quarta-feira, 25 de setembro de 2013

BES acusa Álvaro Sobrinho de ataque “ostensivo e sistemático” a Ricardo Salgado


 BES acusa Álvaro Sobrinho de ataque “ostensivo e sistemático” a Ricardo Salgado
25 Setembro 2013, 12:34 por Jornal de Negócios | jng@negocios.pt

O verniz estalou. Pela primeira vez, o BES assume estar em guerra com o angolano Álvaro Sobrinho. E acusa o ex-presidente do BES Angola de promover uma agenda que o coloca até como sucessor de Ricardo Salgado.
As acusações são oficiais e estão contidas numa carta enviada às redacções ontem à noite por Paulo Padrão, director de comunicação do Banco Espírito Santo.

A carta é enviada na sequência de uma notícia entretanto publicada na edição de hoje do diário "i", jornal no qual o grupo de Álvaro Sobrinho, a Newshold, tem um contrato de gestão. Noticia o "i" que Ricardo Salgado foi chamado ao Banco de Portugal, para dar explicações sobre uma comissão de 8,5 milhões de euros que terá recebido por consultoria a um cliente.

Na carta enviada (ver na íntegra em baixo), Paulo Padrão desmente que o líder do BES tenha sido chamado: “Desmentimos peremptoriamente que o Dr. Ricardo Salgado tenha sido “chamado” ao Banco de Portugal por causa do dito artigo. É completamente falso que o Dr. Ricardo Salgado se tenha deslocado ao Banco de Portugal na passada segunda feira.”

“Estas informações falsas podem ser facilmente verificadas junto do Banco de Portugal”, repete.


O director de comunicação relaciona esta notícia com outra do mesmo jornal: “Pela 2ª vez no curto espaço de um mês o i avança com a informação falsa de que o Dr. Ricardo Salgado foi “chamado” ao Banco de Portugal (já o tinha feito com falsidade na edição de 28 de Agosto – desmentido formal do BES facilmente aferível junto do Banco de Portugal).”

Sobrinho sucessor de Salgado?

Mais do que um desmentido de uma notícia, a carta do porta-voz do BES assume a guerra entre as duas partes. Essa guerra tem sido noticiada por vários jornais, incluindo o Negócios, mas nunca até hoje qualquer das partes a tinha assumido. Silêncio que o BES hoje rompe:

“Com esta informação, que desmentimos totalmente, o i reforça a sua agenda principal dos últimos meses: atacar de forma ostensiva e sistemática o BES e o seu Presidente Executivo. Essa agenda coincide de forma perfeita, primeiro com a saída do patrão do i de presidente da comissão executiva do banco do grupo em Angola (no final de 2012) e, agora, com a saída de presidente do conselho de administração (durante o Verão).”

Álvaro Sobrinho foi presidente executivo do Banco Espírito Santo Angola até Outubro de 2012, tendo em Novembro passado a ser “chairman” do mesmo banco. Esta mudança foi na altura entendida como um “pontapé para cima”, afastando o gestor da vida executiva do banco, na sequência do conflito que já então germinara. Já este ano, Álvaro Sobrinho saiu totalmente dos órgãos sociais do BESA, tendo assumido uma participação de controlo no Banco Valor. Foi até noticiado que Sobrinho está a contratar quadros do BESA para reforçar o Valor.

Paulo Padrão recorre ainda a uma notícia do i de há duas semanas, em que o jornal noticia a proximidade da sucessão de Ricardo Salgado no BES, avançando com uma infografia com quatro possíveis sucessores: Amílcar Morais Pires (actual administrador financeiro do BES), José Maria Ricciardi (actual presidente do BES Investimento, e primo de Ricardo Salgado), Bernardo Espírito Santo (também da família e líder das operações no Brasil) e Álvaro Sobrinho. Todos estes nomes já haviam sido noticiados como possíveis sucessores, menos o de Sobrinho, que assim apareceu pela primeira vez.

“O i chegou ao desplante máximo e despudorado de dar o seu patrão como candidato à liderança do Grupo BES”, escreve Paulo Padrão. Que ironiza: “No grupo BES aguarda-se com incontida ansiedade pela confirmação desta intenção comunicada pelo i.”

O conflito era até aqui latente e negado. Em Dezembro de 2012, numa entrevista ao Negócios por altura da inauguração da nova sede do BESA, em Luanda, Álvaro Sobrinho dizia ter as melhores relações com Ricardo Salgado. “Tenho uma relação de confiança com o Dr. Ricardo Salgado. Do ponto de vista profissional ele é líder do BES. Do ponto de vista pessoal tenho com ele uma relação do melhor que podia acontecer. Não tenho nada a apontar”.

A Newshold detém várias participações em órgãos de comunicação social em Portugal. Além da gestão do i, é dona do “Sol” e é accionista minoritária com cerca de 15% da Cofina, grupo que detém o Negócios.

O Negócios tem tentando ao longo da manhã contactar a Newshold, até ao momento sem sucesso.


Leia a carta de Paulo Padrão às redacções na íntegra:

A título de esclarecimento, venho prestar a seguinte informação.

O jornal i prepara-se para publicar amanhã (25 de Setembro) mais um artigo de ataque ao BES e ao seu presidente executivo.

Pela 2ª vez no curto espaço de um mês o i avança com a informação falsa de que o Dr. Ricardo Salgado foi “chamado” ao Banco de Portugal (já o tinha feito com falsidade na edição de 28 de Agosto – desmentido formal do BES facilmente aferível junto do Banco de Portugal).

Diz o i que o Dr. Ricardo Salgado foi “chamado” ao Banco de Portugal ontem, 2ª feira (23 de Setembro), na sequência de um artigo do Sol. Desmentimos peremptoriamente que o Dr. Ricardo Salgado tenha sido “chamado” ao Banco de Portugal por causa do dito artigo. É completamente falso que o Dr. Ricardo Salgado se tenha deslocado ao Banco de Portugal na passada segunda feira.

Estas informações falsas podem ser facilmente verificadas junto do Banco de Portugal.

Com esta informação, que desmentimos totalmente, o i reforça a sua agenda principal dos últimos meses: atacar de forma ostensiva e sistemática o BES e o seu Presidente Executivo. Essa agenda coincide de forma perfeita, primeiro com a saída do patrão do i de presidente da comissão executiva do banco do grupo em Angola (no final de 2012) e, agora, com a saída de presidente do conselho de administração (durante o Verão).

O i chegou ao desplante máximo e despudorado de dar o seu patrão como candidato à liderança do Grupo BES (edição de 18 de Setembro). No grupo BES aguarda-se com incontida ansiedade pela confirmação desta intenção comunicada pelo i.

 Atentamente,

Paulo Padrão

Diretor de Comunicação

Grupo Banco Espírito Santo


Nota da direcção do jornal i
Por Jornal i
publicado em 26 Set 2013
O BES não pode esperar que os jornalistas deixem de exercer a sua profissão
A administração do Banco Espírito Santo (BES) teve ontem uma reacção desproporcional, violenta e inaudita face ao trabalho de investigação jornalística que o jornal i tem vindo a fazer sobre o envolvimento de administradores e altos quadros do Grupo Espírito Santo em diversos processos judiciais.

O jornal i solicitou um comentário do BES durante o dia de terça-feira ao facto de o dr. Ricardo Salgado ter sido chamado ao Banco de Portugal, mas não recebeu qualquer resposta – como tem sido habitual nos últimos contactos feitos pelos nossos jornalistas.

Através de uma carta enviada às redacções durante o dia de ontem (que não chegou ao i), a administração do BES acusa o nosso jornal, num tom inusitado para uma instituição financeira quase centenária, de “atacar de forma ostensiva e sistemática o BES e o seu presidente executivo”, ligando as notícias que temos vindo a publicar com a saída do dr. Álvaro Sobrinho da administração do Banco Espírito Santo de Angola. Tais acusações levaram mesmo o “Jornal de Negócios” a afirmar que a administração do BES “assume estar em guerra com o angolano Álvaro Sobrinho”.

A direcção do jornal i rege o seu trabalho por critérios exclusivamente jornalísticos, avaliando a credibilidade e a veracidade da informação recolhida pelos seus jornalistas de forma independente de qualquer poder político ou económico. Tal como assume, de boa-fé, os erros quando os mesmos se verificam.

O jornal i não está portanto em guerra com ninguém.

Desde o início da investigação jornalística que a administração do BES tem recusado esclarecer de forma clara as dúvidas dos nossos jornalistas, optando, ao invés, por tentar descredibilizar o trabalho do i. Essa política de comunicação do BES visa igualmente condicionar o trabalho dos nossos jornalistas.

O BES tem tentado pressionar igualmente a direcção e os jornalistas do i que têm feito o seu trabalho.

A direcção do jornal i não se deixa intimidar com o poder económico e publicitário do BES e continuará a garantir o direito de informar e a acompanhar toda a informação que os seus jornalistas recolham com profissionalismo, isenção e respeito pelo nosso código deontológico.

Compreendemos, obviamente, que a administração do BES não goste de ver escrito que dois dos seus principais administradores foram constituídos arguidos por suspeitas do crime de inside trading, percebemos que o BES não queira que se saiba que o dr. Ricardo Salgado, presidente executivo, e o dr. Morais Pires, administrador executivo, fizeram rectificações dos respectivos IRS de 2011 num valor que supera os 9,6 milhões de euros na sequência do processo Monte Branco, entendemos que a liderança do BES prefira que não sejam conhecidas declarações de três administradores da Escom que, após serem informados da sua condição de arguidos por corrupção activa, branqueamento de capitais e tráfico de influências, afirmaram que actuaram sempre com “o total conhecimento e concordância dos seus então accionistas”, isto é, o Grupo Espírito Santo.

Compreendemos igualmente que a administração do BES prefira não fazer comentários ao facto de o dr. Ricardo Salgado ter sido remunerado em 8,5 milhões de euros através de uma offshore por uma consultoria externa realizada a um cliente do banco.

Compreendemos, enfim, que estes factos sejam incómodos para a liderança do BES. Mas uma coisa o BES não pode esperar: que os jornalistas tenham medo do seu poder financeiro e deixem de exercer a sua profissão.

O jornal i, com toda a certeza, continuará a fazer o seu trabalho respeitando todos os poderes da sociedade portuguesa, mas sem ceder um milímetro na missão jornalística da busca de informação verdadeira, factual e com relevância pública.


A direcção do i

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