quarta-feira, 6 de abril de 2016

“Tempo velho” na Cultura


OPINIÃO
Tempo velho” na Cultura
AUGUSTO M. SEABRA 06/04/2016 - PÚBLICO
A nomeação de João Soares para ministro da Cultura foi uma surpresa que permanece inexplicável já que passados quatro meses não afirmou uma linha de acção política, tão só um estilo de compadrio, prepotência e grosseria. De resto, não tinha qualificações particulares para o cargo.

A nomeação de João Soares para ministro da Cultura foi uma surpresa que permanece inexplicável já que passados quatro meses não afirmou uma linha de acção política, tão só um estilo de compadrio, prepotência e grosseria. De resto, não tinha qualificações particulares para o cargo, que não o era a sua gestão da Cultura na Câmara Municipal de Lisboa em tempos idos, antes pelo contrário. E sendo ele um derrotado nato – perdeu as eleições autárquicas em Lisboa e em Sintra e para secretário-geral do PS – mas também um caso de obstinação, esta nomeação culminou uma re-ascensão vertiginosa, se recordarmos que nas últimas eleições inicialmente nem estava em lugar elegível nas listas.

O argumento de que também pode fazer sentido ter na pasta alguém com peso político esvaiu-se com o quadro orçamental para este ano. Sendo ainda recomendável alguma contenção, o certo é que o sector vive uma situação de emergência, consumada na governação PSD/CDS, mas que vem dos tempos socialistas do socratismo, quando ocorreu uma sistemática desorçamentação. Agora não só não houve aumento de dotação, como mesmo acrescido desinvestimento na Direcção-Geral do Património e no Fundo de Fomento Cultural!

Há que dizer que desde o princípio António Costa esteve muito mal na sua relação com o sector, seguindo o modelo tradicional do PS de o considerar como ornamento, acenando apenas com a promessa imprescindível de restaurar um ministério. Logo no início da sua caminhada houve uma iniciativa ridícula, um manifesto “A Cultura apoia António Costa”, como se uns quantos agentes fossem “A Cultura” e dela proprietários. Depois, noutra tradição socialista, o almoço em final de campanha eleitoral, houve o prodígio de ser oradora quem tinha sido tornada “artista do regime” pelo governo de direita, Joana Vasconcelos. E assim, a nomeação de Soares foi apenas o consumar político desta consideração do adorno. Mas abrindo azo aos piores receios.


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