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OBJETIVO OPINIÃO
Um ministro a mais
João Marcelino 02
Julho 2021, 00:17
https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/um-ministro-a-mais-757647
São muitos os motivos para que Eduardo Cabrita saia do
Governo. Quanto mais depressa melhor porque toda esta indigência e falta de
caráter já fede – é um caso de sanidade pública.
1. A notícia tem
15 dias: um carro do Governo, no qual seguia o ministro Eduardo Cabrita, de
Portalegre para Lisboa, atropelou mortalmente um trabalhador de umas obras na
A6 relativas à limpeza na berma da referida autoestrada. Como sempre, lançam-se
investigações. Se não falhei a propaganda de nenhuma outra, há pelo menos três –
da GNR, do MP e do INEM.
E já sabemos
todos, também, que há duas versões desencontradas. O MAI de Cabrita garante que
a obra não estava assinalada e a Brisa diz o contrário, secundada pela empresa
subcontratada para a obra, a ArquiJardim.
2. Acidentes podem
sempre acontecer. Fazem parte da vida. O que não é admissível, num caso destes,
é que o ministro não tenha tido uma palavra direta para a família da vítima,
que deixa dois filhos. Este não é um comportamento normal num responsável
público, antes parece ser mais um indício de uma pessoa acossada, de um homem
sem dimensão para o cargo que exerce.
Este simples
gesto – ou a ausência dele, como se preferir – mostra falta de coragem pessoal
e incapacidade absoluta para o exercício das funções de ministro de um governo
de Portugal.
É importante
recordar ainda que Cabrita, segundo as testemunhas, também nunca saíra do carro
no momento do acidente.
Nenhum dos
inúmeros casos políticos em que o atual titular do MAI já se viu envolvido tem
a importância deste e a revelação de uma deprimente falta de condições de
caráter.
3. Acresce uma
outra notícia grave (do CM) conhecida ontem: a GNR terá sido impedida “por
ordem superior” de fazer perícias à viatura, um BMW, para apurar a que
velocidade seguia no momento do atropelamento, que segundo algumas testemunhas
circularia a “uma velocidade louca”, cerca de 200 km/hora, na faixa da
esquerda.
Para isso é
necessário aceder ao computador interno do carro. Mas neste preciso momento, e
segundo o CM, os responsáveis da investigação não sabem sequer para onde a
viatura foi levada depois de ter sido removida do local por um reboque da
própria GNR.
Esta notícia
encerra uma gravidade extrema: a de que num país dito democrático, no qual é
possível um estrangeiro ser morto dentro de instalações policiais, também é
possível alguém decretar uma “ordem superior” para procurar obstruir o
conhecimento da verdade num caso rodoviário envolvendo um ‘notável’.
4. Resta, além de
um ministro que está a mais, uma questão de fundo: a frequência com que os
carros do Poder circulam a velocidade ilegal nas estradas nacionais.
Nunca ninguém
será capaz de me explicar porque é que um elemento do Governo pode viajar a
mais do que os 120 km/h permitidos a qualquer cidadão. Pelo contrário, é de
elementar bom senso que fosse o dito responsável a dar o exemplo. Como é que um
Governo pode querer ser levado a sério em todos os campos, nomeadamente no da
segurança rodoviária e na mudança do paradigma de mobilidade nas cidades, e
depois tem elementos que se comportam como estando acima da lei que eles
próprios decretam?
5. Por mim, não
tenho dúvida: um ministro que circula acima da velocidade permitida por lei é,
objetivamente, responsável pelo eventual acidente. Nenhum motorista conduz a
200 km/h, ou a outra infringindo a Lei, se não tiver indicações concretas nesse
sentido. O contrário seria imaginar que neste caso o ministro estaria
sequestrado dentro do próprio automóvel ou fosse ele o funcionário.
São muitos os
motivos para que Eduardo Cabrita saia do Governo. Quanto mais depressa melhor
porque toda esta indigência e falta de caráter já fede – é um caso de sanidade
pública.

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