terça-feira, 23 de julho de 2013

Não foi só a credibilidade externa de Portugal que ficou abalada, foi também a credibilidade interna das instituições democráticas.

A questão da confiança

A maioria e o Presidente parecem mais interessados na relegitimação do que nas sementes do diálogo
Na ressaca da comunicação do Presidente no domingo, o país move-se, um pouco como um sonâmbulo, procurando deitar contas a três semanas de ansiedade sem precedentes na história democrática portuguesa. Há um desejo de respirar de alívio e esquecer o que se passou. Por isso se fala de confiança. Mas em modos eventualmente excessivos. É obscura a razão que levou o Presidente a anunciar ao país que o Governo tenciona apresentar uma moção de confiança. Esse anúncio competia, como é evidente, aos partidos da maioria, que ontem anunciaram que esta será votada na próxima segunda-feira. O afã do PSD e do CDS em procurarem esse voto de confiança é também excessivo e, de algum modo, contraproducente. Tal como aconteceu na moção de censura apresentada por Os Verdes na semana passada, o PS votará contra o Governo. Dito de outra maneira, a moção de confiança contradiz palavras em que Cavaco Silva e Passos Coelho coincidiram. Os dois afirmaram que sobraram sementes das negociações falhadas entre os três partidos e que o diálogo, afinal de contas, não é uma conversa acabada. Não seria melhor procurar encontrar formas de manter a continuidade desse diálogo em vez de avançar para uma moção de confiança que nada adianta? PSD e CDS não podem esquivar-se à responsabilidade de terem provocado a crise das últimas semanas. E, no regresso a uma estranha normalidade em que nos encontramos, deviam sobretudo procurar reconquistar a confiança do país. Não foi só a credibilidade externa de Portugal que ficou abalada, foi também a credibilidade interna das instituições democráticas. E não é certo que as condições para o diálogo a três tenham ficado melhores. A crise, não vale a pena ter dúvidas, vai continuar. Não há moções que cheguem para esconder esta evidência.

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