quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Grécia não chega a acordo com parceiros europeus / Grécia fora do euro? Analista dá 10 razões por que não vai acontecer. Atenas quer emitir mais dívida de curto prazo, governos estão contra.


 Tal como Hegel reconhecia é nestes momentos de Crepúsculo Tenso,  perigosos mas criativos, que a História é “feita”.
Seja qual for o resultado e o desfecho, a Grécia existe. E, como já foi dito: Levantou a Cabeça!

OVOODOCORVO / António Sérgio Rosa de Carvalho.



Grécia não chega a acordo com parceiros europeus
SÉRGIO ANÍBAL 11/02/2015 - 23:33 (actualizado às 23:59)

Reunião do Eurogrupo termina sem solução. Na segunda-feira, há novo encontro.

Ao fim de mais de sete horas de discussão e de várias versões escritas e reescritas de um comunicado conjunto final que acabou por não ser publicado, os ministros das Finanças da zona euro não conseguiram mais do que uma promessa de que, até à próxima segunda-feira, continuarão a tentar encontrar uma solução para a Grécia. Para já, no encontro do Eurogrupo desta quarta-feira, não se chegou a qualquer acordo.

“Houve muitos progressos nesta reunião, mas não o suficiente para chegar a uma conclusão conjunta. Vamos continuar as discussões na próxima segunda-feira”, explicou o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, na conferência de imprensa que decorreu já depois da meia-noite em Bruxelas (23h em Lisboa).

A principal divergência continua a ser a forma como se pode garantir que a Grécia tem, no curto prazo, todo o financiamento de que precisa para chegar sem qualquer default até Setembro, o momento em que um novo programa de longo prazo com os parceiros europeus pode talvez ser atingido.

Por um lado, a Grécia recusa prolongar o actual programa da troika e prefere que lhe dêem a possibilidade de emitir mais dívida pública de curto prazo, a que chama “financiamento ponte”. Por outro, os restantes parceiros europeus insistem que é impossível garantir o financiamento sem que haja um programa em vigor. Os dois lados mantiveram-se irredutíveis nestas posições.

Em comunicado emitido a seguir ao final do Eurogrupo, o Governo grego afirmou que “uma extensão do memorando não pode ser aceite”. Dijsselbloem, por seu lado, disse que “uma extensão do programa foi discutida e que foi considerada por alguns como a melhor opção, mas um acordo não foi obtido”.

Na reunião, os responsáveis do Governo grego presentes começaram por apresentar, de acordo com as agências económicas internacionais, um plano baseado em quatro pontos fundamentais: a Grécia aceita 70% das medidas previstas no actual programa da troika; os objectivos de excedente orçamental primário acordados com a troika são revistos em baixa; o encargo da dívida pública grega é aliviado através da sua substituição por títulos de dívida indexados ao crescimento e títulos de dívida perpétua; e é dado ao Governo grego espaço de manobra para iniciar, no imediato, um combate à crise humanitária na Grécia, com medidas como o fornecimento de electricidade grátis a quem não tem meios para a pagar.

Do lado dos outros países, a resposta centrou-se, de acordo com relatos obtidos por diversos meios de comunicação social europeus, em garantir que a Grécia recuava na sua posição de não aceitar a extensão do actual programa da troika. O executivo grego foi fortemente pressionado pelos outros governos para o fazer, mas, depois de vários contactos entre Varoufakis, em Bruxelas e o primeiro-ministro Alexis Tsipras, em Atenas, resistiu.

De tal forma que o habitual comunicado conjunto que sai das reuniões do Eurogrupo acabou desta vez por não ser publicado. Os ministros redigiram mais do que uma proposta, mas estas foram recusadas por Atenas. Questionado à saída do encontro por um jornalista se considerava um progresso não ter saído do Eurogrupo o tradicional comunicado ambíguo produzido quando não há acordos, Yanis Varoufakis respondeu que “num certo sentido, isso é verdade”.

A desilusão de Jeroen Dijsselbloem no final da reunião era evidente. “Estava a contar que nos próximos dias até à reunião do Eurogrupo de segunda-feira, as instituições começassem a trabalhar no terreno para implementar o que aqui fosse decidido, mas para já nada irá ser feito, temos de esperar pela próxima reunião”, afirmou o presidente do Eurogrupo, assinalando que começa a faltar tempo até à data prevista para o final do programa grego, a 28 de Fevereiro.

Yanis Varoufakis, por seu lado, fez tudo para retirar dramatismo ao falhanço na obtenção de um acordo e aproveitou para deixar elogios aos seus colegas ministros. “Nunca foi suposto que este Eurogrupo resolvesse quaisquer questões. Foi-me dada uma maravilhosa oportunidade para apresentar a nossa visão, as nossas análises e as nossas propostas. Uma vez que nos vamos reunir outra vez na segunda-feira, penso que este foi apenas um passo até lá”, afirmou.

Ao mesmo tempo que o Eurogrupo se desenrolava em Bruxelas, em Atenas cerca de 15 mil pessoas manifestavam-se em frente ao Parlamento, dando o seu apoio ao Governo e mostrando a sua oposição à continuação de um programa da troika com mais austeridade. O recado dado ao Governo era o de que uma cedência aos parceiros europeus não será bem recebida. “Falidos mas livres” era uma das palavras de ordem ouvidas.

Algumas horas antes, no interior do Parlamento, Alexis Tsipras tinha conseguido o esperado apoio da maioria dos deputados ao seu programa de Governo. Esta quinta-feira o primeiro ministro grego estará em Bruxelas para a sua primeira cimeira de líderes da União Europeia. Tem encontros agendados com quatro outros líderes europeus antes do início da cimeira. Nenhum deles é Angela Merkel.

Grécia fora do euro? Analista dá 10 razões por que não vai acontecer
EDGAR CAETANO / 11/2/2015, OBSERVADOR

Quem aposta numa saída da Grécia da zona euro está, pura e simplesmente, errado. Não vai acontecer, diz o responsável pela estratégia macroeconómica do influente Royal Bank of Scotland.

“Mais uma vez, muitos economistas estão a precipitar-se ao prever uma saída da Grécia da zona euro. E, mais uma vez, acreditamos que estão errados“, escreve Alberto Gallo, líder da equipa de estratégia em dívida pública e pesquisa macroeconómica do influente banco britânico Royal Bank of Scotland (RBS). Em nota enviada aos clientes, o especialista recorda a incerteza vivida na primavera de 2012 em Atenas e, com base nessa experiência deixa-nos “10 razões por que acreditamos que uma saída da Grécia do euro é um cenário extremamente improvável“.

1. A Grécia é um pequeno problema. Alberto Gallo nota que o produto interno bruto (PIB) de toda a Grécia é comparável ao PIB de cidades como Madrid ou Dusseldorf. Para problemas de dimensão reduzida, não são necessários grandes esforços para que se encontre uma solução, diz o especialista.

2. Há outras formas de aliviar a dívida sem um corte direto. Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis ouviram várias vezes, nos primeiros dias à frente dos destinos da Grécia, que um perdão direto da dívida (uma promessa eleitoral) estava fora de questão. Mas o RBS diz que “há outras soluções além de um haircut da dívida” para gerar o alívio de 64 mil milhões de euros de que a Grécia necessita, segundo os cálculos do banco britânico. A troca por obrigações indexadas ao crescimento económico, propostas pelo governo grego, “pode ajudar a Grécia a ganhar flexibilidade no longo prazo e, até, a criar algum potencial de ganhos para os credores”.

3. Para os países do centro da zona euro, os custos de uma saída da Grécia são maiores do que os custos de manter o país na união monetária. Mesmo perder estes 64 mil milhões de euros (menos de 1% do PIB da zona euro) ao longo de vários anos pode revelar-se “um montante pouco significativo comparado com os riscos e as consequências de uma saída”, afirma Alberto Gallo. Em primeiro lugar porque, na opinião do especialista, o euro iria valorizar-se face aos valores atuais se a Grécia saísse, o que penalizaria as exportadoras. Por outro lado, seria criado “um precedente perigoso relativamente a outros países, o que poderia exacerbar possíveis crises no futuro.

4. A Europa e a Comissão Europeia têm assuntos mais urgentes com que se preocuparem. A situação na Ucrânia e as relações com a Rússia vão continuar a dominar as atenções e a tirar o sono a Angela Merkel. É que, “apesar das sanções, a atividade militar na Ucrânia continua a escalar e não há sinais de que a Rússia esteja disposta a recuar”, diz o RBS. Além disso, os líderes europeus têm presente a sucessão de eleições um pouco por toda a Europa este ano.

5. Os bancos gregos têm acesso à liquidez do BCE e 74 mil milhões ao dispor. Seria necessária uma maioria de dois terços no Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE) para retirar o acesso dos bancos gregos às plataformas de emergência de liquidez. E Alberto Gallo diz que “é improvável que isso venha a acontecer”, pelo que os bancos gregos têm acesso a liquidez suficiente para sobreviver a vários trimestres de necessidades de liquidez.

6. As últimas notícias apontam para uma aproximação entre Bruxelas e a Grécia. É certo que o ministro das Finanças da Alemanha, Wolgang Schäuble, se apressou a negar que esse seja um cenário em cima da mesa, mas várias fontes em Bruxelas disseram na terça-feira que a Comissão Europeia tem um plano para apresentar ao governo grego que passa por uma extensão do atual programa em seis meses. “Há, claramente, uma melhoria no tom dos discursos de ambas as partes, já que há poucos dias víamos uma sucessão de ameaças”, diz Alberto Gallo. “Em especial, a atitude da Grécia tornou-se menos credível à medida que o tempo foi passando, semelhante a um homem que ameaça atirar-se de um edifício mas que, depois, dá um passo atrás”, compara o analista.

7. Há apoio internacional para que se encontre uma solução. Vários líderes europeus mostraram publicamente terem compreensão pela situação da Grécia, com responsáveis de Espanha, Itália e França a expressarem solidariedade, diz o RBS. Até Barack Obama, o presidente norte-americano, afirmou que “não se pode continuar a espremer países que estão a viver uma depressão”.

8. Uma saída da Grécia da zona euro não acontece de um momento para o outro, é preciso votar. Alberto Gallo diz que “seria preciso os países votarem para sair do euro”. E mesmo o BCE precisaria de uma maioria de dois terços no Conselho de Governadores para barrar o acesso dos bancos gregos à ELA (a plataforma de liquidez de emergência), o que equivaleria a uma expulsão da zona euro. “Não está previsto nenhum cenário em que os países podem ser corridos da união monetária”, lembra Alberto Gallo.

9. Os povos não querem que isso aconteça. As últimas sondagens indicam que 70% dos gregos querem permanecer na zona euro. Além disso, 62% dos alemães querem que a Grécia não saia do euro, diz o RBS.

10. A zona euro está cada vez mais unida. Não o contrário. O trabalho feito ao longo dos últimos anos aponta para uma integração cada vez maior entre os países da zona euro. O feito mais notável será, eventualmente, a União Bancária, que já centralizou em Frankfurt a supervisão dos bancos da zona euro. O próximo passo é a união dos mercados financeiros. Alberto Gallo reconhece que tem havido muitas críticas aos líderes políticos, mas considera notável o trabalho já realizado em tão poucos anos. “É um processo lento, mas tem havido progressos”, afirma o especialista do Royal Bank of Scotland.


Alberto Gallo conclui com o seguinte: “A União Europeia é mais do que apenas uma moeda única, é um projeto político de longo prazo. Não esqueçamos que ganhou o Prémio Nobel da Paz há alguns anos“.

Atenas quer emitir mais dívida de curto prazo, governos estão contra.

Para conseguir assegurar o financiamento de que precisa sem continuar a ser sujeito ao programa da troika assinado pelo anterior Governo, o executivo liderado por Alexis Tsipras avança com uma solução: emitir mais dívida pública de curto prazo que lhe garanta que consegue cumprir todos os seus compromissos financeiros até Setembro. Nessa altura, então, seria estabelecido um programa de financiamento mais duradouro com os parceiros europeus.
Os outros governos europeus e também o BCE não gostam desta solução. No programa da troika para a Grécia ficou estabelecido um limite de 15 mil milhões de euros para a quantidade de emissões de dívida pública de curto prazo que a Grécia pode fazer. O limite foi imposto para evitar que o país vá pagando as suas dívidas de logo prazo apenas através de empréstimos de curta duração concedidos pelos bancos gregos. O BCE, em particular, considera que isso põe em causa a solvabilidade dos bancos e a estabilidade de todo o sistema financeiro.
Por isso, a Grécia tem encontrado nos seus encontros nas capitais europeias (e em Frankfurt também) uma resposta insistente: para ter o financiamento do Estado e dos bancos assegurado, é preciso que o actual programa da troika, com as condições que lhe estão associadas, seja prolongado para além do seu actual prazo de 28 de Fevereiro. Algo que Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis têm, desde o primeiro dia após a tomada de posse, recusado.
Para conseguir resolver esta divergência, serão necessárias cedências muito significativas de alguma ou de ambas as partes. E o prazo para tal acontecer é cada vez mais curto.

12-2-2015 / PÚBLICO

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