Em 2050, o Árctico não deverá ter gelo no Verão, diz
relatório das Nações Unidas
Por PÚBLICO
19/09/2013 - 15:01
O rascunho do relatório da próxima avaliação do Painel
Intergovernamental para as Alterações Climáticas das Nações Unidas antecipa
para o meio do século verões quase sem gelo no Pólo Norte, revela o Financial
Times. Apesar de 2013 não atingir o recorde do ano passado, este ano é o sexto
com menos área de gelo no Árctico no final da época estival.
Nas contas oficiais, o fim do gelo no Árctico durante o
Verão está mais perto do que se esperava. Um rascunho do relatório da quinta
avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC,
sigla em inglês), avança que “é provável um oceano Árctico quase sem gelo antes
do meio do século”, cita o Financial Times, esta quinta-feira.
O jornal britânico teve acesso ao rascunho do relatório do
organismo das Nações Unidas. O IPCC lança, com alguns anos de distância,
avaliações com vários relatórios sobre as alterações climáticas causadas pela
actividade humana, os impactos dessas alterações, e medidas que sirvam de
adaptação.
Previamente, na quarta avaliação do IPCC, publicada em 2007,
esse momento – que se prevê vir a ser um testemunho definidor das alterações
climáticas – estava estimado para o final deste século. Mas o rascunho do
relatório da nova avaliação, que vai começar a ser publicada a 27 de Setembro
mas que só deverá ser totalmente concluída no início do próximo ano, antecipa o
fim de gelo no Pólo Norte. As estimativas dependem da quantidade de gases com
efeito de estufa que poderão ser emitidos para a atmosfera nas décadas futuras.
“Esta nova avaliação do Árctico é um dos mais notáveis
aspectos do relatório”, considera o Financial Times. O documento é o produto do
trabalho de 800 cientistas de 200 países do mundo que pertencem ao IPCC, um
organismo com 25 anos de idade. Um Árctico sem gelo oferece ao tráfego
comercial novas rotas, mas o documento descreve o fenómeno como uma “bomba-relógio
económica”, já que uma subida de temperatura pode ajudar a libertar o metano contido
no permafrost, os solos gelados que existem nas latitudes mais a norte. Este
metano pode acelerar as alterações climáticas.
Outra conclusão central do rascunho, diz o jornal britânico,
é a de que os cientistas estão mais certos do que nunca que a causa das
alterações climáticas é devido à libertação de gases com efeitos de estufa nas
actividades humanas.
"É extremamente provável que a influência humana no
clima seja a causa de mais de metade da subida das temperaturas médias globais
observadas à superfície para o período de tempo entre 1951-2010", lê-se no
rascunho do relatório transcrito pelo Financial Times. De acordo com o
documento, esta actividade humana causou o aquecimento dos oceanos, o degelo, o
aumento do nível médio do mar e mudou alguns extremos climáticos durante a
segunda metade do século XX.
Mais um ano de mínimos no Pólo Norte
O fim da época de 2013 da recessão do gelo do Árctico está a
poucos dias de ser oficializada pelo Centro Nacional de Dados de Neve e do Gelo
dos Estados Unidos, em Boulder, no Colorado. A partir desta semana, a área de
gelo começará a aumentar, à medida que as temperaturas arrefecem no Pólo Norte
e a água congela, até se formar a área máxima de gelo, que será algures em
Março de 2014.
Este ano não se testemunhou o recorde de degelo que
aconteceu em 2012, desde que se monitoriza o gelo do Árctico. Mesmo assim, este
foi o sexto ano com menos área de gelo no Pólo Norte – apenas cinco milhões de
quilómetros quadrados, mais de um milhão de quilómetros quadrados abaixo da
média mínima quando se considera o período de 30 anos entre 1981 e 2010. “É
certamente uma continuação do declínio a longo prazo”, diz Julienne Stroeve,
uma cientista do centro, citada pelo jornal britânico The Guardian. “Estamos a
olhar para as mudanças a longo termo, e vão haver solavancos [ano após ano],
mas todos os modelos climáticos mostram que vamos perder todo o gelo marinho
durante o Verão.”
Em 2012,
a área de gelo mínima foi de 3,5 milhões de quilómetros
quadrados. “Tivemos um Verão bastante frio [no Árctico] mas mesmo assim o gelo
não recuperou as proporções das décadas de 1970 ou 1980” , refere a cientista.
Mas se olharmos para a questão do ponto de vista
tridimensional, 2013 já ganhou um recorde. O satélite CryoSat, que desde 2010
avalia a quantidade de gelo que existe em profundidade nos dois pólos da Terra,
revelou que em Março este volume atingiu um mínimo nos três anos.
“A partir das medições do satélite, podemos ver que algumas
partes da camada de gelo diminuíram mais rapidamente do que outras, mas tem
havido uma diminuição do volume de gelo de Inverno e de Verão ao longo dos
últimos três anos”, diz Andrew Shepherd, da Universidade de Leeds, no Reino
Unido, citado num comunicado de há uma semana no site do CryoSat, um satélite
que pertence à Agência Espacial Europeia.
“O volume de gelo foi, no final do último Inverno, de menos
de 15.000 quilómetros cúbicos, o que é menor do que qualquer outro ano e indica
menos crescimento de gelo durante o Inverno do que o costume”, refere o
investigador.
Notícia corrigida às 16h15: A área de gelo mínima de 2012 no
Pólo Norte é de cinco milhões de quilómetros quadrados e não de 5000 milhões
como foi escrito. A área mínima de gelo em 2013 é de 3,5 milhões de quilómetros
quadrados e não de 3,5 mil milhões como estava escrito.
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