quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Geco está por toda a Lisboa, mas a Justiça não consegue encontrá-lo

Impunidade absolutamente inaceitável !! Portugal permite tudo a todos !!
OVOODOCORVO
"Na entrevista, na qual se revela que é um italiano com 27 anos, Geco dizia que “os polícias são mais permissivos” em Lisboa do que em Roma, de onde é originário, e que na capital portuguesa é possível “pintar durante o dia”, coisa impensável na capital italiana. Os lisboetas, acrescentava, “geralmente são bastante receptivos, comparando com outras cidades”.
 “O meu objectivo é ser visto e conhecido por toda a gente. Quero estar em tantos lugares que seja impossível não veres o meu nome”, afirmava. “Quero atrair a atenção de todos e provocar um sentimento de amor ou ódio. Só não quero passar despercebido.”



Geco está por toda a Lisboa, mas a Justiça não consegue encontrá-lo

Ministério Público arquivou queixa de lisboetas contra o graffiter por não ter conseguido descobrir a sua real identidade. Associação de moradores diz que há “um sentimento de impunidade” que é preciso combater.

João Pedro Pincha
João Pedro Pincha 5 de Novembro de 2019, 20:30

O Ministério Público arquivou a queixa apresentada por uma associação de moradores de Lisboa contra o graffiter Geco, cujas pinturas e autocolantes se encontram por toda a cidade. Para além de ver frustrado o seu objectivo, a associação terá de pagar custas judiciais no valor de 408 euros, o que leva os seus responsáveis a acusar o Estado de os punir por “bom civismo”.

A associação Vizinhos em Lisboa, que deu corpo formal a um conjunto informal de grupos de vizinhos, interpôs a acção judicial contra Geco em Outubro do ano passado, depois de o graffiter ter dado uma entrevista ao jornal O Corvo na qual dizia que se sentia mais à vontade para pichar paredes em Lisboa do que em Roma.

 O despacho de arquivamento foi proferido na semana passada, um ano depois. Nele se pode ler que “das diligências realizadas, não foi possível ao Ministério Público obter indícios suficientes de quem foram os agentes do crime denunciado, uma vez que ninguém presenciou a sua prática”.

A identidade real de Geco não é conhecida. A sua obra está por toda a parte em Lisboa na forma de enormes pinturas murais, tags e autocolantes, encontrando-se em empenas de edifícios, sinais de trânsito, placas do metro, viadutos. Está muito longe de ser o único graffiter com presença assídua e visível nas paredes da cidade, mas os Vizinhos em Lisboa ficaram particularmente irritados com as suas declarações a O Corvo.

Na entrevista, na qual se revela que é um italiano com 27 anos, Geco dizia que “os polícias são mais permissivos” em Lisboa do que em Roma, de onde é originário, e que na capital portuguesa é possível “pintar durante o dia”, coisa impensável na capital italiana. Os lisboetas, acrescentava, “geralmente são bastante receptivos, comparando com outras cidades”.

“O meu objectivo é ser visto e conhecido por toda a gente. Quero estar em tantos lugares que seja impossível não veres o meu nome”, afirmava. “Quero atrair a atenção de todos e provocar um sentimento de amor ou ódio. Só não quero passar despercebido.”

Não passou aos Vizinhos em Lisboa. “É preciso acabar com este sentimento de impunidade”, escreveu a direcção num comunicado divulgado há meses, em que também dizia ser necessário “começar a agir, de forma sistemática e consequente contra estes indivíduos que infestam a nossa cidade de lixo gráfico” e que custam vários milhões aos cofres municipais anualmente.

 Invocando os seus estatutos – que prevêem a “defesa dos interesses dos moradores residentes nas áreas, freguesias, bairros do concelho de Lisboa” – e a lei de 2013 que sanciona os grafitos ilegais, a associação avançou com o processo e tentou constituir-se como assistente, mas esse estatuto foi-lhe negado. Em primeira instância, o tribunal decidiu-se pela recusa com a justificação de que só podem ser assistentes de processos “os titulares dos interesses que a lei quis proteger” e que, no caso dos crimes de dano, “o titular do interesse protegido é o proprietário da coisa objecto do crime”.

Ao manter a decisão, o Tribunal da Relação condenou o colectivo ao pagamento de custas, no valor de 408 euros. “Isto é ultrajante”, reage Rui Martins, fundador do grupo Vizinhos do Areeiro e um dos dirigentes da Vizinhos em Lisboa.

“Com esta discutível decisão da Relação, o Estado (o poder judicial é um dos três pilares do Estado de direito) decidiu punir um grupo de cidadãos que fizeram o papel que competia ao Estado (através do sistema de Justiça e dos seus órgãos de polícia e investigação) e que este deveria ter já assumido, de forma decidida e efectiva”, criticam, num comunicado ainda não divulgado a que o PÚBLICO teve acesso.

A associação ainda vai tentar recorrer do pagamento de custas e garante que isto não a desmotiva. “É missão da associação a defesa do interesse dos munícipes contribuintes (moradores da cidade) que assim deixam de poder ver aplicadas verbas em benefício do seu habitat e da sua qualidade de vida em virtude dos custos com limpezas, constituindo isso um dano significativo”, argumentam.


Sem comentários: