Zeinal Bava sabia do empréstimo à
Rioforte, diz Morais Pires
Zeinal Bava sabia dos empréstimos que foram feitos à Rioforte e terá
combinado as operações com Ricardo Salgado e Henrique Granadeiro. A acusação de
Morais Pires surge na auditora da PwC.
OBSERVADOR /
9-1-2014
O antigo
administrador financeiro do BES, Amílcar Morais Pires, disse à PwC que os
financiamentos da PT à Rioforte, empresa do Grupo Espírito Santo (GES), foram
combinados entre Ricardo Salgado, Henrique Granadeiro e Zeinal Bava, numa
altura em que este era já presidente da Oi. A revelação surge na auditoria
realizada pela consultora e que foi divulgada na noite de quinta-feira. Um
documento que indica que, tanto nos investimentos na ES International como na
Rioforte, a subscrição dos instrumentos ocorreu, em várias ocasiões, antes do
envio da respetiva ficha técnica.
A auditoria da
PwC às relações entre a PT e o GES, divulgada quinta-feira à noite pela CMVM,
revela que a 28 de janeiro de 2014,
a convite de Ricardo Salgado, o administrador financeiro
da PT, Luís Pacheco de Melo, desceu a Avenida Fontes Pereira de Melo para que,
nas instalações da BES, o presidente do banco lhe fizesse o que a PwC diz ter
sido uma “apresentação” da RioForte.
“Terá sido explicado que o
Grupo PT deveria passar a investir em papel comercial emitido pela Rioforte, em
detrimento de títulos emitidos pela ESI”, diz a PwC, acrescentando que “foi
entregue [a Luís Pacheco de Melo] uma apresentação sobre a reestruturação do
GES, que era omissa quanto aos efeitos” da aquisição pela Rioforte da ES Irmãos
(cerca de um mês antes) da aquisição por parte da Rioforte do controlo da
Espírito Santo Financial Group.
Pouco depois
dessa reunião, entre 10 e 21 de fevereiro, atingiram a maturidade 750 milhões
de euros em papel comercial da ESI e esse montante reembolsado é imediatamente
aplicado na Rioforte. Mas além desses 750 milhões, a PT desmobilizou, ainda,
147 milhões de euros em depósitos que tinha no BES para aplicar um total de 897
milhões de euros na Rioforte.
A 26 de março de
2014 há nova reunião, outra vez nas instalações do BES mas, desta feita, além
de Luís Pacheco de Melo, estava também Carlos Cruz, diretor financeiro da PT
SGPS, e o administrador financeiro Amílcar Morais Pires. Quem convocou a
reunião? “O Eng. Luís Pacheco de Melo refere que a reunião ocorreu a pedido do
Dr. Henrique Granadeiro”, diz a PwC. Segundo a consultora, “o Dr. Morais Pires
refere que a reunião ocorreu a pedido do Dr. Ricardo Salgado e ainda que este
teria afirmado que, no essencial, já estaria tudo acordado sobre o tema entre o
Dr. Ricardo Salgado, o Dr. Henrique Granadeiro e o Eng. Zeinal Bava“. Zeinal
Bava que, recorde-se, já tinha assumido a presidência executiva da Oi.
Financiamento
“não teria sido necessário”
A PT endividou-se
sem necessidade para emprestar ao Grupo Espírito Santo, como já havia sido
noticiado pela imprensa nos últimos dias. “A PwC verificou, nomeadamente nas
aplicações efetuadas em papel comercial da Rioforte em abril de 2014, que foi
necessário que a PT Finance e a PT SGPS aumentassem o seu nível de
endividamento para que, mantendo as aplicações em papel comercial da Rio forte,
conseguissem fazer face aos compromissos assumidos, nomeadamente devido à fusão
com a Oi”. “Este aumento do endividamento não teria sido necessário caso não
tivessem sido feitas as aplicações em papel comercial da Rioforte”, conclui a
PwC.
A auditoria
revela também que a PT Finance, veículo através do qual a PT se financia nos
mercados, emitiu em maio de 2013 mil milhões de euros em dívida, com taxa de
4,625% e maturidade em 2020. Metade desde financiamento obtido no mercado foi
aplicado em dívida da ESI, diz a PwC. Relativamente a esse mesmo ano de 2013,
quando saiu em fevereiro seguinte o relatório e contas da empresa havia o que a
PwC chama de “incorreção”. O documento falava em cerca de 750 milhões de euros
em dívida emitidos pela PT, mas estes títulos “não foram ‘emitidos’ pela PT
Finance e pela PT SGPS, mas sim subscritos”, revela a análise da consultora.
Para esta auditoria, diz a
PwC, não foi disponibilizada “evidência de qualquer análise de risco que tenha
sido efetuada antes da realização de aplicações financeiras em títulos da
ESI/Rioforte”. Nem tão pouco foi demonstrado à PwC que “as aplicações efetuadas
em títulos da ESI/Rioforte eram as mais atrativas para o Grupo PT SGPS”. Além
disso, a PwC identificou “documentação de suporte das emissões de títulos,
enviados pelo BES que não indicavam a taxa de juro da aplicação, não indicavam
o período em que a aplicação se encontrava em vigor, não continuam as
demonstrações financeiras do emitente e não se encontravam assinados pelo
emitente”.
A PwC reconhece,
também, que algumas informações prestadas pelas pessoas que entrevistou eram
“contraditórias”. Além disso, “muitas decisões e aprovações eram tomadas de
forma informal e sem ser deixada evidência sobre quem tomou determinada
decisão, ou sobre quem aprovou determinada transação”. A consultora salienta
que não incluiu comunicações eletrónicas entre os responsáveis e, entre outras limitações,
teve acesso apenas a fotocópias de alguns documentos, que se “assume” que estão
conforme os documentos originais.
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