Porto
Bolhão volta renovado com rendas cinco a seis vezes mais
caras que as atuais
Mercado do Bolhão está na fase final da reabilitação
Cecília Malheiro
*
07 Março 2022 às
16:07
Quando o Mercado
do Bolhão, ícone do Porto, reabrir depois do restauro, os vendedores históricos
vão pagar cinco a seis vezes mais de renda, comparando com o que pagam no
Mercado Temporário, mas a maioria está conformada e anseia melhores condições.
Nuno Fernandes,
filho da proprietária do restaurante "D. Gina", conta que atualmente
paga cerca de 200 euros pelo espaço de restauração com 38 metros quadrados (m2)
no Mercado Temporário do Bolhão. No novo espaço do Mercado do Bolhão irá pagar
uma mensalidade a rondar os 1100 euros, mas vai ter direito a 98 m2 com
capacidade para 70 lugares.
"As rendas
vão ser mais caras, mas que remédio", exclama Nuno Fernandes, ciente que
vai pagar para ter "condições melhores e mais dignas" para trabalhar.
"Antigamente
era só baratas", recorda Nuno Fernandes, assumindo que está ansioso para
regressar ao Bolhão, e crente que no final de agosto deve acontecer o
"milagre" do regresso ao mercado restaurado.
Em maio fará
quatro anos que os vendedores históricos estão a trabalhar no Mercado
Temporário, localizado no piso -1 do Centro Comercial La Vie, a cerca de 200
metros da entrada Norte do Bolhão.
Para uma parte
dos históricos do Bolhão, o valor do m2 custa "8,88 euros", mas para
os novos comerciantes a base do m2 vai ser o dobro, ou seja, 16 euros por m2,
podendo chegar aos 21 ou até 50 euros, conforme os pisos, respondeu à Lusa
fonte da autarquia.
Nuno Fernandes
revela que o projeto do seu restaurante "está em andamento" e
acredita que vai regressar este verão ao Bolhão.
Cansados de
estarem enfiados num buraco. "É doentio"
José Pintainho,
dono do restaurante "O Pintainho 36", espaço que existe no Bolhão há
45 anos, também crê num regresso ao mercado no verão.
"Eu ia para
lá amanhã sem máscara, porque é triste estar aqui há quatro anos sem ver a luz
do dia. Entro às 9 e saio às 17 horas. Não vejo o sol, nem a chuva",
desabafa José Pintainho.
No Bolhão
renovado, o "Pintainho 36" vai ter 90 m2 e capacidade para 60
lugares. A renda vai rondar os 1500 euros/mês.
"Não tenho
medo da renda, porque estou esperançado que com o final da pandemia da covid-19
o Porto volte ao normal e o Bolhão volte a respirar. Volte a ofegar",
declara aquele "histórico", recordando que naquele mercado, com a
explosão do turismo e sem a crise da pandemia, os seus antigos "30 lugares
eram todos os dias transformados em 60 lugares", com mesas e cadeiras que
os clientes conseguiam reunir.
A cafetaria
"Tass" está atualmente a pagar 70 euros de renda mensal no Mercado
Temporário e no novo espaço do Bolhão vai pagar mais de cinco vezes esse valor
(500 euros), mas Mónica Moreira também diz estar ansiosa para regressar e nem a
renda mais cara a assusta.
"Gostava de
já lá estar. Estou cansada de estar enfiada oito horas num buraco. É
doentio", lamenta.
Na padaria
"Madalena", cuja renda atual é de 50 euros mensais, a operadora
Amélia Babo conta que também está impaciente para regressar ao Bolhão, pois
confessa que no Mercado Temporário o negócio está complicado.
"Estou com
muita vontade de regressar ao Bolhão original e espero que o negócio volte a
ser o que era, pois tinha dias de vender 300 pasteis de nata e agora há dias
que nem três natas vendo", lamenta, afirmando que só os clientes antigos é
que continuam a ir, mas muitos desistem.
Na banca de peixe
e marisco congelado, a vendedora Rosa Maria, que começou a trabalhar no Bolhão
com 14 anos e hoje tem 58, a vontade de regressar ao mercado antigo também é
grande.
Sabe que pelo
novo espaço vai ter de pagar um valor bem acima dos atuais 90 euros mensais,
mas está ciente que as rendas para os vendedores históricos não vão subir muito
devido ao seu estatuto.
Há locais que
podem ter rendas de sete mil euros por mês
A maioria dos
vendedores históricos do Mercado do Bolhão conta os dias para deixar o Mercado
Temporário "sem luz e sem alma" e, embora admitam que as rendas vão
ser mais caras, sabem que esse é o preço a pagar por mais espaço, para dizer
adeus às baratas do mercado antes do restauro e olá a "melhores e mais
dignas condições de trabalho".
Os novos
empresários que vão chegar ao Mercado do Bolhão renovado vão pagar o que
oferecerem, no âmbito de um concurso cuja base da licitação começa em 16 euros,
mas pode subir muito mais, conforme a oferta avançada, por carta fechada.
"Os novos
vão pagar os preços que se praticam na cidade. É a lei da oferta e da
procura", conclui José Pintainho, referindo que é possível que nas lojas
maiores do Bolhão, com mezzanine, se chegue aos "sete mil euros por
mês" de renda.
* Agência
Lusa
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