OVOODOCORVO
"Na entrevista, na qual se revela que é um italiano com 27 anos, Geco dizia que “os polícias são mais permissivos” em Lisboa do que em Roma, de onde é originário, e que na capital portuguesa é possível “pintar durante o dia”, coisa impensável na capital italiana. Os lisboetas, acrescentava, “geralmente são bastante receptivos, comparando com outras cidades”.
“O meu objectivo é ser visto e conhecido por toda a gente. Quero estar em tantos lugares que seja impossível não veres o meu nome”, afirmava. “Quero atrair a atenção de todos e provocar um sentimento de amor ou ódio. Só não quero passar despercebido.”
|
Geco está por
toda a Lisboa, mas a Justiça não consegue encontrá-lo
Ministério
Público arquivou queixa de lisboetas contra o graffiter por não ter conseguido
descobrir a sua real identidade. Associação de moradores diz que há “um
sentimento de impunidade” que é preciso combater.
João Pedro Pincha
João Pedro Pincha
5 de Novembro de 2019, 20:30
O Ministério
Público arquivou a queixa apresentada por uma associação de moradores de Lisboa
contra o graffiter Geco, cujas pinturas e autocolantes se encontram por toda a
cidade. Para além de ver frustrado o seu objectivo, a associação terá de pagar
custas judiciais no valor de 408 euros, o que leva os seus responsáveis a
acusar o Estado de os punir por “bom civismo”.
A associação
Vizinhos em Lisboa, que deu corpo formal a um conjunto informal de grupos de
vizinhos, interpôs a acção judicial contra Geco em Outubro do ano passado,
depois de o graffiter ter dado uma entrevista ao jornal O Corvo na qual dizia
que se sentia mais à vontade para pichar paredes em Lisboa do que em Roma.
A identidade real
de Geco não é conhecida. A sua obra está por toda a parte em Lisboa na forma de
enormes pinturas murais, tags e autocolantes, encontrando-se em empenas de
edifícios, sinais de trânsito, placas do metro, viadutos. Está muito longe de
ser o único graffiter com presença assídua e visível nas paredes da cidade, mas
os Vizinhos em Lisboa ficaram particularmente irritados com as suas declarações
a O Corvo.
Na entrevista, na
qual se revela que é um italiano com 27 anos, Geco dizia que “os polícias são
mais permissivos” em Lisboa do que em Roma, de onde é originário, e que na
capital portuguesa é possível “pintar durante o dia”, coisa impensável na
capital italiana. Os lisboetas, acrescentava, “geralmente são bastante receptivos,
comparando com outras cidades”.
“O meu objectivo
é ser visto e conhecido por toda a gente. Quero estar em tantos lugares que
seja impossível não veres o meu nome”, afirmava. “Quero atrair a atenção de
todos e provocar um sentimento de amor ou ódio. Só não quero passar
despercebido.”
Não passou aos
Vizinhos em Lisboa. “É preciso acabar com este sentimento de impunidade”,
escreveu a direcção num comunicado divulgado há meses, em que também dizia ser
necessário “começar a agir, de forma sistemática e consequente contra estes
indivíduos que infestam a nossa cidade de lixo gráfico” e que custam vários
milhões aos cofres municipais anualmente.
Ao manter a
decisão, o Tribunal da Relação condenou o colectivo ao pagamento de custas, no
valor de 408 euros. “Isto é ultrajante”, reage Rui Martins, fundador do grupo
Vizinhos do Areeiro e um dos dirigentes da Vizinhos em Lisboa.
“Com esta
discutível decisão da Relação, o Estado (o poder judicial é um dos três pilares
do Estado de direito) decidiu punir um grupo de cidadãos que fizeram o papel
que competia ao Estado (através do sistema de Justiça e dos seus órgãos de
polícia e investigação) e que este deveria ter já assumido, de forma decidida e
efectiva”, criticam, num comunicado ainda não divulgado a que o PÚBLICO teve
acesso.
A associação
ainda vai tentar recorrer do pagamento de custas e garante que isto não a
desmotiva. “É missão da associação a defesa do interesse dos munícipes
contribuintes (moradores da cidade) que assim deixam de poder ver aplicadas
verbas em benefício do seu habitat e da sua qualidade de vida em virtude dos
custos com limpezas, constituindo isso um dano significativo”, argumentam.
Sem comentários:
Enviar um comentário