O faroeste em Lisboa!
O país está a enfrentar um problema social gravíssimo.
Muitas pessoas estão a procurar sobreviver e a procurar sítios que possam
fornecer comida para colocarem na mesa.
Edgar Clara
opiniao@sol.pt
Vivo em Lisboa!
Vivo mesmo no centro de Lisboa! Trabalho, também, no centro de Lisboa, na
Mouraria e no Castelo. Está tudo ao rubro. Há turistas por todo o lado. As
casas continuam a ser dedicadas ao Alojamento Local. Não espero na próxima
década ter habitantes fixos nas minhas paróquias, a não ser que mudem as
políticas de arrendamento do alojamento temporário.
Ontem abri vários
sites de notícias e fiquei espantado. Perguntei-me: O que se está a passar em
Portugal? O que se passa em Lisboa? Qual vai ser o nosso futuro?
As notícias
parecem ser assustadoras. Por pouco tempo, pensei estar a ler notícias tiradas
daqueles filmes do faroeste. Uma primeira notícia dava conta da insegurança no
Bairro Alto, como havia todas as noites aglomerados de gente – mas isso não é
novidade – acompanhados de violência, esfaqueamentos, tráfico de droga,
gangues, etc. O que dizia a Polícia na notícia? É uma situação complexa e não
conseguimos controlar.
Abro um outro
site e vejo que bem dentro da minha paróquia há uma situação de perseguição aos
lojistas por parte de um gang asiático – do Bangladesh – que faz extorsão de
dinheiro aos comerciantes. Num outro site, vejo que há um problema com a máfia
brasileira que procura domínio da noite, no tráfico de droga e da prostituição.
Não me admira…
não preciso de abrir os jornais ou os sites. Basta passear um pouco por Lisboa
e de ver que a cada esquina nas vias principais me oferecem droga – que nem
sequer é droga. Quando pergunto porque não fazem nada, dizem-me que não
conseguem fazer nada!
Na semana passada
estava em casa, a rezar, há uma da manhã e ouço tiros e uma bomba… vou à
janela! Todos os vizinhos vieram à janela. Todos nos perguntamos o que se
passou. Passa uma carrinha para cima, exatamente no sentido contrário do
trânsito. Um bando de gente à tareia… O que aconteceu? Ninguém sabe…
O país está a
enfrentar um problema social gravíssimo. Muitas pessoas estão a procurar
sobreviver e a procurar sítios que possam fornecer comida para colocarem na
mesa. Realmente não ter comida para colocar no prato é um drama inimaginável
para mim.
Se não ter acesso
à alimentação é um drama que nos coloca em situações muito vulneráveis, vejo
que não ter segurança não é de menor importância, isto é, nós precisamos de nos
sentirmos alimentados e seguros. Se não temos segurança, cria-se em nós um medo
que nos impossibilita de fazer a nossa vida normal.
O que se está a
passar? Porque há estes processos de violência a crescerem? Completamente descontrolados
na cidade de Lisboa?
Isto não é uma
coisa nova na Europa. Nós, em Lisboa, estávamos ainda um pouco protegidos, mas,
de certa forma, é o preço que temos de pagar pela fama internacional…
É um fenómeno
internacional e profundamente urbano. Mas é um fenómeno que cresce, não por
causa do turismo, não por causa da emigração, não por causa dos estrangeiros,
mas porque deixámos de cuidar dos jovens e assumimos uma atitude ingénua frente
ao coração humano.
Nós começámos a
acreditar que ‘quando alguém nasce, nasce selvagem, não é de ninguém’ – como
diz a música – e isso levou-nos a descuidar a educação espiritual e ética dos
mais novos. O mal já não é punido nem pela religião – que já não força nenhuma
nas sociedades ocidentais – nem pela sociedade. É, então, que vemos que cresce
no coração de cada homem a ganância, a inveja, a maledicência, a violência, os
assassinatos.
Jesus diz no
evangelho que não há nada que esteja fora do homem que ao entrar no homem o
torne impuro, porque é de dentro do coração do homem que nascem todas as invejas,
maledicências, adultérios…
Tudo nasce do
coração do homem e podemos fazer as leis mais rígidas e punitivas, meter um
polícia em cada esquina, mas se não cuidarmos do coração, o faroeste vai
continuar.
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