Machado da Cruz
(ao centro) responsabilizou directamente Ricardo Salgado pela "ocultação
do passivo" no grupo
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BES. Contabilista "muito
arrependido" diz que Salgado sabia de tudo
Machado da Cruz garante que a ideia de ocultar o passivo, em 2008, foi de
Ricardo Salgado. Assumiu os erros por "absoluta lealdade"
Por Margarida
Vaqueiro Lopes
publicado em 9 Jan
2015 in
(jornal) i online
O contabilista da
Espírito Santo International, tornado famoso pelo próprio Ricardo Salgado,
apontou ontem, mais uma vez, o dedo ao antigo banqueiro e garante que este sempre
soube da ocultação das contas no grupo.
Francisco Machado
da Cruz, que Salgado afirma ter sido o homem responsável por tudo, esteve ontem
perante os deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão do BES
e do GES, para desmentir o antigo presidente do BES.
Numa audição que
decorreu à porta fechada, Machado da Cruz, que trabalhou no grupo durante 21
anos, disse-se "muito arrependido" por tudo o que fez e entregou aos
deputados uma carta datada de Janeiro de 2014, dirigida a Ricardo Salgado e a
José Castella, onde apresenta a sua demissão, apurou o i. E, referindo-se aos
contactos com os auditores, que entretanto começaram a escrutinar as contas,
escreveu Machado da Cruz na mesma carta: "Tenho alegado perante os
auditores que existiu um certo descontrolo e que foram cometidos erros na
contabilidade ao longo de alguns anos. Em consequência, e porque os auditores
não aceitam uma explicação sem responsável, vi-me forçado a assumir
pessoalmente esses 'erros' em diferentes ocasiões". E, remata o
contabilista: "fi-lo por absoluta lealdade aos meus superiores
hierárquicos e ao grupo".
Foi esta a
mensagem que repetiu perante os deputados, na tarde de ontem. A de que estava
arrependido, a de que tinha agido sempre sob ordens superiores e com o conhecimento
de Salgado e de José Castella - controller financeiro do GES e que esteve no
parlamento um dia antes de Machado da Cruz - e a de que assumiu publicamente
culpas que lhe não pertenciam por "lealdade". Afirmou ainda o
contabilista que a ideia de ocultar passivo, em 2008, veio do próprio
presidente do BES e que aceitou esconder a dívida para bem do grupo. Algo que
Machado da Cruz já tinha dito, aliás, aos advogados da ESI no Luxemburgo, em
Março de 2014, tal como o i noticiou no início de Dezembro.
Na ocasião, o
commissaire aux comptes garantiu aos advogados que agiu sempre sob as ordens de
Salgado e que José Castella sabia de tudo. Declarações que fizeram a sociedade
de advogados Arendt & Medernach entregar à ESI um parecer sobre o
diferencial das contas da instituição desde 2008 onde apontavam para a
existência de práticas criminais. Depois disso, a sociedade de advogados
demitiu-se.
Quando foi
confrontado com este facto concreto pelos deputados da CPI, Ricardo Salgado
desvalorizou e lembrou que uns meses depois Machado da Cruz assumiu
publicamente a responsabilidade por tudo.
Foi o suficiente
para que o contabilista telefonasse a Fernando Negrão, presidente da CPI, logo
no dia seguinte, a dizer-se disponível para responder aos deputados.
Durante a audição
no parlamento, Machado da Cruz explicou ainda que a ideia inicial era ocultar
passivo apenas em 2008, porque o Grupo Espírito Santo (GES) estava a registar
perdas consideráveis, mas que esse cenário acabaria por repetir-se durante os
anos seguintes.
O contabilista
referiu ainda que aquilo que fez é algo de que não se orgulha e assumiu que a
maquilhagem das contas foi feita para ocultar os prejuízos da ESI que não
conseguiu enfrentar a crise internacional de 2008 como seria desejável.
Estas operações
estão agora sob investigação judicial tanto em Portugal como no Luxemburgo.
Aliás, recorde-se que Fernando Negrão informou os jornalistas que tanto José
Castella como Machado da Cruz tinham requerido audições à porta fechada - e
portanto sem a presença da comunicação social - alegando terem sido
constituídos arguidos em ambos os países, o que os colocava sob segredo de
justiça.
Na audição de
ontem, aliás, e após algumas informações terem sido passadas para o exterior, o
presidente da comissão parlamentar pediu aos deputados que desligassem os
telefones.
Salgado, Ricciardi e Carlos Costa
vão ser chamados de novo a depor na AR
CRISTINA FERREIRA
e PAULO PENA 09/01/2015 - PÚBLICO
Anúncio foi feito pelo presidente da comissão de inquérito no final da
audição do antigo contabilista do GES.
O presidente da
comissão parlamentar de inquérito ao colapso do BES e do GES, o
social-democrata Fernando Negrão, anunciou às primeiras horas da madrugada
desta sexta-feira que os deputados vão chamar novamente Ricardo Salgado, José
Maria Ricciardi e o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, a depor no
Parlamento.
A decisão foi
comunicada no final da audição do antigo contabilista do Grupo Espírito Santo
(GES), Francisco Machado da Cruz, que foi ouvido nesta quinta-feira à porta
fechada durante perto de nove horas pelos deputados que integram a
comissão.
“Foi uma sessão
de muitas horas, profícuas, com declarações com interesse para a descoberta dos
factos”, disse Negrão no final dos trabalhos aos jornalistas que o aguardavam à
saída da sala 6 da Assembleia. “Todas as perguntas foram respondidas” e “não
vemos necessidade de voltar a chamar o Dr. Machado da Cruz”, acrescentou
Negrão, sublinhando a relevância desta intervenção, tal como das anteriores,
para o trabalho da comissão.
Francisco Machado
da Cruz, o contabilista do GES que o ex-líder do Banco Espírito Santo (BES)
acusou de ter manipulado as contas do grupo, foi ao Parlamento dizer que o
conselho superior sabia de tudo e que a decisão de "ocultação do
passivo" da Espírito Santo International não foi ideia sua, e sim de
Salgado, "em 2008".
A audição de
Machado da Cruz na AR foi a segunda em dois dias a decorrer sem a presença de
jornalistas na sala, depois de na quarta-feira o antigo secretário do Conselho
Superior do GES, José Castella, ter também invocado o regime do segredo de
justiça para ser ouvido na mesma condição. Negrão avançou entretanto que na
comissão de inquérito não deu entrada mais nenhum pedido de audiências à porta
fechada.
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