segunda-feira, 30 de maio de 2022

À frente do PSD, uma montanha

 


EDITORIAL

À frente do PSD, uma montanha

 

Voltar a reconquistar o eleitorado que ao longo de quase 50 anos de democracia tem escolhido inexoravelmente governações sociais-democratas, umas mais à esquerda outras mais à direita, é uma das grandes tarefas do novo líder do PSD.

 

David Pontes

29 de Maio de 2022, 21:30

https://www.publico.pt/2022/05/29/opiniao/editorial/frente-psd-montanha-2008151

 

“Portugal ganhou hoje a formação de uma alternativa política ao socialismo que nos tem governado e desgovernado nos últimos anos.” Foi assim que o novo líder dos sociais-democratas se dirigiu aos portugueses no início do seu discurso vitorioso, depois de ter conquistado o partido com 72,46% dos votos, deixando o seu adversário Jorge Moreira da Silva com 27,53%.

 

A ideia de que há um “socialismo que governa Portugal”, como diz Luís Montenegro, parece ir beber à linguagem das redes, onde quem ataca “o socialismo” é habitualmente apelidado de “liberal”. Acontece que em Portugal não vigora nenhum regime socialista e ao entrar nesta polarização própria das redes, descolada da realidade em que os portugueses vivem, o líder social-democrata não está a dar um grande impulso para entrar na corrida no espaço onde se vencem eleições, a disputa do centro.

 

Até porque a verdade é que é muito mais fácil atribuir ao PSD uma política “liberal”, nomeadamente durante o mandato de Passos Coelho, do que alguma vez o PS ter governado em “socialismo”, no sentido ideológico da palavra. Voltar a reconquistar o eleitorado que ao longo de quase 50 anos de democracia tem escolhido inexoravelmente governações sociais-democratas, umas mais à esquerda, outras mais à direita, é uma das grandes tarefas do novo líder do PSD. E, para isso, a dicotomia “socialismo” versus “liberal” não ajuda muito.

 

Esta é uma das faces da montanha eleitoral que o PSD tem de vencer. Na noutra face, há que estancar e mesmo reconquistar os votos perdidos para os novos partidos à direita. E aqui, mesmo que o cálculo político possa levar a não alienar nenhumas possíveis alianças, não se percebe como isso se fará sem atacar e mostrar bem vincadas as diferenças em relação às outras forças, especialmente em relação ao Chega. E nem sempre Montenegro tem sido claro nessa tarefa.

 

Com a possibilidade de ter de enfrentar uma maioria absoluta na oposição, arredado do Parlamento, o espinhense tem uma tarefa hercúlea pela frente. Mas já leva a vantagem de partir com uma vitória inequívoca no partido, em que ganhou em todas as distritais e conseguiu uma forte maioria nos quatro maiores distritos – Porto, Braga, Lisboa e Aveiro – e um esmagador resultado na Madeira. Um bom ponto de partida para “ser a voz da esperança”, a “voz do futuro”, mas, como Luís Montenegro sabe, é preciso mostrar um programa alternativo aos socialistas para os desafiar no local central do espectro político onde, de momento, estão instalados.

 

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