quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Autárquicas e turismo: novos tempos?

 



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Autárquicas e turismo: novos tempos?

 

É importante dar um passo atrás e reflectir sobre as políticas urbanas: como regular o mercado da habitação, ou como adaptar as redes de transportes e de infra-estruturas.

 

Tomás Reis

Arquitecto que usa o desenho como ferramenta de trabalho. Também nos cadernos de viagem guarda as memórias, escreve e usa aguarelas.

29 de Setembro de 2021, 7:53

https://www.publico.pt/2021/09/29/p3/cronica/autarquicas-turismo-novos-tempos-1979131

 

É cada vez mais difícil esquecer a importância de um sector que influencia o desenvolvimento das cidades e as opções políticas das autarquias. Pode ter passado quase despercebido, mas a noite longa das Autárquicas foi também véspera do Dia Mundial do Turismo. Enquanto se discutiam os resultados, pouco se disse sobre um sector que, no caso português, vale cerca de 20% do PIB, com profundos impactos sociais e ambientais. Mas é também no turismo que pode estar a chave para recuperação económica e a revitalização das cidades - basta comparar a imagem do centro de Lisboa, antes da nova vaga dos alojamentos locais, antes da mudança da Lei das Rendas (o antigo Regime do Arrendamento), que tornava a cidade pouco atractiva para a reabilitação urbana.

 

O turismo tornou-se de tal forma omnipresente que, quem vive há mais tempo nas cidades, sente-se convidado a sair: é o aumento das rendas e dos impostos, sem alternativas de custos controlados para a maioria da população; é a retirada de automóveis dos centros, feita com argumentos ambientalistas, mas com óbvias implicações na acessibilidade. O aumento do relvado na Praça de Espanha, com a redução de faixas de rodagem, não se fez acompanhar necessariamente com o aumento da capacidade ou na melhoria da rede de transportes públicos.

 

Entretanto, continuam a chegar cruzeiros, espalham-se tuk tuk pelo IC-19 e as visitas ao centro passam a ser regidas pelo tarifário da EMEL, criando uma sensação de se ser turista na própria cidade. No que concerne à pressão turística, Lisboa não está isolada: de iguais problemas padecem Barcelona, Berlim ou Budapeste, mas as respostas podem variar. 

 

É neste impasse que as eleições municipais tiveram lugar: a um passo da recuperação da pandemia, a mesma que Fernando Medina dissera ser uma oportunidade para Lisboa. Com o regresso dos turistas a fazer-se ao compasso do levantamento das restrições, várias regiões do país já sentem pressão nas reservas de alojamento, e poderão sofrer dores de crescimento. 

 

O turismo tornou-se de tal forma omnipresente que, quem vive há mais tempo nas cidades, sente-se convidado a sair: é o aumento das rendas e dos impostos, sem alternativas de custos controlados para a maioria da população; é a retirada de automóveis dos centros, feita com argumentos ambientalistas, mas com óbvias implicações na acessibilidade.

 

Entretanto, é importante dar um passo atrás e reflectir sobre as políticas urbanas: como regular o mercado da habitação, ou como adaptar as redes de transportes e de infra-estruturas. Estudar os impactos da nova linha circular do metro, numa rede que não serve apenas o concelho de Lisboa, mas os habitantes de uma Área Metropolitana bem mais extensa. E, claro, reflectir o papel dos municípios na gestão destas redes, ou na aplicação das receitas fiscais do turismo. Entre a espera da pandemia e o crescimento explosivo novos tempos virão.

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