Michel Houellebecq suspende a
promoção do novo romance que sairá em Portugal na Alfaguara
PÚBLICO
09/01/2015 - PÚBLICO
Segundo o seu editor, o escritor, "profundamente chocado pela morte do
seu amigo Bernard Maris [uma das vítimas]", abandonará Paris para um local
mantido secreto. O romance sairá em Portugal no primeiro semestre deste ano
Michel
Houellebecq, o escritor francês que fez a capa do Charlie Hebdo no dia em que a
redacção do semanário foi alvo do ataque terrorista do qual resultou a morte de
12 pessoas, suspendeu toda as iniciativas promocionais do Soumission, o seu
último romance, publicado quarta-feira, no dia do atentado, “profundamente
chocado pela morte do seu amigo [o economista] Bernard Maris”, uma das vítimas.
A decisão foi
anunciada quinta-feira pelo agente de Houellebecq, François Samuelson, à AFP. Este
adiantou ainda que o escritor abandonará Paris para um destino na província
francesa mantido secreto e que não será alvo de protecção policial.
Não é certamente
o lançamento que Michel Houellebecq esperava para Soumission, o seu último
romance que será publicado em Portugal pela editora Alfaguara, do grupo
editorial Penguin Random House, com o título Submissão no primeiro semestre
deste ano.
Nas últimas
semanas, aquele que é hoje um dos mais célebres e polémicos escritores franceses
parecia omnipresente na imprensa gaulesa, quer comentando o livro onde imagina
uma França dirigida por um presidente muçulmano, quer vendo-o comentado
fervorosamente, ora acusado de racismo e islamofobia, ora elogiado pelo génio
da escrita.
Quarta-feira, a
capa do Charlie Hebdo caricaturava Houellebecq na sua capa, transformando-o num
mago que declarava: “Em 2015, perdi os dentes, em 2022, cumpro o Ramadão”. Horas
depois de o semanário satírico chegar às bancas, deu-se o ataque. Por
precaução, a sede da Flammarion, a editora de Houellebecq, foi então evacuada –
temia-se que a publicação de Soumission e declarações antigas do escritor,
quando classificou o Islão como “a mais estúpida das religiões”, declarações
das quais se retractou entretanto, pudessem torná-la alvo.
Quinta-feira de
manhã, aos microfones da RTL, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, deu
voz ao desejo de que as mortes no Charlie Hebdo não conduzam a actos
descriminatórios para com a comunidade muçulmana, afirmando: "A França não
é Michel Houellebecq, não é a intolerância, o ódio e o medo".
Houellebecq não
foi ouvido desde o ataque. Sê-lo-á na noite desta sexta-feira, quando for
emitida pelo Canal+ uma entrevista gravada na noite anterior, onde terá
abordado tanto o novo romance como o atentado de quarta-feira. Apesar do seu
silêncio, o escritor continua muito presente no espaço mediático. Houellebecq
seria a capa da próxima edição da revista de cultura popular Les
Inrockuptibles, sob o título “Procurado”. "Achámos engraçado consagrar um
dossier às polémicas que ele suscita, mas agora já não temos coração para
rir", explicou ao Le Monde o director da publicação, Frédéric Bonnaud. Já
na capa da última edição do semanário L’Obs, vemos realmente Houellebecq. E uma
citação da entrevista publicada no interior: “Sobrevivi a todos os ataques”. “Há
um certo embaraço perante esta capa”, declarou um membro da redacção ao Le
Monde.
Actualizado às
12h30: incluída informação sobre a edição portuguesa de Soumission e
declarações do primeiro-ministro francês.
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