Planetas,
planetas anões e satélites
Alguns planetas
estão a passar a planetas anões, caso do CDS, e pode ser que alguns dos actuais
anões passem uns a cometas e outros subam de categoria para planetas
propriamente ditos. Esta legislatura vai ser decisiva para a sorte dos pequenos
partidos.
José Pacheco
Pereira
9 de Novembro de
2019, 6:10
Vários
micropartidos chegaram à Assembleia. Não é tão novidade quanto se diz, mas
revelam tendências de voto que são relevantes para a análise eleitoral, tanto
mais que acompanham o encolhimento dos grandes partidos PS e PSD, que no seu
conjunto estão a ficar longe do peso eleitoral que, em percentagem, tinham no
passado, e acentuam o papel da ideologia nas escolhas, diminuindo o chamado
“voto útil”. Todos os partidos de poder, o PS, o PSD e o CDS, e mesmo o BE e o
PCP sofreram essas consequências. Mas convém lembrar que não é assim tão
difícil eleger um deputado, desde que o voto esteja muito concentrado, por
exemplo em Lisboa. Veja-se o caso muito esquecido do PSN de Manuel Sérgio. Isto
acentua o enorme falhanço da Aliança que, nesta ecologia eleitoral, tinha, à
partida, algumas vantagens e perdeu tudo à chegada. O Chega é outra coisa,
falaremos disso depois.
Se quisermos usar
uma metáfora astronómica, deixamos de ter na Assembleia os planetas gigantes,
que são gasosos e estão a perder muito gás e a aproximar-se dos seus núcleos
sólidos, temos planetas propriamente ditos, temos planetas anões e temos
satélites. Alguns planetas estão a passar a planetas anões, caso do CDS, e pode
ser que alguns dos actuais anões passem uns a cometas e outros subam de
categoria para planetas propriamente ditos. Esta legislatura vai ser decisiva
para a sorte dos pequenos partidos.
De qualquer modo,
como se verificou com o despromovido Plutão, que passou de planeta a anão, mas
apesar disso, quando o podemos ver de perto, revelou-se muito mais interessante
do ponto de vista científico do que se imaginava. Até um coração tem.
Os Verdes
rodeados pela “acção climática” por todo o lado
Os Verdes nunca
tiveram a oportunidade de serem “verdes”, nem o quiseram, nem o podiam. Criados
pelo PCP, e dependentes do PCP para poderem estar nas listas da CDU, com a
conta exacta para duplicar o número de grupos parlamentares de que os
comunistas dispunham, nunca concorreram a eleições sozinhos. Foram de facto
pioneiros em algumas questões ambientais, com a solitária companhia do PSD numa
sua fase também pioneira, mas a sua voz nunca se ouviu como uma voz
independente.
Agora é tarde.
Com partidos que rapidamente se moldaram às modas da “acção climática”, sem
grande tradição ambientalista como o BE e mesmo o PAN cujo “animalismo”
rapidamente se cobriu de ecologia, o PEV não tem chance de emancipação.
O Livre e o
problema de Joacine
Eu não quero
saber das saias do assessor para nada, nem da bandeira da Guiné (e a da União
Europeia nos outros?), mas quero saber de duas coisas que estão cada vez mais
interligadas, a radicalização do Livre e a politização da gaguez de Joacine, à
direita e à esquerda. A radicalização do Livre não se mede apenas pelas suas
propostas programáticas, mas também pela forma como o estilo da campanha e as
escolhas das pessoas fazem uma mutação invisível nessas propostas. O estilo, no
caso do Livre, é hoje mais revelador do que as propostas e o estilo, que tem a
empatia da imagem, vale de facto mais do que mil palavras.
A politização da
gaguez vem em pacote com o estilo e ameaça ocultar qualquer discurso racional,
se ele se tornar deliberadamente inaudível. Não há nenhuma razão para que um
deputado eleito não seja mudo e “fale” apenas em linguagem gestual. Essa
linguagem terá que ser traduzida por um intérprete, e isso não muda nada de
essencial no estatuto e função do deputado. Uma solução próxima para Joacine,
com alguém a ler as intervenções da deputada, deixando para o discurso directo
os debates e as discussões, diminuiria o ruído e o papel da gaguez. Mas isso
depende, como é obvio, da vontade da deputada. Só que o Livre e a sua
representante parlamentar têm que ter consciência de que essa escolha tem
implicações políticas.
A Iniciativa
Liberal e o voto dos pobres
A tese da
Iniciativa Liberal de que “a pobreza de muitos é aquilo que segura o PS no
poder” e que, por isso, o PS não combate eficazmente uma força que o mantém no
poder, é um absurdo. Se tivesse dito “a riqueza de alguns é aquilo que segura o
PS no poder” estaria mais certo.
O Chega e a
eficácia
A primeira
tentativa da direita radical de ter um partido na competição eleitoral foi o
PNR. Mas o PNR nunca conseguiu ter uma componente populista que fosse o
instrumento de que essa direita precisava. Durante os anos da troika, a
necessidade de ter uma expressão política para a direita radical foi resolvida
pela aliança do PSD-CDS, traduzida no governo de Passos e Portas. Esta direita
é fortemente pragmática, ou melhor, alguns dos seus mentores são pragmáticos,
querem é resultados. Não precisava de procurar votos por si, o PSD dava-lhos
para as políticas que precisava. Nunca teve tanto poder, no limite do
afrontamento constitucional, com o apoio da troika e da União Europeia, e a
flacidez do PS, daí a enorme orfandade quando Lopes perdeu perante Rio.
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