EDITORIAL
À frente do PSD, uma montanha
Voltar a reconquistar o eleitorado que ao longo de quase
50 anos de democracia tem escolhido inexoravelmente governações
sociais-democratas, umas mais à esquerda outras mais à direita, é uma das
grandes tarefas do novo líder do PSD.
David Pontes
29 de Maio de
2022, 21:30
https://www.publico.pt/2022/05/29/opiniao/editorial/frente-psd-montanha-2008151
“Portugal ganhou
hoje a formação de uma alternativa política ao socialismo que nos tem governado
e desgovernado nos últimos anos.” Foi assim que o novo líder dos
sociais-democratas se dirigiu aos portugueses no início do seu discurso
vitorioso, depois de ter conquistado o partido com 72,46% dos votos, deixando o
seu adversário Jorge Moreira da Silva com 27,53%.
A ideia de que há
um “socialismo que governa Portugal”, como diz Luís Montenegro, parece ir beber
à linguagem das redes, onde quem ataca “o socialismo” é habitualmente apelidado
de “liberal”. Acontece que em Portugal não vigora nenhum regime socialista e ao
entrar nesta polarização própria das redes, descolada da realidade em que os
portugueses vivem, o líder social-democrata não está a dar um grande impulso
para entrar na corrida no espaço onde se vencem eleições, a disputa do centro.
Até porque a
verdade é que é muito mais fácil atribuir ao PSD uma política “liberal”,
nomeadamente durante o mandato de Passos Coelho, do que alguma vez o PS ter
governado em “socialismo”, no sentido ideológico da palavra. Voltar a
reconquistar o eleitorado que ao longo de quase 50 anos de democracia tem
escolhido inexoravelmente governações sociais-democratas, umas mais à esquerda,
outras mais à direita, é uma das grandes tarefas do novo líder do PSD. E, para
isso, a dicotomia “socialismo” versus “liberal” não ajuda muito.
Esta é uma das
faces da montanha eleitoral que o PSD tem de vencer. Na noutra face, há que
estancar e mesmo reconquistar os votos perdidos para os novos partidos à
direita. E aqui, mesmo que o cálculo político possa levar a não alienar
nenhumas possíveis alianças, não se percebe como isso se fará sem atacar e
mostrar bem vincadas as diferenças em relação às outras forças, especialmente
em relação ao Chega. E nem sempre Montenegro tem sido claro nessa tarefa.
Com a
possibilidade de ter de enfrentar uma maioria absoluta na oposição, arredado do
Parlamento, o espinhense tem uma tarefa hercúlea pela frente. Mas já leva a
vantagem de partir com uma vitória inequívoca no partido, em que ganhou em
todas as distritais e conseguiu uma forte maioria nos quatro maiores distritos
– Porto, Braga, Lisboa e Aveiro – e um esmagador resultado na Madeira. Um bom
ponto de partida para “ser a voz da esperança”, a “voz do futuro”, mas, como
Luís Montenegro sabe, é preciso mostrar um programa alternativo aos socialistas
para os desafiar no local central do espectro político onde, de momento, estão
instalados.
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