A culpa de António Costa
Por André Macedo
25/09/2013 | 20:20 | Dinheiro Vivo
António Costa quer o
seu voto em Lisboa. É um desejo que não o distingue em nada dos outros
candidatos autárquicos. Não sugere, como devia sugerir, uma ideia para a
cidade, uma proposta para melhorar o trânsito, a habitação, o emprego – pois, o
emprego –, a vida de quem mora ou trabalha aqui. Apesar deste vácuo de
comunicação (não há mensagem central), conheço pessoas que se sentiram convocadas,
digo, tocadas pela candura do candidato. É uma mão aberta a que se vira na
nossa direção numa altura tão sinistra como esta, disseram-me. Costa não diz
nada; está, aparece, é, não divide. E isso chega.
O facto de Fernando Seara ser o adversário explica uma parte
deste vazio. Seara é o candidato que jura que as ruas de Lisboa estão
esburacadas como as de uma cidade em guerra, só faltou compará-la a Beirute, o
que confirmaria a sua agonia particular mas também falta de mundo. Conhecerá
ele Beirute? Não há pior para um presidente de uma grande cidade: exibir um
cocuruto paroquial e incendiário. O Rossio enfiado na Rua da Betesga, o beco a
arder de Fernando Seara.
O caminho de António Costa não se faz apenas sobre as
virtudes do que concretizou (sim, tem obra, porque não a exibe?) nestes anos de
Lisboa. Além do asteroide Seara, Costa transformou-se num rumor. O rumor de que
um dia será. Um dia chegará. Um dia assumirá. Há uma expectativa silenciosa, um
capital de esperança que lhe serve de legitimação e que lhe assegura espaço
nacional – tudo por materializar.
Na verdade, Costa não é só rumor, é um rumor que mantém uma
parte do PS refém desta expectativa lírica. Eu para mim não quero nada, diz sem
dizer António Costa, e o PS fica a cozer, aflito, paralisado nesta expectativa.
Será que ele, será que ele...? E nada, porque é nesta ambiguidade que ele
parece movimentar os seus valetes. Na lista à câmara de Lisboa está Fernando
Medina. Vejo-o enfiado num canto de um cartaz que podia ser papel de parede. Dizem
que é o predileto; afinal D. Sebastião Costa já tem sucessor; ou será
braço-direito? Quando resolvem? Tic-tac tic-tac.
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