Montenegro na hora da vitória: “Maioria expressiva vai
facilitar unidade”
Luís Montenegro vence em todos os distritos e compromete-se
com oposição “firme mas com sentido de Estado”. Abstenção foi elevada.
Sofia Rodrigues
29 de Maio de
2022, 0:16
Os mais próximos
de Luís Montenegro apontavam para uma vantagem 60/40 mas a vitória do antigo
líder parlamentar acabaria por ser mais expressiva: chegou aos 72,46%, deixando
Jorge Moreira da Silva com 27,53%. Só a abstenção ensombrou a folgada vantagem
ao ter-se fixado nos 39%.
O antigo líder
parlamentar conseguiu ser eleito, à segunda tentativa, com mais votos (19.220)
do que as últimas duas vezes em que Rui Rio concorreu. Nas últimas directas,
Rio foi eleito com 18.888 votos, e nas anteriores, em 2020, contra Montenegro,
o ex-autarca do Porto contabilizou 17.758 votos.
Desta vez, a
vitória foi inequívoca. Montenegro ganhou em todas as distritais e conseguiu
uma forte maioria nos quatro maiores distritos - Porto, Braga, Lisboa e Aveiro
- e conseguiu um esmagador resultado na Região Autónoma da Madeira.
No discurso da
noite, num hotel em Espinho, a sua terra natal, o líder eleito quis passar uma
mensagem de unidade depois de o partido ter vivido guerras internas nos últimos
anos. “Este resultado revela que, nós, no PSD temos uma maioria expressiva a
secundar esta liderança e este programa. Vamos ter a vida mais facilitada para
termos unidade e coesão. Com este resultado enviámos um sinal ao país. Nas
directas do PSD, o país habituou-se a tirar conclusões: Era eleito um líder mas
o partido continuava dividido. Hoje foi eleito um líder mas o partido está
unido”, afirmou.
Um desses sinais
de unidade seria a integração do seu adversário na sua direcção. Jorge Moreira
da Silva descartou a possibilidade de vir a aceitar responsabilidades na nova
equipa mas Luís Montenegro parece não desistir. “É óbvio que não vou anunciar
como é que vou integrar o engenheiro Moreira da Silva. E não é só ele, mas
todas as pessoas que estiveram com ele. São nossos companheiros”, afirmou.
Houve palmas e a sala não arrefeceu.
O novo líder
eleito afastou também ser um presidente de transição até 2024. Garantiu que
será “candidato a primeiro-ministro em 2026” e assumirá as responsabilidades
pelo seu desempenho e pelo teste eleitoral que serão as europeias de 2024: “Não
me importo nada de daqui a dois anos assumir a responsabilidade por aquilo que
fizer daqui a dois anos e pelos resultados das europeias”.
No seu discurso,
o antigo líder parlamentar teve a preocupação de tentar falar para fora (e não
apenas para dentro do partido). “Vamos dar um novo ciclo à oposição e a
Portugal. Na nova legislatura, o povo deu todas as condições para o PS
governar, não depende de ninguém para concretizar o seu programa”, afirmou,
dando o tom para a oposição que se propõe fazer: “Construtiva, firme e exigente
para dar uma alternativa a Portugal”.
Respondendo aos
críticos internos que receiam uma liderança muito exuberante e excessiva,
Montenegro definiu a oposição como “firme mas com sentido de Estado”. Era,
curiosamente, a definição usada por Rui Rio.
Mais do que ser
oposição ao Governo, o novo líder quer ser a voz “dos que esperam e desesperam
à porta dos hospitais e dos centros de saúde”, “dos jovens que obtêm uma
qualificação superior mas que não conseguem encontrar trabalho para conseguir
dar ao país esse projecto, dos que já não trabalham, dos que têm salários
médios e das pessoas que têm rendimentos mais baixos e que têm dificuldades em
conseguir comprar bens essenciais”. “Não vamos ser apenas a voz da oposição,
vamos ser a voz da esperança, a voz do futuro”, rematou.
Já na fase das
perguntas dos jornalistas, Montenegro eleito revelou que terá um encontro com o
líder parlamentar, Paulo Mota Pinto, “na próxima semana para a articulação
entre a direcção política e direcção da bancada”.
Questionado sobre
como é que se vai articular com Rui Rio, que só deixará de ser presidente do
PSD no congresso de Julho, o líder eleito disse que se irá “articular à moda
dos homens-bons”. “Trataremos isso de uma forma mais discreta, não vamos estar
a anunciar o que vamos articular”, disse.
Quanto ao Chega,
Montenegro rejeitou que fosse “tema de campanha” e que “algum dia venha a ser”.
O ecrã gigante da
sala, ao longo da noite, repetiu vezes sem conta as imagens de campanha, todas
elas sessões em jeito de comício: militantes a agitar as bandeiras, a aplaudir
e a cumprimentar o candidato de forma muito entusiástica. A meio da noite,
quando se percebeu que a vitória de Luís Montenegro já ganhava força, essas
imagens pareciam replicar-se na sala.
O espaço demorou
a encher – a exibição do jogo da final da Liga dos Campeões pode ajudar a
explicar – mas o ambiente foi tornando-se festivo, com muitos abraços entre
apoiantes mais próximos.
Na candidatura
havia o receio de que Montenegro não conseguisse arrancar uma vantagem
significativa, o que podia traduzir a imagem de um partido dividido. E, por
isso, essa foi uma das mensagens da noite. O outro risco era a da baixa
participação dos militantes já que foi um sábado de sol e de temperaturas
elevadas em todo o país. Esse acabou por se confirmar.
Dos 44.622
militantes inscritos, votaram 26.964 militantes (só faltavam 11 votos por
apurar no fecho desta edição), o que coloca para já a abstenção nos 39,6%, um
valor muito superior ao das últimas directas em Novembro passado em que se
registou 21,8%. O líder eleito desvalorizou os números, considerando que não
foi a sua candidatura que contribuiu para eles.
Quando a vitória
já era inequívoca, algumas apoiantes encontravam-se à porta do hotel enquanto
espreitavam os resultados no telemóvel. “Estamos felizes, fez-se justiça”,
disse ao PÚBLICO Sandra Prata, que partilhou com Montenegro a primeira comissão
política da JSD há mais de 30 anos. Sandra Prata foi também apoiante do antigo
líder parlamentar nas directas de 2020 em que saiu derrotado. “Da outra vez houve
muita política de bastidores”, comentou. Uma outra militante, também de
Espinho, lembrou que o antigo líder parlamentar já respira política desde
criança. “Ele desde os sete anos que faz campanhas. Ia para a sede [do PSD em
Espinho] à noite e nós depois íamos levá-lo a casa”, contou Conceição Maia.
Horas antes de o
candidato ter chegado à sala do hotel, já o espaço estava composto com cadeiras
e bandeiras. Alguns dos seus apoiantes mais próximos já estavam à sua espera,
sorridentes. As últimas directas em Novembro, em que o favorito parecia Paulo
Rangel mas foi Rui Rio a ganhar, deixaram os militantes um pouco traumatizados
com os palpites: desta vez ninguém queria apostar um resultado.
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