PALESTINA
Joacine e
direcção do Livre trocam acusações. Fundador Rui Tavares critica deputada
Livre dá puxão de
orelhas a deputada ao fim de 29 dias e lembra o seu património na defesa da
Palestina
Liliana Borges 23
de Novembro de 2019, 23:03
Abster-se ou não
foi a questão. O voto de abstenção de Joacine Katar Moreira sobre a proposta do
PCP de condenação da nova agressão israelita a Gaza resultou num arrufo entre a
direcção do Livre e a deputada eleita pelo partido. A tensão no partido fez-se
sentir ao início da manhã, quando a direcção do Livre tornou público um
comunicado onde se demarcava do voto de Katar Moreira, sem que a voz da mesma
constasse no documento.
Joacine Katar
Moreira reagiu argumentando que a “abstenção não se deveu a uma falta de
consciência ou descaso desta grave situação, mas à dificuldade de comunicação”
com a actual direcção do Livre, da qual é parte integrante, para além de
deputada única do partido. “Foram três dias de contacto infrutífero para saber
dos posicionamentos da direcção relativos ao sentido de voto das propostas que
nos chegaram, onde esta constava”, afirma numa nota enviada ao PÚBLICO. Por não
saber qual a posição da direcção do Livre decidiu abster-se, justifica.
No mesmo
comunicado, a deputada do Livre assume “total responsabilidade pelo voto” e
esclarece que “apesar de a abstenção não constituir um voto a favor ou um voto
contra” a mesma não representou aquela que tem sido desde sempre a sua posição
pública sobre esta temática. “Votei contra a direcção de mim mesma. Condeno
totalmente as ofensivas israelitas sobre a Faixa de Gaza e toda a repressão que
o povo palestiniano tem sofrido a nível de bloqueios económicos, prisões e perseguições
e da implementação dos colonatos israelitas”, vinca.
Sobre o
comunicado da direcção emitido ao início deste sábado, Joacine Katar Moreira
confessou-se surpreendida, revelando ter sabido da crítica pela comunicação
social. Ora, justamente sobre a posição do partido, o Livre dizia em comunicado
que “ao longo dos seis anos de existência foram várias as ocasiões” em que o
partido pode dar “conta desta posição e da vontade do Livre em defender a causa
palestiniana na Assembleia da República”. No documento, o Livre defende que “a
União Europeia, à semelhança do que já foi feito por uma boa parte da
comunidade internacional, reconheça finalmente o Estado da Palestina”. “Caso
esse reconhecimento continue a ser protelado, achamos que Portugal deve avançar
em nome próprio e reconhecer a Palestina como um Estado soberano.”
Rui Tavares,
fundador do Livre e cabeça de lista por Lisboa em 2015, lembra que esta questão
“é muito cara ao património” do Livre e que nessas eleições, em que Joacine
também foi candidata, o reconhecimento do Estado da Palestina foi até
apresentado como condição para dialogar com um futuro governo PS. Na RTP3,
Tavares classificou este incidente com a agora deputada uma “singularidade”,
acrescentando que “não colhe o argumento” de que não conseguiu falar com a
direcção antes da votação. “A direcção do Livre é colegial e tem 15 pessoas”,
lembrou Tavares.
De acordo com
Pedro Nunes Rodrigues, membro do órgão de direcção do Livre, o grupo de
contacto questionou Joacine “por email, por chamada e por SMS” para falar sobre
o seu sentido de voto na sexta-feira, não tendo “recebido resposta até ao
momento de publicação do comunicado”.
No mesmo
comunicado em que justificou a abstenção sobre a Palestina, a deputada única do
Livre esclarece ainda que não participou na votação de um voto do PS sobre o 25
de Novembro, ocorrida no mesmo dia, ou seja, sexta-feira. Isto porque no
registo de votações o nome do Livre é omisso e também surgiram dúvidas entre
militantes do Livre sobre como teria sido a sua votação neste caso.
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