Ó Sr. Guarda
Desapareça !
Ó Sr. Dr. Juiz
Carlos Alexandre Desapareça !
OVOODOCORVO
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A politização desejada por
Sócrates
Por Luís Rosa
publicado em 5 Jan
2015 in
(Jornal) i online
Agindo como
monarca absoluto do PS e pai da pátria que passa atestados de inocência sem
necessidade de conhecer os autos, Mário Soares tem sido o aliado mais forte de
Sócrates
Já vimos este
filme em 2003. Era outro caso (Casa Pia), outro crime (pedofilia) outro arguido
(Paulo Pedroso) mas a estratégia era a mesma: politizar a investigação criminal
usando o PS para defender o arguido e descredibilizar a Justiça. A mensagem
também é igual: não se metam connosco!
Em 2003 foi Ferro
Rodrigues, então líder do PS, quem assumiu a despesa da teoria da cabala. O que
devia ser um acto normal em qualquer sociedade democrática (constituir como
arguido um cidadão contra o qual eram feitas denúncias consideradas credíveis
pelo Ministério Público, pela Polícia Judiciária e por um juiz de instrução
criminal) foi visto como um ataque ao PS. Pior: uma tentativa de decapitação da
direcção nacional do PS contra quem os barões do partido (como José Sócrates ou Jorge Coelho)
conspiravam abertamente. Tudo isso legitimou pressões sobre os magistrados que
tinham o processo, sobre o procurador-geral Souto Moura e o envolvimento do
então Presidente da República Jorge Sampaio na denúncia desse suposto ataque ao
PS.
O papel de Ferro
é hoje interpretado por José Sócrates e por Mário Soares no processo aberto
contra o ex-primeiro--ministro. Sócrates, como deixou claro desde a primeira
das suas “cartas da prisão”, não descansará enquanto não obrigar o poder
político a declarar guerra ao poder judicial. Por isso quer que a opinião
pública o encare como um preso político – como se fosse um Nelson Mandela.
Agindo como
monarca absoluto do PS e pai da pátria que passa atestados de inocência sem
necessidade de conhecer os autos, Mário Soares tem sido o aliado mais forte de
Sócrates. Voltou a mostrar isso ontem quando voltou a insultar a Justiça e
desafiou Cavaco Silva a pronunciar-se sobre uma suposta violação de segredo de
Justiça do Ministério Público ou do Tribunal Central de Investigação Criminal. É
a cópia perfeita da estratégia de 2003 com o caso Casa Pia.
Mas é uma
estratégia falhada logo à nascença. Em primeiro lugar, porque Mário Soares tem
vindo a perder credibilidade a uma velocidade vertiginosa neste tipo de
temáticas. Tem 90 anos, um grande canal de simpatia dos portugueses mas não
pode esperar que tudo o que diz seja encarado de forma benevolente. Sem falar
dos anos 80 e 90, basta recordar que em Outubro também dizia que Isaltino
Morais tinha sido “preso sem razão nenhuma”, ignorando olimpicamente que a
condenação do ex-autarca tinha sido escrutinada por todas as instâncias
judiciais admissíveis antes do trânsito em julgado da condenação por fraude
fiscal e branqueamento de capitais.
Por outro lado,
António Costa, líder parlamentar em 2003 que tudo fez para ajudar Ferro
Rodrigues, já deu mostras que aprendeu com os erros do passado e afastou o PS
de todo o caso Sócrates. Visitou o ex-primeiro-ministro e repetiu que o partido
nada tem a ver com um processo que tem natureza criminal.
Finalmente, a
Justiça evoluiu, parte do sistema perdeu o medo e reagirá a qualquer tentativa
de politização. Quando Sócrates pede um levantamento dos políticos, fá-lo
porque durante muitos anos foi possível ao poder político controlar o judicial
através de promessas de cargos, de evoluções nas carreiras e outras benesses. Isso
já não é possível com uma geração que nasceu após o 25 de Abril e que está a
liderar cada vez mais investigações importantes no Ministério Público e na
Polícia Judiciária. Muito menos com homens mais experientes e com a fibra e a
integridade do juiz Carlos Alexandre e do procurador Rosário Teixeira.
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