Onde está a
imperativa e necessária reacção de Rui Tavares, o responsável por esta
nomeação, à profunda turbulência e inefectividade política desta situação ?
OVOODOCORVO
EDITORIAL
O que está em
causa com a deputada do Livre
A gaguez de
Joacine Katar Moreira é uma realidade com evidentes impactes políticos que só
por hipocrisia se pode ignorar.
“Joacine foi
eleita e o seu mandato como deputada está nas suas mãos. Só ela pode decidir o
destino e as consequências dos votos que recebeu. Mas, como com todos os
deputados, o seu desempenho é alvo de escrutínio. Pelo que sabemos até agora,
as suas dificuldades discursivas limitam de forma severa esse desempenho. Não o
admitir é absurdo. Não o afirmar é-o ainda mais.”
Manuel Carvalho
5 de Novembro de
2019, 6:15
Numa democracia
plena não há lugar para tabus nem para interditos e é por isso que a gaguez da
deputada do Livre Joacine Katar Moreira se tornou objecto de discussão pública.
Tudo o que acontece na Assembleia da República justifica debate, aplauso ou
crítica e neste âmbito tanto cabem os talentos ou desvantagens naturais de
deputados, como questões políticas substantivas ou a forma como são
comunicadas.
Sim, a gaguez de
Joacine, que a impede de comunicar de forma perceptível ao hemiciclo e ao país
as ideias que defende ou as propostas que pode apresentar, é matéria que
justifica tomadas de posição. É essa a razão deste editorial, que se impõe face
aos artigos que aqui publicámos dos nossos colunistas sobre o tema e,
principalmente, face ao interesse que os nossos leitores têm manifestado face a
esta questão.
O primeiro ponto
que é obrigatório suscitar nesta discussão associa-se a uma questão de
legitimidade. Joacine foi eleita por cidadãos que conheciam perfeitamente as
suas limitações comunicacionais. Saber se teve os votos que teve por isso ou
apesar disso é irrelevante. O seu mandato tem exactamente a mesma solenidade,
legitimidade ou respeitabilidade que o mandato do mais eloquente dos deputados.
De resto, a vida de um deputado é muito mais do que falar em público. Há
estudos, relatórios, ideias, actos de fiscalização do executivo ou propostas de
lei que bastam para definir uma política.
Um deputado,
porém, tem de falar. Aos seus pares e ao país. Boa parte da imagem que constrói
e projecta passa por essa necessidade. A arte da oratória é importante desde os
primórdios do parlamentarismo por uma razão óbvia: é através da discussão que
se faz política. Seja no plenário ou nas comissões, dificilmente a deputada do
Livre poderá dispor dos argumentos dos adversários para influenciar os cidadãos
da bondade das suas propostas. A gaguez de Joacine é uma realidade com
evidentes impactes políticos que só por hipocrisia se pode ignorar.
Ela pode ganhar
experiência e melhorar a sua comunicação. Se não o conseguir, mesmo que à custa
de uma debilidade alheia à sua vontade, só por comiseração deixará de ser
avaliada negativamente no seu desempenho. Nem ela o merece, nem a verdade
democrática o tolera.
Joacine foi
eleita e o seu mandato como deputada está nas suas mãos. Só ela pode decidir o
destino e as consequências dos votos que recebeu. Mas, como com todos os
deputados, o seu desempenho é alvo de escrutínio. Pelo que sabemos até agora,
as suas dificuldades discursivas limitam de forma severa esse desempenho. Não o
admitir é absurdo. Não o afirmar é-o ainda mais.
tp.ocilbup@ohlavrac.leunam
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