sábado, 3 de agosto de 2013

Uma campanha perigosa. Governo britânico acusado de racismo em campanha anti-imigração.

Uma campanha perigosa
Editorial/Público
Uma campanha para identificar e expulsar imigrantes ilegais no Reino Unido, com recurso a imagens de detenções publicadas na rede social Twitter e sustentada por um slogan ameaçador ("Volte para casa ou enfrente a detenção"), é um exemplo perverso de como um governo se permite pisar direitos elementares em nome da segurança. A campanha está a ser criticada pelo segundo partido da coligação, os Liberais Democratas, para quem estes métodos apenas inspiram desconfiança aos cidadãos. As autoridades estão a ser acusadas de deter cidadãos em plena rua, usando como única regra a cor da pele, para procurar imigrantes ilegais. O objectivo é tranquilizar os eleitores que estão a abandonar os conservadores em favor do partido xenófobo UKIP. O preço é alimentar as tensões raciais, o medo e a desconfiança. Numa sociedade democrática, estas práticas são pura e simplesmente inadmissíveis.



Governo britânico acusado de racismo em campanha anti-imigração
Por Alexandre Martins
03/08/2013 in Público
Acções do Ministério do Interior incluem cartazes com a frase "Vá para casa ou arrisca-se a ser detido", operações de identificação em Londres e mensagens no Twitter com fotografias de suspeitos

O Governo britânico está a ser acusado de "fomentar tensões raciais" no país devido a uma campanha para identificar imigrantes sem documentos, que tem como lema "Está ilegal no Reino Unido? Vá para casa ou arrisca-se a ser detido". Agentes dos serviços de imigração foram vistos a mandar parar "indivíduos de pele escura" em estações dos subúrbios de Londres e o Ministério do Interior começou a divulgar no Twitter fotografias de detenções de suspeitos.

O jornal The Independent revelou ontem que agentes do Ministério do Interior britânico realizaram nos últimos dias "operações de identificação aleatórias" em quatro subúrbios de Londres - Walthamstow, Kensal Green, Stratford e Cricklewood. De acordo com testemunhos de pessoas que assistiram às operações, os agentes interrogaram "apenas indivíduos de pele escura".

Um dos habitantes do subúrbio de Kensal Green, identificado como Phil O"Shea, disse ao jornal londrino Kilburn Times que os agentes reagiram com agressividade às questões levantadas por pessoas que não estavam a ser inspeccionadas: "Eles estavam a mandar parar e a interrogar todas as pessoas não-brancas, muitas das quais eram obviamente habitantes de Kensal Green que iam para o trabalho. Quando lhes perguntei o que se passava, ameaçaram deter-me por obstrução e disseram-me para seguir o meu caminho."

Questionado pelo The Independent, o Ministério do Interior negou que estas operações de identificação estejam ligadas à campanha realizada no início da semana em seis bairros londrinos, em que duas carrinhas foram postas a circular com um cartaz onde se podia ler a frase "Está ilegal no Reino Unido? Vá para casa ou arrisca-se a ser detido". De acordo com o mesmo jornal, o ministério não conseguiu, no entanto, dar exemplos de operações de identificação semelhantes realizadas no passado.

O comportamento dos agentes foi criticado pelo deputado Barry Gardiner, do Partido Trabalhista, na oposição. O deputado escreveu à ministra do Interior, Theresa May, acusando o Governo de estar a "pôr em causa as liberdades fundamentais" do Reino Unido.

"Ainda não vivemos numa sociedade em que a polícia ou quaisquer outros agentes da autoridade têm o direito de deter pessoas sem uma justificação plausível, para lhes exigir a apresentação de papéis. Mas as acções do seu departamento parecem estar a levar-nos nessa direcção", escreveu Barry Gardiner.

A consultora política e activista Christine Quigley, também do Partido Trabalhista, usou o Twitter para criticar as operações nos subúrbios de Londres: "Parece que os inspectores do UKBA [serviço de estrangeiros e fronteiras] estão a mandar parar apenas pessoas de minorias étnicas em Walthamstow. Para vossa informação, UKBA - nem todos os britânicos são brancos."

Em declarações ao The Independent, o representante dos trabalhistas no bairro de Brent, Muhammed Butt, considerou que as operações dos agentes e a campanha "Vá para casa ou arrisca-se a ser detido" estão ligadas. "Estas inspecções não são apenas intimidatórias, são também racistas e geradoras de divisão. Depois de falar com algumas testemunhas, parece que apenas foram interrogadas pessoas negras e de aparência asiática. E os brancos australianos e neozelandeses que podem ter ultrapassado os limites da sua estadia?"

Imagens no Twitter

As acções do Governo britânico contra a imigração de pessoas sem documentos reflectiram-se também nas redes sociais, com o Ministério do Interior a publicar fotografias de suspeitos no momento em que são detidos.

As mensagens são acompanhadas pela palavra-chave #immigrationoffenders (infractores da lei de imigração) e mostram imagens dos momentos das detenções, com a cara dos envolvidos - suspeitos e agentes - escondidas.

As reacções no Twitter vão desde o apoio incondicional a comparações à Alemanha nazi. "Há algum branco?", questionou o utilizador Dave Sykes. Um outro utilizador, Dev Raval, perguntou se "esta é mais uma ideia que foram buscar aos nazis".

No extremo oposto, um utilizador que se apresenta como apoiante do partido UKIP (antieuropeísta e anti-imigração) insta as autoridades a deportarem os suspeitos detidos, enquanto outro pede que o ministério vá actualizando os casos - "O que lhes vai acontecer agora? Por favor, actualizem a informação. Vão deixar que saiam em liberdade?"

Em resposta, foi criada uma conta no Twitter chamada "UK Go Home Office", que se dedica a ridicularizar as mensagens do Governo. Um dos tweets salienta a alegada natureza racista das operações nos subúrbios de Londres: "Olha à tua volta. Os infractores das leis de imigração vêm em várias formas, tamanhos e tons de castanho."

"Ambiente hostil"

O director executivo da associação de defesa dos refugiados Refugee Action, Dave Garratt, define a política do Governo britânico como uma "cruzada" e considera que pode "incitar tensões raciais".

Num texto publicado no jornal The Independent, Dave Garratt diz que detecta sinais de uma "cruzada com vista à criação de um ambiente hostil", com "carrinhas nas ruas com frases ameaçadoras e, alegadamente, pessoas não-brancas a serem paradas e revistadas".

Citado ontem pela edição online do jornal The Guardian, um porta-voz do Ministério do Interior, que falou sob anonimato, defendeu a estratégia do Governo: "Não pedimos qualquer desculpa por pôr em prática as nossas leis de imigração e os nossos agentes realizam centenas de operações como esta em Londres ao longo de todo o ano."

Em Maio passado - uma semana depois dos surpreendentes resultados do UKIP nas eleições locais -, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou que a alteração das leis de imigração iria passar a ser uma prioridade do seu Governo.

Entre outras coisas, a proposta de lei - que poderá ser aprovada ainda este ano - prevê o limite do acesso dos imigrantes em situação legal no país a benefícios sociais e aos serviços de saúde.



DAVE GARRATT
Thursday 1 August 2013
Home Office is now a tool for stirring up racial tension 

Over the last few weeks we’ve seen some very visible signs of the Government’s “hostile environment” crusade. There have been vans out on the streets with threatening slogans and, reportedly, non-white people being visibly stopped and searched.
The Home Office is responsible for community cohesion. Yet we are increasingly seeing what appears to be hostility towards non-white immigration, which will do nothing but incite racial tensions and divisions within otherwise rich and diverse communities.

This has to change. We urgently need a more balanced public debate on immigration, free of political agendas. Without it we risk eroding the very foundations of communities across the UK.

The Government has now made the Home Office, who are also responsible for community policing and safety, a highly visible, taxpayer-funded tool for stirring up racial tension and community unrest. The method and location of these stunts make it hard to believe that they are not targeted at non-white communities, but, whatever the truth, they are certainly perceived that way.


Refugee Action wants to see a more balanced debate about immigration, and believes the Home Office has a huge responsibility to avoid adding to its toxicity. At least in the interests of balance, we’d like some vans which say: “The NHS would collapse without foreign-born staff,” or “the Office of Budget Responsibility says that migration has a positive impact on the sustainability of public finances” or “without immigration Britain would be without tea”.

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