Petição pede versão antiga do Museu Romântico do Porto
O Museu do
Romântico foi remodelado
Helena Teixeira
da Silva
Ontem às 23:27
https://www.jn.pt/artes/peticao-pede-versao-antiga-do-museu-romantico-do-porto-14078506.html
Rui Moreira
defende nova configuração do espaço e reitera confiança em Nuno Faria, diretor
artístico do Museu da Cidade. PS e PSD contestam.
"Nenhum
espólio foi destruído, nenhuma obra desperdiçada, nem ninguém pode acusar-nos
de não termos preocupações patrimoniais", argumenta, ao JN, Rui Moreira,
presidente da Câmara do Porto, a propósito da polémica que arde há cinco dias
sobre a nova configuração do ex-Museu Romântico da cidade.
"Simplesmente",
continuou o também vereador da Cultura, "a nossa visão do Romantismo não é
a de uma casa com janelas entaipadas e exposições apresentadas por trás de
baias, para que as pessoas ali imaginem a vida dos ricos ou dos nobres do
século XIX".
Há quem não veja
assim o assunto, pelo que são já mais de 1500 os subscritores de uma petição a
pedir "a reposição da decoração interior oitocentista do Museu Romântico
da Quinta da Macieirinha", onde viveu Carlos Alberto de Savoia. Em 1849, o
antigo Rei da Sardenha, derrotado pelo exército austríaco, seguia para o exílio
quando, ao passar no Porto, se sentiu mal. Daí ter alugado aquela casa que em
tempos foi propriedade da família Ferreira Pinto Basto. Ali viria a morrer
pouco tempo depois.
Em ano de
eleições autárquicas, PS e PSD também protestam. "A reconfiguração
escandaliza a cidade e desrespeita a memória e o património do Porto. A mudança
significou a destruição de tudo o que o museu representava até aos nossos
dias", lamentou esta terça-feira, em comunicado, a candidatura do
socialista Tiago Barbosa Ribeiro.
No mesmo sentido,
o candidato do PSD, Vladimiro Feliz, disse estar "chocado" com o que
viu de manhã, em visita ao espaço, que diz ter sido "esvaziado de toda a
sua história", impedindo "a forma que os portuenses, e quem nos
visita, tinham de experienciar o ambiente daquela altura [romântica]". Em
declarações ao "Porto Canal", criticou ainda o que considera ser uma
decisão política. " Apagar a história faz parte da cultura experimentalista
do atual executivo."
O anúncio da
polémica
A polémica sobre
o ex-Museu Romântico do Porto, agora designado "Extensão do Romantismo -
Museu da Cidade", rebentou na passada sexta-feira, dia da inauguração da
Feira do Livro, quando uma publicação no Facebook daquele evento literário
anunciou: "Se conhecia o anterior Museu Romântico da Macieirinha,
prometemos que este novo espaço nada tem a ver com o local que outrora visitou.
O espaço despiu-se dos adereços de casa burguesa oitocentista e vestiu-se de
contemporaneidade."
Em poucos
minutos, as redes sociais chumbaram a mudança e tornaram o tema viral.
Rui Moreira
repudia os termos do anúncio - "Houve um problema de comunicação da Ágora,
que usou um tom provocatório, que acirrou justificadamente as pessoas" -,
mas reitera a confiança no diretor artístico do Museu da Cidade. "Assumo a
responsabilidade política pela grande escolha de Nuno Faria. Continua a merecer
toda a minha confiança - ele e a equipa."
Já Nuno Faria,
que assumiu o cargo em 2019, depois ter dirigido, durante seis anos, o Centro
Internacional de Artes José de Guimarães, em Guimarâes, defende, numa longa
entrevista ao JN, que a aposta incide sobre um "espaço mais inclusivo que
se dedique, agora, verdadeiramente ao escrutínio do Romantismo na cidade nas
suas diferentes facetas, dando protagonismo aos verdadeiros protagonistas, que
são os artistas, escritores e músicos, por exemplo".
De resto,
ressalva o historiador da arte, está a espalhar-se um equívoco sobre a
filosofia a que obedece agora o espaço. "Não se trata de substituir os
artistas contemporâneos ou a arte contemporânea pelas obras de outros tempos.
Trata-se, isso sim, de fundar um museu que dialogue e reaja ao tempo em que
existe, que seja mais dinâmico, que seja permeável a novos discursos e
inquietações."
Neste sentido,
continua, "interessa-nos promover diálogos entre épocas e linguagens,
entre a arte e a música, entre a escrita e arquitetura, criando uma plataforma
mais alargada de fruição e de discussão, o que começará desde já a acontecer no
final deste mês de setembro com o programa musical concebido pela pianista e
professora Sofia Lourenço e pelo maestro e organista Pedro Monteiro, que incide
sobre autores portuenses do período romântico."
Dois temas
distintos têm, de facto, servido de combustão à polémica: o modelo expositivo
do interior e a incompreensão relativamente a um imóvel que Rui Moreira
inaugurou em 2018, e que então representou um investimento superior a meio
milhão de euros, financiado quase na totalidade por fundos europeus.
O autarca
esclarece, por um lado, que a exposição anterior esteve patente durante três
anos e nunca pretendeu ser definitiva; por outro, que a verba não foi utilizada
na musealização mas sim na requalificação da casa, nomeadamente no telhado, nas
janelas, nos quadros de eletricidade e nas cascatas de água.
Também ouvido
pelo JN, Camilo Rebelo, arquiteto responsável pelo projeto, corrobora.
"Tive uma intervenção ao nível do acesso, da inclusão (para pessoas com
mobilidade reduzida) e da iluminação do espaço. Tudo isso se mantém. O que foi
acrescentado é mais um passo na qualificação da casa e da cidade."
A presente
polémica, lembra o autor do Museu do Côa, é semelhante à que teve Álvaro Siza
em 1995, quando inaugurou a exposição "A Ordem do Ver e do
Dizer"", na Casa de Serralves. "Começou a abrir as janelas, que
também estavam entaipadas, e foi um escândalo. Também ali foi dado um
passo em frente."
Sem comentários:
Enviar um comentário