EDITORIAL
O Governo dos delfins e da continuidade
António Costa prometeu um governo mais pequeno e mais
ágil do que o anterior. A primeira premissa está garantida; a segunda, logo
veremos. Estes tempos elevam a fasquia da exigência.
Amílcar Correia
23 de Março de
2022, 20:51
https://www.publico.pt/2022/03/23/politica/editorial/governo-delfins-continuidade-1999927
Uma legislatura
que associa um governo de maioria absoluta, o rescaldo da pandemia, uma guerra
na Europa, de efeitos imprevisíveis, e a aplicação do Plano de Recuperação e
Resiliência (PRR) seria a oportunidade ideal para a formação de um executivo
com outro peso político e técnico que o terceiro Governo de António Costa não
tem.
Era previsível
que António Costa reconduzisse o seu núcleo duro mais fiel, que mantivesse
Pedro Nuno Santos, ou que mudasse João Gomes Cravinho da Defesa para outra
pasta. Mas a conjuntura recomendava também que António Costa fosse capaz de
desencantar outros nomes necessários para renovar um governo que acabou
desgastado e sem brilho.
E esse brilho não
se obtém com a repescagem de Fernando Medina para as Finanças ou com a entrada
atrasada de António Costa e Silva na Economia. Muito menos ainda com a
manutenção de Ana Abrunhosa na Coesão Territorial e de Maria do Céu Antunes na
Agricultura.
De resto, o peso
das saídas de Augusto Santos Silva ou de Pedro Siza Vieira é superior ao das
entradas de Helena Carreiras na Defesa ou de Elvira Fortunato na Ciência e
Ensino Superior. Basta recordar que dos anteriores quatro ministros de Estado
apenas Mariana Vieira da Silva irá transitar para o Governo, reforçando a sua
importância.
António Costa
prometeu um governo mais pequeno e mais ágil do que o anterior. A primeira premissa
está garantida; a segunda, logo veremos. Estes tempos elevam a fasquia da
exigência.
Um governo de
maioria absoluta tem de evitar o erro de executivos que no passado fizeram da
arrogância uma atitude. E não lhe faltam condições para executar as reformas
imprescindíveis num contexto de convulsão internacional e de recuperação de
dois anos de pandemia: não tem as limitações que teria, caso dependesse de
parceiros parlamentares, e toma posse num momento em que a “bazuca” será um
instrumento que não pode ser desperdiçado.
Não é crível que
a oposição seja de muita utilidade. O mais natural é que o BE, PCP e PAN
estejam mais preocupados com a sua própria sobrevivência do que com qualquer
melhoria de desempenho do Estado (o que o Livre agradece).
E que o Chega e a
IL, cada um à sua maneira, se deslumbrem com o pódio que conquistaram e com o
ruído que conseguirem produzir. Acresce que PSD, cujo diagnóstico é sempre
reservado, arrisca-se a viver quatro anos de coma. O país terá um governo de
delfins, de uma continuidade conformista e nada surpreendente. Valha-nos
a paridade.

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