Polémica
sobre anti-semitismo abala o Labour a dias de importante teste
eleitoral
Sadiq
Khan, favorito à vitória em Londres, diz que declarações de
Livingstone podem ter consequências no resultado da votação
Ana Fonseca Pereira
/ 2-5-2016 / PÚBLICO
A poucos dias de um
importante teste eleitoral, o Partido Trabalhista britânico
debate-se para sair da tempestade desencadeada pelo antigo mayor de
Londres Ken Livingstone, suspenso depois de ter dito que Hitler foi
em tempos defensor do sionismo. Sadiq Khan, favorito a ocupar o cargo
que até 2008 foi dele, admite que a polémica pode reduzir as suas
hipóteses de vitória na quinta-feira.
As eleições —
locais em Inglaterra, autónomas no resto do país — são o
primeiro grande teste para Jeremy Corbyn desde que, em Setembro, foi
eleito líder dos trabalhistas. Mas as sondagens não são muito
auspiciosas, apontando para uma perda acentuada de lugares no
parlamento escocês, uma redução da maioria no País de Gales e
ganhos pouco significativos nas autarquias inglesas. O único alento
para Corbyn é a anunciada reconquista de Londres, que o Labour
perdeu há oito anos para Boris Johnson, com as sondagens a darem a
Khan grande vantagem sobre o rival conservador, Zac Goldsmith.
Mas a campanha — a
decorrer em simultâneo com a contagem decrescente para o referendo à
União Europeia — passou para segundo plano quando, na semana
passada, o antigo mayor decidiu sair em defesa de uma deputada
muçulmana que tinha sido suspensa por anti-semitismo e, a meio de
uma entrevista, disse que “Hitler era um sionista favorável à
criação de um Estado de Israel, mas depois enlouqueceu e matou seis
milhões de judeus”.
Corbyn acabou por
suspender também Livingstone e ordenou um inquérito para apurar se
há sectores no Labour complacentes com o anti-semitismo. Mas a
polémica está longe de terminar: sábado, numa outra entrevista,
Livingstone (que em 2006 esteve prestes a ser suspenso do cargo de
mayor depois de ter insultado um jornalista judeu) recusou pedir
desculpas e, ontem, a deputada Dianne Abbott, afirmou que as
acusações de anti-semitismo não passam de uma campanha de
“difamação” contra o Labour.
Distanciando-se
destas posições, Sadiq Khan reconheceu numa entrevista ao jornal
Observer que “os comentários de Ken Livingstone tornaram muito
mais difícil que os londrinos de fé judaica achem que há lugar
para eles no Partido Trabalhista”. Um risco maior quando Khan
acredita que a vantagem que detém sobre Goldsmith é bem menor do
que as sondagens indicam.
O candidato, filho
de um motorista de autocarro paquistanês e advogado de direitos
humanos, poderá tornarse o primeiro autarca muçulmano de uma grande
cidade europeia — factor que os conservadores têm usado
subrepticiamente contra ele, acusando-o de ter participado nos
últimos anos em encontros em que estiveram presentes imãs radicais.
Se for eleito, disse, “vou continuar a fazer o que sempre fiz, que
é falar com toda a gente”, muçulmanos ou judeus.
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