Bancocracia: A verdadeira história da crise bancária
portuguesa
As conversas, reuniões e pressões dos banqueiros
portugueses, nos dias "negros" de setembro de 2008, há cinco anos,
quando o Lehman Brothers faliu, e 40% da riqueza mundial
"desapareceu". Desde então, pouco ou nada mudou. Exceto, claro, nas
nossas vidas...
Paulo Pena (texto publicado na VISÃO 1072, de 19 de
setembro)
10:48 Terça feira, 24 de Setembro de 2013 / http://visao.sapo.pt/bancocracia-a-verdadeira-historia-da-crise-bancaria-portuguesa=f749889
Por estes dias, o nome de Vítor Constâncio, vice-presidente
do BCE, circula em Bruxelas e Frankfurt como "um dos nomes mais
fortes" para encabeçar o Mecanismo Único de Supervisão da Banca europeia,
aprovado na quinta-feira, 12, em Estrasburgo. Segundo deputados da Comissão de
Economia do Parlamento Europeu, Constâncio é mesmo o candidato principal a este
cargo, uma das principais novidades, provocadas pela crise de 2008.
Na quarta-feira da semana passada, 11, outras memórias da
crise regressaram ao noticiário.
O BCP, o BPN e o BPP estão entregues aos tribunais. A lista
é fastidiosa: Oliveira e Costa, Dias Loureiro e vários ex-responsáveis do BPN,
Jardim Gonçalves e cinco ex-administradores do BCP, João Rendeiro e vários
ex-administradores do BPP. Nenhum foi condenado, embora todos tenham sido
acusados e tenham contra si infindáveis páginas de processos do Banco de
Portugal (BdP) e da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Há cinco anos, tudo era diferente.
No início de agosto de 2008, as cinco estrelas do Lake
Resort, em Vilamoura, eram poucas para dividir pelas figuras da alta finança
que ali comemoravam. O aniversário de Paula Caetano, mulher de Horácio Roque, o
homem-forte do Banif, juntou muitos improváveis parceiros de brinde. A festa
parece, a esta distância, o fim de uma era.
Américo Amorim, o acionista do BIC, de capitais
luso-angolanos, que viria a comprar o BPN, convivia com Alípio Dias. Este,
ex-administrador do BCP, acabara de perder a guerra pelo controlo do banco
para, entre outros, os capitais angolanos da Sonangol. Lado a lado (e a receber
efusivos "beijinhos", segundo uma nota do Expresso), Alípio e Joe
Berardo, o acionista que liderou a campanha contra Jardim Gonçalves e deitou
por terra o valor das ações do BCP. Nessa guerra pelo BCP, João Rendeiro, homem
forte do BPP, era aliado de Berardo. Contra Alípio Dias que tinha, em tempos,
tentado evitar que o BPP abrisse as portas. Todos juntos, celebravam.
Faltava um mês e meio para a falência do Lehman Brothers.
O clima internacional era sombrio, havia, pelo menos, um
ano, com as notícias ainda que difusas das complicações no mercado hipotecário
norte-americano. A economia estava estagnada. As taxas de juro subiam.
Os preços das matérias-primas disparavam. Eram sinais de
perigo.
Portugal e as Seychelles
Em Portugal, os tempos ainda não eram difíceis para a banca,
que valia cerca de três vezes mais que a economia do País.
"O setor financeiro, sobretudo a banca, é sem dúvida o
mais poderoso da economia portuguesa, e tutela a política económica",
explica Nuno Teles, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade
de Coimbra.
Nuno apresentou, na passada quinta-feira, em Londres, a sua
tese de doutoramento sobre "financeirização da economia".
Esse poder aumentou, graças à moeda única europeia: "O
setor financeiro nacional teve a oportunidade de se endividar no exterior, de
forma quase ilimitada, a preços muito baixos. Contudo, aliado à tradicional
falta de competitividade da nossa indústria, a banca optou por colocar todo
este capital disponível em setores onde o seu lucro estava garantido,
nomeadamente a construção e imobiliário. A banca financiava o construtor e, em
seguida, financiava o comprador, ficando com o imóvel como garantia." O
resultado foi um endividamento líquido recorde ao exterior, apenas ultrapassado
pelo das Seychelles.
A indústria transformadora recebia 40% do crédito bancário
destinado a empresas, em meados dos anos noventa. Na nossa década, esse valor
caiu para metade, "em torno dos 20%", conclui Teles. Além do crédito
com "lucro garantido", a banca apostou na área do
"rentismo" (rent-seeking), nas palavras de Joseph Stiglitz, o
ex-coordenador da equipa de assessores económicos de Clinton, e prémio Nobel da
Economia. São rendimentos de "rendas" garantidas pelo Estado, como as
PPP, em Portugal.
E é assim que a crise de Wall Street tem um elo com a crise
portuguesa. Os credores da banca portuguesa eram, em grande medida, os mesmos
do falido mercado hipotecário norte-americano: os grandes bancos do Norte da
Europa.
Um brinde com 'mimosas'
O problema desta crise começa na própria linguagem. A
finança tem uma língua própria (ver A novilíngua da crise) e movimenta números
que, para qualquer cidadão, são meras abstrações. A complexidade das operações
bancárias, que estão na origem da crise que ainda vivemos, é entediante. Tudo
isso faz com que, ainda hoje, cinco anos depois, seja difícil responder à
pergunta mais simples: o que se passou? 16 de março de 2008. O Bear Sterns, 5.º
maior banco americano, foi "salvo" in extremis, da falência. O seu
rival JP Morgan comprou por 2 dólares ações que valiam 172 dólares um ano
antes. A Reserva Federal (Fed) comprometeu-se a "limpar" 30 mil
milhões de dólares de "lixo" tóxico que infetava o balanço do banco.
Numa palavra: subprime.
Na manhã desse domingo, 16, os responsáveis por alguns dos
hedge-funds que apostaram contra o Bear Sterns comemoraram a derrocada do
"inimigo" com um pequeno - almoço no Hotel Four Seasons de Manhattan,
"fazendo brindes com mimosas [um cocktail de sumo de laranja com
champanhe] preparadas com garrafas de $350 de Cristal." (Andrew Ross
Sorkin, Too Big To Fail, Penguin).
Os bancos têm um poder quase divino: podem "fazer"
dinheiro. A maneira mais fácil é emprestá-lo. A nossa dívida é um
"ativo".
Dinheiro que, antes, não existia. No caso dos empréstimos
subprime, era a galinha dos ovos de ouro: 2 000 000 000 000 de dólares. Dois
biliões. Para se ter uma ideia: algumas das maiores empresas mundiais, juntas,
como a Apple, a Amazon, o Google e o Facebook, valem apenas metade dessa
quantia.
Os norte-americanos, mesmo aqueles que não tinham
documentos, emprego ou qualquer tipo de bens, foram aliciados a contrair
empréstimos avultados. Entre 2003 e 2005, pediram emprestados 3,7 biliões de
dólares.
Mais ou menos o mesmo montante que foi acumulado nos EUA, em
poupanças, nos últimos 200 anos... (Matt Taibbi, Griftopia, Spiegel & Grau)
Para se precaverem do risco destes estranhos empréstimos, os bancos criaram
"seguros " de risco (CDS, CDO, CLO, swaps, ver glossário) que mais
não fizeram do que contaminar todo o sistema bancário. Allan Greenspan,
ex-governador da Fed, elogiou os bancos pela "inovação" e disse que
estes produtos, que ele próprio batalhou por desregular, comportavam riscos
"negligenciáveis ". As agências de rating ajudaram, dando notações altas
a estas "armas de destruição maciça", como lhe chamou Warren Buffett,
o multimilionário norte-americano.
Foi uma festa, enquanto durou.
Os CEOs, que não percebiam bem o que os seus
"quants", analistas quantitativos, faziam com estes produtos,
receberam bónus gigantescos pelos lucros que não paravam de aumentar. Até que
rebentou a "bolha".
Quando o mercado do subprime começou a cair, o Banco Central
Europeu e a Reserva Federal americana abriram a bolsa aos bancos, para prevenir
"o risco significativo de uma crise bancária", como lembra o
economista grego Costas Lapavitsas, no seu livro Crisis in the Eurozone. Os
bancos usaram essa "liquidez" dada pelos bancos centrais para
"aumentarem os seus empréstimos aos países da periferia" na Europa.
"A garantia era de que as bancarrotas na Zona Euro seriam
impossíveis." (Lapavitsas) 15 de setembro de 2008. O Lehman Brothers
faliu.
No dia seguinte, o Governo americano injetou os primeiros 85
mil milhões de dólares na seguradora AIG. O próprio Presidente Bush não conteve
o pavor: "É suposto uma companhia de seguros fazer estas coisas?",
questionou, ao ser informado do problema dos credit default swaps.
Reuniões e inconfidências Parte desse dinheiro, pago pelos
contribuintes americanos, veio diretamente para a Europa.
Os grandes bancos europeus eram os mais expostos ao subprime
.
Em setembro de 2008, Portugal era um país muito diferente do
que é hoje. Tinha uma dívida pública de 68%, face ao PIB, cerca de metade da
que tem atualmente, passados cinco anos, quatro deles vividos em
"austeridade".
A Europa decidira gastar, para mitigar o efeito recessivo da
crise. O efeito combinado da política "expansionista" com a
diminuição dos impostos, causada pela crise, pusera as contas públicas no
vermelho.
4 da tarde, hora de Washington DC, de quinta-feira, 25 de
setembro de 2008. À volta de uma mesa oval, na Casa Branca, John McCain, o
candidato republicano e Barack Obama, o seu adversário democrata, sentaram-se,
rodeados pelo Presidente, George W. Bush, o seu vice, Dick Chenney, e o
poderoso secretário do Tesouro, Hank Paulson.
Ao seu estilo, Bush deixou uma frase para a posteridade:
"Se não soltamos o dinheiro, esta porcaria pode cair ao chão." (Too
Big To Fail, Penguin) Bush tentava convencer os dois partidos a aprovar o plano
de Paulson, o TARP (Programa de Auxílio para Ativos Problemáticos), no valor de
700 mil milhões de dólares, uma inédita injeção de dinheiros públicos no
sistema financeiro, para "limpar" das contas dos bancos o lixo
"tóxico" que tinham acumulado em operações complexas e arriscadas. Houve
quem chamasse a este "resgate" o "socialismo dos ricos".
Por essa altura, em Lisboa, também havia reuniões de alto
nível. Vítor Constâncio mandou chamar, na terça-feira, 30 de setembro, ao Banco
de Portugal (BdP), cinco banqueiros: Faria de Oliveira, da CGD, Carlos Santos Ferreira,
do BCP, Fernando Ulrich, do BPI, Ricardo Salgado, do BES, e Nuno Amado, do
Santander-Totta. A conversa, rigorosamente sigilosa, fora marcada a propósito
da crise americana. Mas o habitualmente fleumático governador deixou escapar
uma preocupação: "A situação de dois pequenos bancos portugueses." Os
bancos nunca foram nomeados, mas, naquela sala, ninguém tinha dúvidas:
tratavase do BPN e do BPP. Os visados souberam, rapidamente.
No sábado seguinte, 4 de outubro, uma notícia do Expresso
relatava a reunião.
Miguel Cadilhe ficou indignado com esta
"inconfidência". À frente do BPN desde 24 de junho de 2008, Cadilhe
tentava encontrar uma solução para o banco e para a sociedade que o detinha (a
SLN). E corre contra o tempo. Em quatro meses, descobre 96 offshores escondidos
e um banco, o Insular, que servia para ocultar prejuízos e lucros, financiar
empresas do grupo e esconder operações.
Entre os obstáculos de Cadilhe, que eram muitos, estava o
receio, do BdP de um "contágio " americano a Portugal. Não pelo lado
"tóxico", mas sim pela ainda mais intangível "confiança".
Havia corridas aos depósitos em Inglaterra, Islândia, Irlanda, resgates
multimilionários em França, na Bélgica, na Holanda, na Alemanha.
"Na carteira de ativos do BPN não havia produtos derivados.
Só aplicações em créditos, depósitos e outros títulos negociáveis
normais", garante à VISÃO Manuel Meira Fernandes, o administrador
financeiro da equipa de Cadilhe.
A nacionalização Nas reuniões entre Cadilhe e Constâncio,
não era a bolha do subprime que causava a visível "crispação". Eram
as referências, diretas de Cadilhe à quota de responsabilidade do regulador no
caos que estava à vista de todos nas contas do BPN.
Aqui, os depósitos estavam a crescer, mensalmente, desde que
Cadilhe e a sua administração tinham chegado. De setembro para outubro, depois
do Lehman e da "inconfidência " de Constâncio, registou-se a primeira
queda, de quase 300 milhões de euros. Mesmo assim, o saldo ainda superava o
registado em junho desse ano, e dezembro de 2007.
A queda fez, no entanto, soar o alarme.
Pressionados por Bruxelas, os governantes queriam evitar, a
todo o custo, o mínimo sinal de uma "corrida aos depósitos".
Carlos Costa Pina, na altura secretário de Estado do
Tesouro, recorda: "A crise financeira contribuiu para tornar patentes, de
forma mais rápida, as fragilidades do BPN. Tive a noção, a partir de julho de
2008, de que a nacionalização poderia ser inevitável. E por isso dei indicações
para se começar a preparar essa eventualidade. Deveríamos procurar sempre
alternativas, mas sabia que, se elas falhassem, teria que estar tudo pronto
para uma decisão imediata. Não haveria, depois, tempo para estudar. Apenas para
agir." No Eurogrupo, reunido de emergência, em Paris, após a falência do
Lehman Brothers, havia outros motivos de preocupação: a Irlanda tinha dado uma
"garantia integral sem limites" aos seus bancos, atirando o défice
para uns impensáveis 32% do PIB.
No dia 2 de novembro, um domingo, estava Miguel Cadilhe em
Ponte de Lima, quando recebeu uma chamada de Costa Pina. O BPN seria
nacionalizado.
Teixeira dos Santos comunicou a decisão, ao lado de
Constâncio, numa conferência de imprensa. Cadilhe demitiu-se. E o buraco do BPN
não parou de crescer. Os depósitos, esses, caíram a pique. Mil milhões a menos,
em setembro de 2009. Outros mil milhões "voaram" em 2010.
Numa coisa Meira Fernandes e Costa Pina estão de acordo:
"Os problemas do BPN eram internos e prévios à falência do Lehman
Brothers.
A crise financeira acelerou a sua visibilidade, que se teria
verificado com ou sem falência do LB." (Costa Pina); "A crise do BPN
tem uma génese própria: irregularidades e fraudes. Com ou sem Lehman Brothers,
teria sempre acontecido." (Meira Fernandes).
Onde discordam é nas virtudes da solução escolhida pelo
Governo. Nacionalizar foi, para Meira Fernandes, "um erro crasso" e
uma "mistificação". "O balanço que faço é péssimo. A liquidez do
banco agravou-se, a solvabilidade deixou de existir (o banco ficou tecnicamente
falido) e a rentabilidade positiva nunca foi atingida. Quem está a suportar os
custos da nacionalização, contrariamente ao então afirmado pelo ministro
Teixeira dos Santos, são os contribuintes." Carlos Costa Pina admite que
algo podia ter sido diferente: "No caso do BPN, não tivesse o contexto
sido o que foi e talvez a nacionalização pudesse ter sido evitada, encarando-se
a falência. Mas infelizmente não se escolhem os momentos em que os sinistros
acontecem e, à época, a falência teria tido proporções não verificáveis noutro
contexto."
O risco de tudo se repetir Ainda havia uma segunda
"banqueta" (expressão de um ex-banqueiro) em risco: o BPP. Afirma o
ex-governador do Banco de Portugal, António de Sousa: "Nunca foi um banco,
nem nunca deveria ter sido. Infelizmente, o Banco de Portugal não pôde evitar
dar a licença que é obrigatória por lei." O BPP era 14 vezes mais pequeno
que o BPN, em volume de depósitos. Por isso, em dezembro de 2008, o Governo não
teve dúvidas de que seria deixado à sua sorte. O Estado avalizou 450 milhões de
euros para um fundo que procurasse reaver parte dos investimentos perdidos por
clientes (que garantiam ter entregue as suas poupanças como depósitos e o banco
usou como investimentos de risco).
Mas o problema não estava resolvido.
Para mais quando a Zona Euro entrou, definitivamente, na
espiral da crise, com os resgates à Grécia e à Irlanda, em 2010. Foram os
bancos portugueses que, ficando sem liquidez nos mercados interbancários, e
impedidos pelo BCE de aceder aos financiamentos com garantias, fizeram pressão
no sentido da intervenção da troika. Estavam inundados de um novo tipo de
"ativo tóxico": os títulos da dívida pública portuguesa (e da grega).
Fizeram-no em privado, durante algum tempo, e convenceram o ministro das
Finanças, Teixeira dos Santos, e o novo governador do Banco de Portugal, Carlos
Costa. Mas precisaram de pressionar em público para convencer José Sócrates.
Judite de Sousa, jornalista da TVI, convidou os banqueiros para uma série de
entrevistas. Para sua surpresa, todos aceitaram, no momento. "48 horas
depois, o primeiro-ministro estava a pedir ajuda financeira", contou a
jornalista, numa entrevista ao Público. E observou: "Acabei por, com
aquelas entrevistas, fazer parte de uma narrativa que foi meticulosamente
preparada pelos banqueiros." Nos 78 mil milhões de euros do
"resgate" estava incluída uma fatia de 12 mil milhões para
"recapitalizar" a banca nacional, garantindo que entre 9% e 10% do
dinheiro investido existisse mesmo nos cofres das instituições cumprindo os
rácios de capital definidos após a crise, em Basileia. O nome do mecanismo de
ajuda aos bancos é complicado Contingent Convertible Bonds. O acrónimo é
surrealista: CoCos.
Usaram este financiamento quatro dos maiores bancos
portugueses: o BCP, o BPI, o BANIF e a Caixa. Como contrapartida, os bancos têm
de pagar juros de 7%, aceitar administradores nomeados pelo Estado e reduzir
para metade os vencimentos dos seus administradores. Têm ainda de encolher.
Despedir trabalhadores, fechar balcões.
E estamos, agora, mais preparados para lidar com uma crise
bancária? Nuno Teles duvida: "É difícil avaliar se estamos à beira de uma
nova crise, mas é claro o quão pouco mudou na economia internacional desde a
crise de 2008. Os mecanismos que deram origem à crise quase não se
alteraram." Meira Fernandes, que se reformou da atividade bancária,
ironiza. "Fiz um swap especulativo, na quinta-feira passada, o
euromilhões: e perdi." Mais a sério, este ex-administrador financeiro
garante que, hoje, o setor "vive uma crise de confiança".
"Aprendemos pouco."
Onde estão os protagonistas À escala europeia pouco
passou do papel.
Nos EUA, apesar dos esforços de Paul Volcker, o
ex-governador da Fed nomeado por Obama para um conselho de sábios, continua por
fazer a separação entre bancos comerciais e bancos de investimento. Nenhuma das
regras impostas por Roosevelt, nos anos 30, de contenção da especulação,
revogadas ao longo dos anos 90, foi retomada.
O antigo responsável pelo Lehman Brothers ibérico, o
espanhol Luís de Guindos, é o ministro da Economia do Governo de Madrid. Dois
dos quadros portugueses do gigante falido norte-americano ocupam, hoje,
posições sensíveis: João Moreira Rato é o presidente do IGCP, que gere a dívida
pública portuguesa. Deixou o Lehman em julho de 2008, quando era
diretor-executivo. João Quintanilha, que começou a sua carreira na equipa de
derivados do Lehman Brothers, é hoje membro da consultora Stormharbour,
escolhida para assessorar o IGCP na análise dos swaps das empresas públicas.
Há banqueiros no banco dos réus, em Portugal.
Pedro Vaz Serra, antigo responsável pelo extinto BPP,
confessou, na quarta-feira passada, dia 11, no Tribunal de Coimbra, 12 crimes
de burla e outros tantos de falsificação de documentos. Terá ficado com 731 mil
euros dos clientes, que usou para fazer obras numa casa apalaçada, em Oliveira
do Bairro. "Senti grandes dificuldades financeiras ", justificou-se,
perante os juízes. "Foi um ato esporádico", sublinhou o seu advogado.
Em 2008, era senior adviser do BPP, com uma coluna de
opinião no Jornal de Negócios, com o sugestivo título de Ética e Negócios.
Na mesma quarta-feira da semana passada, noutro tribunal, em
Lisboa, o conhecido advogado Magalhães e Silva defendeu o seu cliente, Jorge
Jardim Gonçalves, fundador do BCP, acusado de crimes de manipulação de mercado
por transações em 21 sociedades offshore, criadas pelo BCP, para valorizar as
ações do banco, na perspetiva da acusação.
Magalhães e Silva terminou a sua alegação afirmando:
"Simplesmente, não é a justiça dos tabloides que se espera deste
tribunal." Nos EUA, nenhum dos responsáveis pela banca foi condenado.
A crise parece ter-se transformado num gigantesco
"ativo tóxico", limpo pelos biliões que os Estados gastaram. E a
roleta continua a girar.
GLOSSÁRIO. A NOVILÍNGUA DA CRISE
"Economia" é, na definição de Ambrose Bierce,
"adquirir o barril de uísque que não é necessário pelo preço da vaca que
não se tem dinheiro para comprar" (Dicionário do Diabo, ed. Tinta da
China). As coisas complicam-se, ainda mais, no nosso século...
•CDO (Collaterized Debt Obligations): Obrigações com
garantia real. O nome é engenhoso. Na realidade, trata-se de algo puramente
virtual. Um CDO nasce da expetativa de pagamento de um conjunto de dívidas
(hipotecas sobre casas, empréstimos sobre carros, cartões de crédito, etc.).
Essas dívidas são todas juntas, pelos bancos, e divididas em pedaços. Aqui
entram as agências de rating, que dão a cada um dos pedaços uma nota: de AAA a
lixo. Depois, os bancos constroem uma pirâmide, em que no vértice estão os
ratings mais altos e a base é o "lixo". O "lixo" paga um
retorno maior.
•CDS (Credit Default Swaps): Permutas de risco de crédito.
Os CDS podem ser vendidos Over The Counter, ou seja, fora das bolsas. A quem
não tem, sequer, qualquer investimento na dívida inicial. O CDS é como um
seguro de um carro de alguém que pode ser vendido a outra pessoa que, muito
naturalmente, pode apenas querer que o carro se estampe para receber o prémio.
•Short Selling/ Naked Short Selling: Venda curta e venda
curta a descoberto sem garantia. O short-selling tem um objetivo: desvalorizar
um determinado bem (ação ou título). A versão "a descoberto" só é
possível graças aos buracos na legislação. Imagine o leitor tem uma empresa,
que vale 100 euros por ação. Alguém pretende comprar ações por metade do preço.
Manda vender, sem comprar e o preço vem por aí abaixo. Foi isso que se passou
com a cotação de vários bancos, como o Lehman Brothers.
•Swaps: Permutas. Por exemplo: uma taxa de juro fixa por uma
variável. Mas os swaps podem ser mais especulativos. Taxas de juro por
cocktails de "obrigações", flutuações cambiais, índices de
matérias-primas... Na Refer, enquanto era responsável financeira, Maria Luís
Albuquerque contratou um swap, sobre os juros da dívida da empresa, indexado ao
desempenho da coroa sueca.
TRÊS PERIGOS QUE SOBREVIVERAM À CRISE
1.OS BANCOS DEMASIADO GRANDES Se já eram "demasiado
grandes para falir", os bancos que sobreviveram à crise de 2008 estão
ainda maiores. Sobretudo os "tubarões" de Wall Street, que absorveram
outros.
2.AS 'ARMAS DE DESTRUIÇÃO MACIÇA' Há "notícias de um
sistema financeiro cheio de 'ativos tóxicos' na China", adianta o
economista Nuno Teles. Nenhum país avançou muito na regulação de
"derivados".
Andrew Ross Sorkin (born February 19, 1977) is a Gerald Loeb Award-winning American journalist and author. He is a financial columnist for The New York Times and a co-anchor of CNBC's Squawk Box. He is also the founder and editor of DealBook, a financial news service published by The New York Times. He wrote the bestselling book Too Big to Fail (2009) and co-produced a movie adaptation of the book for HBO Films (2011).
Sorkin's book on the Wall Street banking crisis, Too Big to Fail: The Inside Story of How Wall Street and Washington Fought to Save the Financial System -- and Themselves, was published by Viking October 20, 2009. It won the 2010 Gerald Loeb Award for best business book of the year, was on the shortlist for the 2010 Samuel Johnson Prize, shortlisted for the 2010 Financial Times and Goldman Sachs Business Book of the Year Award, and was on The New York Times Best Seller list (non-fiction hardcover and paperback) for six months. The book was adapted as a movie by HBO Films and premiered on HBO on May 23, 2011. The film was directed by Curtis Hanson and the screenplay was written by Peter Gould. The cast included William Hurt as Hank Paulson, the Treasury Secretary; Paul Giamatti as Ben Bernanke, the chairman of the Federal Reserve; Billy Crudup as Timothy Geithner, the then president of the New York Federal Reserve; James Woods as Richard Fuld, the CEO of Lehman Brothers, Edward Asner as Warren Buffett, the CEO of Berkshire Hathaway; Cynthia Nixon as Michele Davis, assistant secretary for public affairs at Treasury; Bill Pullman as Jamie Dimon, CEO of JPMorgan Chase; as well as Topher Grace as Jim Wilkinson (former U.S. government employee). Sorkin was a co-producer of the film and had a cameo appearance as a reporter.
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