quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O mundo já não pula e avança com grandes teses ideológicas, palavras de ordem e punhos erguidos. / Luís Osório.


( ...) Um perigo para a Europa. Draghi tentará evitá-lo criando dinheiro e injectando-o no mercado. Com mais dinheiro disponível descem os juros, os bancos emprestam-no às empresas que criam emprego e aumentam a possibilidade de novos créditos às famílias, que podem consumir, e por aí adiante.

Os analistas dizem-nos que a inflação deve estar um pouco abaixo dos 2 por cento, o vento perfeito. É por isso que milhares de economistas se embrenham em folhas Excel e procuram uma bissectriz que indique em cada momento a equação perfeita. Porque, se esta sobe acima dos 2 por cento, os preços aumentam e a moeda de um país desvaloriza em relação a um outro país (mesmo que tenham a mesma moeda). Subindo os preços deixamos de poder poupar, se não poupamos consumimos menos porque os preços são mais altos e se não consumimos a economia ressente-se.

O que quero dizer? Que o mundo já não pula e avança com grandes teses ideológicas, palavras de ordem e punhos erguidos. Tenho más notícias para os que acreditam em amanhãs que cantam na Grécia, em França, Itália ou Portugal. Alcançado o poder, à esquerda ou à direita, o discurso poético deriva para a inevitável prosa de sempre. Porque os mercados, com os seus humores sensíveis, é que definem as políticas. Os mercados e milhões de milhões de folhas de cálculo que tentam o único milagre que conta: controlar os números para que o maior número possível de pessoas possa continuar a gastar em produtos com uma inflação controlada. Resta-nos acreditar na felicidade e no sonho. Única forma de continuarmos a jogar, a cenoura que nos faz acreditar que somos donos de nós próprios

Por Luís Osório
publicado em 22 Jan 2015 in (jornal) i online

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