Habitação, governabilidade, reestruturar. Os desafios de
Moedas em Lisboa
O presidente eleito da CML entra sem maioria e terá que
ter o engenho e arte de convencer PS, PCP e BE dos seus projetos para a cidade.
Nos primeiros 100 dias quer concretizar promessas emblemáticas, como devolver
mais IRS aos lisboetas e reduzir a metade o preço do estacionamento.
Paula Sá
29 Setembro 2021
— 00:08
São sete para um
lado e sete para o outro, mais três à esquerda. Carlos Moedas ganhou a corrida
à Câmara de Lisboa, mas sem maioria e a distribuição de vereadores pelas forças
políticas é um berbicacho para a governação da cidade. Este é o primeiro
desafio que o presidente eleito da autarquia - o de conseguir entendimentos
capazes de levar a bom porto o seu programa para a capital.
Carlos Moedas tem
com ele seis vereadores - Filipe Anacoreta Correia (CDS), Joana Almeida
(Independente), Filipa Roseta (PSD), Diogo Moura (CDS), Ângelo Pereira (PSD) e
Laurinda Alves (Independente). Aquele que foi seu opositor nas eleições,
Fernando Medina, conseguiu eleger também outros seis vereadores. A CDU dois e o
Bloco elegeu uma vereadora. O que dá à esquerda a maioria no executivo
municipal. E é aqui que começa o problema.
"Governará
em minoria e conseguirá os entendimentos que forem necessários", afirma ao
DN Miguel Morgado, o "amigo" que ajudou Moedas na campanha eleitoral
autárquica. O antigo assessor político de Pedro Passos Coelho e ex-deputado do
PSD, estabelece um paralelo com António Costa, "que nem as eleições de
2015 ganhou e conseguiu formar governo com partidos que classificava de
extrema-esquerda e os requalificou de moderados". Crê, por isso, que
Moedas terá no PS, "se os interesses da cidade falarem mais alto do que os
partidários", margem para entendimentos, nem que sejam pontuais.
Sobre a
governabilidade da câmara, é visto como tendo as qualidades para estabelecer
pontes com os outros partidos que elegeram vereadores. "Tem capacidade
negocial, é sensato e moderado", afirma uma fonte que lhe é próxima. E que
garante: "Do lado do Moedas não haverá questões ideológicas que bloqueiem
a governação da cidade". A mesma fonte recorda a garantia dada pelo agora
presidente da Câmara eleito - numa coligação PSD/CDS/PPM/MPT e Aliança - de que
irá seguir a tradição do antigo presidente do município, o democrata-cristão
Nuno Kruz Abecasis de levar todos os projetos a negociações com todos os
partidos. No caso será PS, PCP e BE.
Após um longo
reinado socialista na câmara, entre António Costa e Fernando Medina passaram 14
anos, há quem aponte como outro dos desafios de Carlos Moedas a
"reestruturação administrativa" da câmara. Traduzindo, livrar-se de
alguns dos caciques do PS que se foram instalando nos Paços do Concelho.
Ora, também será
um desafio de Moedas resistir às investidas das estruturas do PSD e até do CDS
para substituir os do PS pelos dos da mesma cor partidária.
Miguel Morgado
não vê aqui um problema. "A vitória é dele. Escolheu a equipa que entendeu
e ninguém tem dúvida de quem manda na coligação".
Tendo trabalhado
com ele de perto, o antigo deputado do PSD diz que Moedas decidiu várias coisas
de estratégia durante a campanha e as equipas que com ele estiveram "e que
não agradou a toda a gente e que implicou ruturas com a prática do PSD e do
CDS".
Das equipas que
agora irão trabalhar com ele está tudo a ser pensado, tal como ainda não houve
troca de pastas, nem ainda marcação de um encontro entre o ex-presidente da
Câmara, Fernando Medina, e o novo, Carlos Moedas. Nem a data de posse está
ainda definida.
Os primeiros 100 dias
Os dados que
foram disponibilizados pelo executivo de Medina sobre as finanças da Câmara dão
conforto a Moedas, garantem-nos as mesmas fontes, para não ter de se preocupar
com problemas financeiros.
Pelo que o seu
foco será mesmo o conjunto de promessas que fez aos lisboetas e que, entre
outros fatores, lhe valeram a vitória no dia 26, sob o mote "Lisboa pode
ser mais do que imaginas".
Entre as que quer
concretizar nos primeiros 100 dias de governação estão algumas que foram
emblemáticas durante a campanha, como a de devolver o máximo de IRS aos
lisboetas (5%); implementar 50% de desconto no estacionamento EMEL para os
residentes em toda a cidade; tornar os transportes públicos gratuitos para os
residentes menores de 23 e maiores de 65 e começar a resolver o problema da
habitação na cidade, que considera ter sido um dos maiores
"falhanços" do executivo de Medina.
As ciclovias
também estão na sua mira, e a da Avenida Almirante Reis é mesmo para acabar.
Para avaliar as restantes, já que não é contra estes corredores para
bicicletas, vai pedir uma avaliação ao LNEC e só depois decidirá as que manter,
alterar ou até acabar.
Neste primeiros
100 dias, Carlos Moedas quer também concretizar a Assembleia de Cidadãos que
prometeu - com escolha aleatória de moradores - para serem ouvidos sobre os
vários projetos para a cidade.
Miguel Morgado
está, como é óbvio, muito confiante no projeto de Moedas. "Carlos Moedas
foi subestimado por Fernando Medina e pela esquerda em geral e até pelo PSD. Os
adversários foram surpreendidos pelas suas qualidades". E acrescenta:
"O seu perfil pode não ser tão exuberante com alguns gostavam, mas Lisboa
recompensou um tipo humilde, que abre o coração às pessoas e que quer mesmo
trabalhar de manhã até à noite pela cidade".
Os votos
50,67%
Belém Foi a
freguesia que mais votou em Moedas para a presidência da câmara. O cabeça de
lista da coligação Novos Tempos Lisboa (que juntou PSD, CDS, MPT, PPM e
Aliança) foi o escolhido po 50,67% dos eleitores (4111 votos). Medina ficou em
2.º lugar (23,02%). Fernando Ribeiro Rosa foi eleito presidente da Junta.
15,62%
Marvilla No
sentido inverso, Marvilla foi a freguesia onde Moedas teve pior desempenho,
recolhendo apenas 15,62% dos votos (2120 no total) e ficando aqui a larga
distância do socialista Fernando Medina (48,60%, 6595 votos). Em terceiro lugar
ficou a CDU. José Vieira foi eleito presidente da Junta de Freguesia.
10
Freguesias A
coligação encabeçada por Carlos Moedas elegeu 10 presidentes de Junta em Lisboa
(Belém, Estrela, Santo António, Avenidas Novas, São Domingos de Benfica,
Lumiar, Alvalade, Areeiro, Arroios e Parque das Nações), menos três do que
PS/Livre. Já o PCP/PEV conseguiu ganhar em Carnide.
paulasa@dn.pt
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