Enquanto uma
grande parte da Europa do Sul arde num verdadeiro cataclismo ilustrador das
Alterações Climáticas. Enquanto a Sibéria e Finlândia ardem. Enquanto a ameaça
de libertação do permafrost confirma-se e concretiza-se. Enquanto a Califórnia arde. Enquanto a desaceleração
e o enfraquecimento das correntes oceânicas do Atlântico confirmam-se com
consequências imprevisíveis para o papel regulador da Corrente do Golfo.
É tempo para festejar !? Dançando à beira do
precipício e numa explosão orgiástica com o carácter da última noite do Titanic
que se afunda enquanto a orquestra toca !?
Ler “Coronavírus, o dia seguinte” ( em baixo ) publicado
em 16 de Março de 2020, 20:07 no PÚBLICO
ANTÓNIO SÉRGIO
ROSA DE CARVALHO / OVOODOCORVO
REPORTAGEM LISBOA
O regresso da noite: “Foi como se todos os dias fossem
fim-de-semana”
Uma semana depois de bares e discotecas terem começado a
funcionar até às 2h, a noite lisboeta dá sinais de aparente normalidade. Mas há
fenómenos novos e pistas de dança por abrir.
João Pedro Pincha
(Texto) e Nuno Ferreira Santos (Fotografia)
7 de Agosto de
2021, 8:25
https://www.publico.pt/2021/08/07/local/reportagem/regresso-noite-dias-fimdesemana-1973393
Voltou a ser
difícil atravessar ruas do Bairro Alto em noite de sexta-feira. Há quanto tempo
não se escrevia uma frase destas? Tanto que descer a Rua da Atalaia já perto da
meia-noite parece uma experiência vintage, como se regressássemos ao período
pré-pandémico. As filas indianas para lá e para cá, os grupos alapados nos
passeios, os risos, as cantorias e até as pancadarias dão a sensação de que a
normalidade retomou o seu lugar.
Mas não é bem
assim. Por todo o bairro encontram-se agora dezenas de esplanadas que não
existiam há ano e meio. Muitas estão cheias, ao contrário do interior dos bares
e restaurantes. Um fenómeno que também pode ser visto como sinal dos tempos é a
multiplicação de mini-festas em plena rua um pouco por todo o lado. Funciona
assim: um grupo traz uma coluna de som portátil, instala-se num passeio e fica
a dançar ao som da música que é escolhida no telemóvel.
Muita gente teve
a mesma ideia esta sexta-feira. Os grupos circulam para cima e para baixo, cada
um com seu ritmo e volume, e vão debitando som para toda a rua. Quando se
cruzam com outra coluna há despique, que parece acabar quase sempre
amigavelmente. O funk brasileiro faz sucesso, mas quando um homem começa a
fazer breakdance espontaneamente todas as cabeças se viram para ele. É mais uma
atracção que os turistas levam na memória (do smartphone).
A agitação da
Atalaia não contagia a Rua da Rosa, que está uma calmaria. “Esta semana foi
muito boa, trabalhou-se muito bem.”, garante Vítor Campos, gerente do Loucos e
Sonhadores. “Ontem tínhamos fila à porta.” À entrada do fim-de-semana, porém, o
bar apresenta-se praticamente vazio. Acredita Vítor que a clientela escasseia
porque nem toda a gente está disposta a mostrar certificado de vacinação ou
teste negativo para a covid-19, como é obrigatório mal tocam as 19h de
sexta-feira. “Há pessoas que têm muita relutância, há resistência.”
Resultado? Na
semana que passou, que foi a primeira em que bares e discotecas puderam
funcionar até às 2h depois de um longo período de encerramento e limitações
horárias, “foi como se todos os dias fossem fim-de-semana”. Casa cheia, filas à
porta, algum alívio na facturação. Chegados ao fim-de-semana propriamente dito,
os noctívagos preferem bares com esplanada (o Loucos e Sonhadores não tem) ou
simplesmente fazer a festa na rua, onde não há a mesma obrigação.
“Nós exigimos uma
coisa aos clientes que não nos é exigida a nós. Ninguém obriga a que os
funcionários estejam vacinados ou testados. É uma contradição total”, critica
Vítor Campos, que até consegue perceber o desconforto de quem se recusa a
mostrar essa informação. “É uma coisa íntima.”
Mais para o
interior do bairro, o empresário João Dionísio gere dois irish pubs e aponta
ainda mais defeitos às regras que o Governo estabeleceu na semana passada. “Se
vier um grupo de 12 pessoas e todas tiverem certificados ou testes negativos,
não podem sentar-se todas juntas”, exemplifica, à mesa no The Corner. Outra
coisa: o resultado dos auto-testes só é válido durante 20 minutos, podendo até
inverter-se passado esse tempo. “Se vier uma fiscalização, como é? Têm de fazer
teste outra vez?”
A semana que
agora termina correu bem para a empresa e até o fim-de-semana se perspectiva
bom, porque ambos os bares têm esplanada. Mas, adverte João Dionísio, “o
aumento da facturação foi uma gota no oceano”, sobretudo depois de um longo
período em que as receitas foram nulas e as despesas correntes continuaram a
ter de ser pagas. “Só se ouvem os especialistas da pandemia. Quem legisla não
ouve outros especialistas, não vem ao terreno, não nos vem perguntar”, lamenta.
"Isto é
fundamental, se não vamos todos enlouquecer"
Tomando o rumo da
habitual peregrinação ao Cais do Sodré verifica-se que todo o Chiado já
fervilha novamente. A Praça Camões está bem composta de gente, o trânsito
circula em abundância, o sobe e desce regressou ao Alecrim. Mais uma vez, no
entanto, as aparências iludem: a normalidade ainda não é isto.
Vista de cima, a
Rua Nova do Carvalho (a famosa rua cor-de-rosa) parece uma única e enorme
esplanada. Imagem impensável até recentemente, mas covid-19 oblige. Jamaica,
Tokyo e Europa estão de malas aviadas para a beira-Tejo, o Viking está em
obras, o Roterdão está fechado. Lugares para dançar não há. O Liverpool, que
tem a pista de dança em descanso obrigatório, aproveitou para alargar o número
de mesas cá fora.
É lá que se
encontra um grupo de quatro pessoas que escolheu esta sexta-feira para vir
beber um copo pela primeira vez “em dois anos”, explica Bianca. Não tinha
propriamente saudades de sair à noite, mas “de ver mais gente”. As esplanadas
estão praticamente cheias, mas não se vê a multidão que por aqui andou durante
a semana. “Ouvi dizer que o Cais estava um caos, cheiíssimo. Afinal não, até
está meio vazio.”
A conversa
resvala então para as novas regras de acesso ao ócio nocturno. “Não acho que
faça sentido nenhum mostrar o certificado só ao fim-de-semana”, opina Bianca.
No mesmo grupo, o empresário da restauração Emmanuel Pappamikail relata a sua
experiência quando divulgou no Facebook que passaria a ser obrigatório um
certificado ou teste negativo para entrar nas suas pizzarias. “Recebemos
centenas de mensagens com ameaças, a chamarem-nos colaboracionistas. Pessoas
que não eram nossas clientes a apelarem a um boicote, uma coisa organizada”,
explica. “E isto depois de aguentar um ano e meio sem despedir ninguém, sem pôr
trabalhadores em lay-off.”
Na outra ponta da
rua, duas amigas bebem cocktails e meditam sobre saúde mental. “O regresso à
noite e à vida em comunidade é essencial”, diz uma. “Isto é fundamental, se não
vamos todos enlouquecer colectivamente.”
Passa um quarto
de hora da meia-noite. “Ai, que estranho!”, ri-se. E lança em jeito de súplica:
“Agora só falta abrirem as pistas de dança!”
tp.ocilbup@ahcnip.oaoj
OPINIÃO
CORONAVÍRUS
Coronavírus, o dia seguinte
A actual catástrofe na perspectiva Humana que representa
o surto de coronavírus traz óptimas notícias para o Planeta na perspectiva
ecológica.
António Sérgio
Rosa de Carvalho
16 de Março de
2020, 20:07
https://www.publico.pt/2020/03/16/sociedade/opiniao/coronavirus-dia-seguinte-1908033
No passado dia 1
de Março, a NASA publicou uma comparação de imagens, verdadeiramente
impressionantes, entre os níveis de poluição de dióxido de azoto (N02) entre
2019 e 2020 no mesmo período na China central. Este período em
2020 corresponde ao período de abrandamento da economia e da produção
industrial motivados pela quarentena do coronavírus. A diferença é abismal e
provavelmente este último período corresponde a uma das raras ocasiões nas três
últimas décadas de crescimento acelerado, onde a China se transformou na
“fábrica do mundo”, em que os seus habitantes viram o céu e se lembraram que
habitam, como hóspedes, o Planeta Terra.
Esse mesmo
Planeta que, segundo a NASA, teria que se quadruplicar, ou mesmo de se repetir
cinco vezes, para ter capacidade de absorver os níveis de consumo actuais da
sociedade americana.
A actual
catástrofe na perspectiva Humana que representa o surto de
coronavírus traz óptimas notícias para o Planeta na perspectiva ecológica.
Com a paralisação da espiral produtiva, a alteração dos níveis de consumo e a
interrupção do modelo (totalmente insustentável) do crescimento infinito e
ilimitado, e também da orgia global de consumo, o Planeta pode afrouxar um
pouco a máscara que é obrigado a utilizar devido ao vírus humano, e finalmente
ter um pouco a ilusão de poder respirar.
Vamos,
finalmente, aprender alguma coisa, parar para reflectir, durante esta pausa a
que fomos obrigados por este ‘factor externo’, microscópica mensagem emitida
pelo macro organismo onde estamos inseridos?
Na última crise,
a de 2008, não aprendemos absolutamente nada, pois a pegada de carbono não
parou de aumentar, apesar de nos restarem apenas dez anos para minimizar um
cataclismo sem retorno, de proporções bíblicas, através das alterações do
clima.
Se o nosso
‘episódio’ corona representa no tempo humano um importante e dramático
acontecimento, no tempo planetário ele é um insignificante ponto,
super-milimétrico e Uber-microscópico. Embora os efeitos da actividade humana
sejam evidentemente nocivos para o organismo planetário, a actual crise
ecológica e climática constitui um episódio na história da Terra.
O que está
ameaçada é a civilização humana e o ciclo de vida neste período planetário. O
planeta continuará, depois deste período de tosse convulsa, a ser provocado
pelo vírus humano. Cabe-nos, portanto, a nós decidir e escolher no curtíssimo
tempo que nos resta.
Uma última
ilustração da fragilidade e insustentabilidade do sistema e do modelo: no caos
e império do medo que reina no sistema das teias financeiras e económicas, os
únicos oráculos e ‘experts’ para onde os líderes mundiais se podem virar são os
virologistas.
Historiador de Arquitectura




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