MEGAFONE
Autárquicas e turismo: novos tempos?
É importante dar um passo atrás e reflectir sobre as
políticas urbanas: como regular o mercado da habitação, ou como adaptar as
redes de transportes e de infra-estruturas.
Tomás Reis
Arquitecto que
usa o desenho como ferramenta de trabalho. Também nos cadernos de viagem guarda
as memórias, escreve e usa aguarelas.
29 de Setembro de
2021, 7:53
https://www.publico.pt/2021/09/29/p3/cronica/autarquicas-turismo-novos-tempos-1979131
É cada vez mais
difícil esquecer a importância de um sector que influencia o desenvolvimento
das cidades e as opções políticas das autarquias. Pode ter passado quase
despercebido, mas a noite longa das Autárquicas foi também véspera do Dia
Mundial do Turismo. Enquanto se discutiam os resultados, pouco se disse sobre
um sector que, no caso português, vale cerca de 20% do PIB, com profundos
impactos sociais e ambientais. Mas é também no turismo que pode estar a chave
para recuperação económica e a revitalização das cidades - basta comparar a
imagem do centro de Lisboa, antes da nova vaga dos alojamentos locais, antes da
mudança da Lei das Rendas (o antigo Regime do Arrendamento), que tornava a
cidade pouco atractiva para a reabilitação urbana.
O turismo
tornou-se de tal forma omnipresente que, quem vive há mais tempo nas cidades,
sente-se convidado a sair: é o aumento das rendas e dos impostos, sem
alternativas de custos controlados para a maioria da população; é a retirada de
automóveis dos centros, feita com argumentos ambientalistas, mas com óbvias
implicações na acessibilidade. O aumento do relvado na Praça de Espanha, com a
redução de faixas de rodagem, não se fez acompanhar necessariamente com o
aumento da capacidade ou na melhoria da rede de transportes públicos.
Entretanto,
continuam a chegar cruzeiros, espalham-se tuk tuk pelo IC-19 e as visitas ao
centro passam a ser regidas pelo tarifário da EMEL, criando uma sensação de se
ser turista na própria cidade. No que concerne à pressão turística, Lisboa não
está isolada: de iguais problemas padecem Barcelona, Berlim ou Budapeste, mas
as respostas podem variar.
É neste impasse
que as eleições municipais tiveram lugar: a um passo da recuperação da
pandemia, a mesma que Fernando Medina dissera ser uma oportunidade para Lisboa.
Com o regresso dos turistas a fazer-se ao compasso do levantamento das
restrições, várias regiões do país já sentem pressão nas reservas de
alojamento, e poderão sofrer dores de crescimento.
O turismo tornou-se de tal forma omnipresente que, quem
vive há mais tempo nas cidades, sente-se convidado a sair: é o aumento das
rendas e dos impostos, sem alternativas de custos controlados para a maioria da
população; é a retirada de automóveis dos centros, feita com argumentos
ambientalistas, mas com óbvias implicações na acessibilidade.
Entretanto, é
importante dar um passo atrás e reflectir sobre as políticas urbanas: como
regular o mercado da habitação, ou como adaptar as redes de transportes e de
infra-estruturas. Estudar os impactos da nova linha circular do metro, numa
rede que não serve apenas o concelho de Lisboa, mas os habitantes de uma Área
Metropolitana bem mais extensa. E, claro, reflectir o papel dos municípios na
gestão destas redes, ou na aplicação das receitas fiscais do turismo. Entre a
espera da pandemia e o crescimento explosivo novos tempos virão.
Sem comentários:
Enviar um comentário