domingo, 29 de maio de 2022

Montenegro na hora da vitória: “Maioria expressiva vai facilitar unidade”

 


 PSD

Montenegro na hora da vitória: “Maioria expressiva vai facilitar unidade”

 

Luís Montenegro vence em todos os distritos e compromete-se com oposição “firme mas com sentido de Estado”. Abstenção foi elevada.

 

Sofia Rodrigues

29 de Maio de 2022, 0:16

https://www.publico.pt/2022/05/29/politica/noticia/montenegro-hora-vitoria-maioria-expressiva-vai-facilitar-unidade-2008095

 

Os mais próximos de Luís Montenegro apontavam para uma vantagem 60/40 mas a vitória do antigo líder parlamentar acabaria por ser mais expressiva: chegou aos 72,46%, deixando Jorge Moreira da Silva com 27,53%. Só a abstenção ensombrou a folgada vantagem ao ter-se fixado nos 39%.

 

O antigo líder parlamentar conseguiu ser eleito, à segunda tentativa, com mais votos (19.220) do que as últimas duas vezes em que Rui Rio concorreu. Nas últimas directas, Rio foi eleito com 18.888 votos, e nas anteriores, em 2020, contra Montenegro, o ex-autarca do Porto contabilizou 17.758 votos.

 

Desta vez, a vitória foi inequívoca. Montenegro ganhou em todas as distritais e conseguiu uma forte maioria nos quatro maiores distritos - Porto, Braga, Lisboa e Aveiro - e conseguiu um esmagador resultado na Região Autónoma da Madeira.

 

No discurso da noite, num hotel em Espinho, a sua terra natal, o líder eleito quis passar uma mensagem de unidade depois de o partido ter vivido guerras internas nos últimos anos. “Este resultado revela que, nós, no PSD temos uma maioria expressiva a secundar esta liderança e este programa. Vamos ter a vida mais facilitada para termos unidade e coesão. Com este resultado enviámos um sinal ao país. Nas directas do PSD, o país habituou-se a tirar conclusões: Era eleito um líder mas o partido continuava dividido. Hoje foi eleito um líder mas o partido está unido”, afirmou.

 

Um desses sinais de unidade seria a integração do seu adversário na sua direcção. Jorge Moreira da Silva descartou a possibilidade de vir a aceitar responsabilidades na nova equipa mas Luís Montenegro parece não desistir. “É óbvio que não vou anunciar como é que vou integrar o engenheiro Moreira da Silva. E não é só ele, mas todas as pessoas que estiveram com ele. São nossos companheiros”, afirmou. Houve palmas e a sala não arrefeceu.

 

O novo líder eleito afastou também ser um presidente de transição até 2024. Garantiu que será “candidato a primeiro-ministro em 2026” e assumirá as responsabilidades pelo seu desempenho e pelo teste eleitoral que serão as europeias de 2024: “Não me importo nada de daqui a dois anos assumir a responsabilidade por aquilo que fizer daqui a dois anos e pelos resultados das europeias”.

 

No seu discurso, o antigo líder parlamentar teve a preocupação de tentar falar para fora (e não apenas para dentro do partido). “Vamos dar um novo ciclo à oposição e a Portugal. Na nova legislatura, o povo deu todas as condições para o PS governar, não depende de ninguém para concretizar o seu programa”, afirmou, dando o tom para a oposição que se propõe fazer: “Construtiva, firme e exigente para dar uma alternativa a Portugal”.

 

Respondendo aos críticos internos que receiam uma liderança muito exuberante e excessiva, Montenegro definiu a oposição como “firme mas com sentido de Estado”. Era, curiosamente, a definição usada por Rui Rio.

 

Mais do que ser oposição ao Governo, o novo líder quer ser a voz “dos que esperam e desesperam à porta dos hospitais e dos centros de saúde”, “dos jovens que obtêm uma qualificação superior mas que não conseguem encontrar trabalho para conseguir dar ao país esse projecto, dos que já não trabalham, dos que têm salários médios e das pessoas que têm rendimentos mais baixos e que têm dificuldades em conseguir comprar bens essenciais”. “Não vamos ser apenas a voz da oposição, vamos ser a voz da esperança, a voz do futuro”, rematou.

 

Já na fase das perguntas dos jornalistas, Montenegro eleito revelou que terá um encontro com o líder parlamentar, Paulo Mota Pinto, “na próxima semana para a articulação entre a direcção política e direcção da bancada”.

 

Questionado sobre como é que se vai articular com Rui Rio, que só deixará de ser presidente do PSD no congresso de Julho, o líder eleito disse que se irá “articular à moda dos homens-bons”. “Trataremos isso de uma forma mais discreta, não vamos estar a anunciar o que vamos articular”, disse.

 

Quanto ao Chega, Montenegro rejeitou que fosse “tema de campanha” e que “algum dia venha a ser”.

 

O ecrã gigante da sala, ao longo da noite, repetiu vezes sem conta as imagens de campanha, todas elas sessões em jeito de comício: militantes a agitar as bandeiras, a aplaudir e a cumprimentar o candidato de forma muito entusiástica. A meio da noite, quando se percebeu que a vitória de Luís Montenegro já ganhava força, essas imagens pareciam replicar-se na sala.

 

O espaço demorou a encher – a exibição do jogo da final da Liga dos Campeões pode ajudar a explicar – mas o ambiente foi tornando-se festivo, com muitos abraços entre apoiantes mais próximos.

 

Na candidatura havia o receio de que Montenegro não conseguisse arrancar uma vantagem significativa, o que podia traduzir a imagem de um partido dividido. E, por isso, essa foi uma das mensagens da noite. O outro risco era a da baixa participação dos militantes já que foi um sábado de sol e de temperaturas elevadas em todo o país. Esse acabou por se confirmar.

 

Dos 44.622 militantes inscritos, votaram 26.964 militantes (só faltavam 11 votos por apurar no fecho desta edição), o que coloca para já a abstenção nos 39,6%, um valor muito superior ao das últimas directas em Novembro passado em que se registou 21,8%. O líder eleito desvalorizou os números, considerando que não foi a sua candidatura que contribuiu para eles.

 

Quando a vitória já era inequívoca, algumas apoiantes encontravam-se à porta do hotel enquanto espreitavam os resultados no telemóvel. “Estamos felizes, fez-se justiça”, disse ao PÚBLICO Sandra Prata, que partilhou com Montenegro a primeira comissão política da JSD há mais de 30 anos. Sandra Prata foi também apoiante do antigo líder parlamentar nas directas de 2020 em que saiu derrotado. “Da outra vez houve muita política de bastidores”, comentou. Uma outra militante, também de Espinho, lembrou que o antigo líder parlamentar já respira política desde criança. “Ele desde os sete anos que faz campanhas. Ia para a sede [do PSD em Espinho] à noite e nós depois íamos levá-lo a casa”, contou Conceição Maia.

 

Horas antes de o candidato ter chegado à sala do hotel, já o espaço estava composto com cadeiras e bandeiras. Alguns dos seus apoiantes mais próximos já estavam à sua espera, sorridentes. As últimas directas em Novembro, em que o favorito parecia Paulo Rangel mas foi Rui Rio a ganhar, deixaram os militantes um pouco traumatizados com os palpites: desta vez ninguém queria apostar um resultado.

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