MUNDO
03.08.2021 às
15h46
INÊS FRADE FREIRE
Gelo que derreteu na Gronelândia num só dia seria
suficiente para cobrir Portugal com mais de 9 centímetros de água
Na Gronelândia está a assistir-se ao degelo mais
significativo do ano devido ao aumento das temperaturas no Ártico. A quantidade
de gelo que derreteu só na terça-feira, 27, seria suficiente para cobrir
Portugal com 9,2 cm de água
Mais de 8,5 mil
milhões de toneladas de massa superficial foi o que a Gronelândia – um
território dinamarquês entre o Atlântico Norte e o Oceano Ártico – perdeu só no
dia 27 de julho. No domingo seguinte, de acordo com o instituto meteorológico
dinamarquês (DMI), registou-se uma perda de 18,4 mil milhões de toneladas.
Apesar destes números impressionantes, o total da semana não é tão grave como o
degelo que ocorreu em 2019 – ano recorde em que 532 mil milhões de toneladas de
gelo derreteram.
Segundo Ted
Scambos, investigador sénior no Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo da
Universidade do Colorado, EUA, citado pela CNN, “no dia 27 de julho, a maior
parte da metade oriental da Gronelândia, desde a ponta norte até a ponta sul,
derreteu, o que é incomum”, salientando que este degelo é “significativo”.
As alterações
climáticas têm provocado um aumento incomum nas temperaturas, com registos de
mais de 20 graus no norte da Gronelândia, na última semana, de acordo com o
DMI, provocando o que já é o terceiro caso de degelo extremo neste continente,
na última década. O fenómeno, que começou na década de 1970, quando começou a
notar-se um recuo da calota glaciar da ilha, tem vindo a estender-se mais para
o interior do que em toda a era dos satélites, e está a abranger uma área
maior.
Num estudo
recente publicado na revista científica The Cryosphere, a Terra perdeu 28 mil
milhões de toneladas de gelo desde meados da década de 1990, grande parte dela
originária do Ártico, incluindo a camada de gelo da Gronelândia. “Na última
década, já vimos que o degelo da superfície na Gronelândia se tornou mais
severo e errático”, lamenta Thomas Slater, glaciologista da Universidade de
Leeds e coautor do relatório.
Apesar de a
situação atual na Gronelândia não ser a mais grave de que há registo, “à medida
que a atmosfera continua a aquecer na Gronelândia, eventos como o degelo
extremo de ontem tornar-se-ão mais frequentes”, realça o glaciologista. Além
disso, a água mais quente do oceano também está a derreter a camada de gelo das
margens.
Slater explica
ainda que, enquanto este fenómeno continuar a acontecer de forma progressiva,
as cidades costeiras ficam vulneráveis a enchentes, principalmente quando
coincidir com as marés altas e cheias. Este fenómeno de degelo na Gronelândia
deve elevar o nível do mar global entre 2 a 10 centímetros, até o final do
século, acrescentou.
A solução para
inverter a tendência de degelo, de acordo com os cientistas, passa pela
diminuição da emissões de gases – que é cada vez maior -, porque, caso
contrário, só vai acontecer com cada vez mais frequência.
“Embora tais
eventos sejam preocupantes, a ciência é clara”, salientou Slater, concluindo com
um incentivo: “Metas e ações climáticas significativas podem ainda limitar o
quanto o nível global do mar vai subir neste século, reduzindo os danos
causados por graves inundações a pessoas e infraestruturas em todo o mundo.”

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