Fechar
túnel Áustria-Itália "seria catástrofe política",
avisa Juncker
08 DE MAIO DE 2016
Patrícia Viegas
Presidente da
Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, juntou-se a Angela Merkel e
Matteo Renzi nas críticas à ideia do governo austríaco para travar
passagem de ilegais pelo túnel de Brenner
O presidente da
Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, pensa que "seria uma
catástrofe política" o encerramento da fronteira entre a
Áustria e a Itália, com o objetivo de impedir a passagem de
migrantes pelo túnel de Brenner - local onde ontem cerca de 600
pessoas se manifestaram contra a ideia do governo austríaco.
"Qualquer
bloqueio no túnel de Brenner teria não só consequências
económicas graves, mas pesadas consequências políticas",
advertiu o político luxemburguês em entrevista ao jornal do grupo
alemão Funke Mediengruppe, citada pela Reuters e pela Lusa. O túnel
de Brenner é uma passagem nos Alpes que liga Innsbruck a Fortezza. e
é um ponto de passagem de grande importância para transportes e
turistas europeus. A Áustria ameaçou instalar uma barreira para
impedir a entrada dos migrantes pelo túnel se o governo italiano não
controlar o fluxo de pessoas que usam esse percurso para entrar em
território austríaco (desde janeiro já chegaram a Itália 28 500
migrantes). Em 2015, a Áustria acolheu 90 mil refugiados, 1% da sua
população. Para 2016, Viena fixou o limite de 37 500 pedidos de
asilo e, até agora, já registou cerca de metade deste valor.
"Aquilo que
vemos na Áustria, vemos infelizmente também noutros países
europeus ou em partidos que jogam com o medo das pessoas",
lamentou Juncker, numa referência a países como a Hungria, a
Polónia ou a Eslováquia, que contestam o sistema de quotas para
redistribuir os refugiados (sobretudo oriundos da Síria) pelos 28
Estados membros da UE. E a partidos, como o alemão AfD, que tentam
obter ganhos eleitorais à boleia da crise dos refugiados. Na Áustria
um candidato do partido de extrema-direita FPÖ passou à segunda
volta das presidenciais, que se realiza no próximo dia 22.
Budapeste e Varsóvia
desafiaram mesmo a ideia junto dos tribunais e o governo do
primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, anunciou que vai realizar
um referendo sobre o sistema de quotas, em setembro ou outubro. A
Comissão Europeia, por seu lado, propôs que os países que recusem
receber os refugiados que a sua quota define paguem uma multa de 250
mil euros por cada pedido de asilo que rejeitem.
Além do túnel de
Brenner, Juncker referiu, na entrevista, a decisão de erguer uma
vedação na fronteira Grécia-Macedónia para impedir a passagem de
migrantes. "Não partilho da visão dos que dizem que esta
vedação - ou que a construção de vedações em geral - possa
contribuir para uma solução de longo prazo para esta crise dos
refugiados [na Europa). As vedações podem impedir os refugiados de
se movimentarem, mas nenhuma vedação será suficientemente alta
para impedir estas pessoas de virem para a Europa quando fogem da
guerra e da violência nos seus países de origem", sublinhou o
presidente da Comissão. Juncker considerou que a Europa "está
num ponto de viragem".
Ontem cerca de 600
pessoas manifestaram-se no túnel de Brenner contra o encerramento.
Houve confrontos com a polícia italiana: dois agentes ficaram
feridos e dez manifestantes foram detidos. Na quinta-feira, em Roma,
um dia antes do encontro de vários líderes europeus com o Papa
Francisco, Angela Merkel e Matteo Renzi reafirmaram também a sua
oposição a esta ideia do governo austríaco. Numa conferência de
imprensa com a chanceler alemã, o primeiro-ministro italiano disse:
"Estamos em choque com posição dos nossos amigos austríacos".
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