições europeias, Durão
Barroso, depois de ter perdido pontos junto de Merkel e Hollande, ganhou ontem,
com certeza, mais um poderoso inimigo. Teias que a Europa tece.
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