segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Ventura elegeu onze amigos para ir “atrás de Costa”

 


Ventura elegeu onze amigos para ir “atrás de Costa”

 

“Acabado de sair da missa”, Ventura chegou com um tom cauteloso e saiu em tom eufórico. Chega elegeu 12 deputados. Mas “hoje, para a direita, não é um dia positivo”.

 

Bárbara Reis

31 de Janeiro de 2022, 1:18

https://www.publico.pt/2022/01/31/politica/noticia/ventura-elegeu-onze-amigos-ir-atras-costa-1993677

 

O Chega, de André Ventura, conseguiu ser a terceira força política

 

O que têm em comum os 12 deputados que foram eleitos pelo Chega nas eleições legislativas antecipadas deste domingo? Uns são pouco religiosos, outros são muitíssimo. Não é isso que os une ao líder, André Ventura. Têm histórias, percursos e profissões diferentes. Têm entre os 23 e os 72 anos. São do norte e do sul. Têm em comum outra coisa: os novos deputados — eleitos numa noite vitoriosa para o novo partido de extrema-direita — são amigos próximos e fiéis do líder.

 

Os futuros deputados do Chega são pessoas que “não fazem frente a André Ventura”, que “concordam com tudo o que ele diz”, que “batem sempre palmas”, que “não levantam ondas”, que “aceitam tudo o que o líder propõe”, disseram ao PÚBLICO vários militantes do Chega, alguns próximos da direcção nacional, e todos activos e empenhados na vida do Chega.

 

Ventura deixará de estar sozinho na Assembleia da República e terá ao seu lado, na bancada do Chega, mais 11 deputados. São Pedro Santos Frazão (Santarém), Rui Afonso e Diogo Pacheco de Amorim (Porto), Pedro Pinto (Faro), Jorge Valssasina Galveias (Aveir0), Rui Paulo Sousa, Rita Matias e Pedro Pessanha (Lisboa), Filipe Melo (Braga), Bruno Nunes (Setúbal) e Gabriel Mithá Ribeiro (Leiria).

 

Eufórico, Ventura desceu à sala do Marriott Hotel, em Lisboa, onde o partido montou a noite eleitoral, e terminou o seu discurso, já perto da meia-noite, no habitual estilo messiânico: “A partir de agora, o Parlamento não será mais aquela oposição fofinha ao PS e a António Costa. E não será um deputado! Serão 10 ou 12 ou 14 em 230! Assumimos o papel que a História nos confiou de aceitar devolver a dignidade a este país.” E, a seguir: “Eu sei que o povo português nunca me iria falhar, porque sofreram tempo de mais. Que sova lhes demos esta noite!”.

 

À hora a que Ventura falava, o Chega tinha 7% dos votos e 382 mil votos já contados. “Fica a mensagem: a direita não soube estar à altura das suas responsabilidades. A dita direita passou o tempo todo a dizer que não fazia acordos com o Chega, que não queria o Chega, que com o Chega nada e o resultado está aí. António Costa: eu vou atrás de ti agora!”.

 

O Chega aumentou muito o resultado em relação às últimas legislativas, mas ficou, mesmo assim, abaixo das suas próprias previsões e mais próximo do resultado previsto pelas últimas sondagens.

 

Em Dezembro, quando entregou as listas de candidatos às eleições pelo círculo de Lisboa, Ventura disse: “Estamos a apontar para um resultado entre 20 e 25 deputados na Assembleia da República” e “o Chega vai ultrapassar os 10% dos votos”.

 

Numa das últimas sondagens antes das eleições, feita pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica para o PÚBLICO, RTP e Antena 1, o Chega ficara com 6% da intenção de votos e com a perspectiva de eleger entre cinco e nove deputados.

 

No seu discurso deste domingo, Ventura disse que vai trabalhar para a “construção de uma grande alternativa de direita para substituir o PS no poder” e voltou a caracterizar o Chega como “uma verdadeira força anti sistema”. “Devemos esta vitória ao nosso trabalho e às centenas de milhares de portugueses que, apesar de todos os dias receberem mentiras dos outros partidos — que vinha aí o fascismo, que vinha aí a extrema-direita — não se deixou enganar”, disse Ventura, antes de ir cumprimentar, um a um, os cerca de 50 militantes que foram ao Marriott.

 

À medida que os novos deputados eleitos iam chegando, os militantes gritaram e agitaram as bandeiras de Portugal e do partido. A única mulher da futura bancada foi recebida por Ricky, cantor, mestre-de-cerimónias da noite, com particular entusiasmo. “Rita Matias! Rita Matias! Rita deputaaa...daaaa!”, grita ao microfone. “Grande Rita Matias! Chega, Chega!”. Filha de Manuel Matias, assessor parlamentar de Ventura, e olhada como futura líder da Juventude do Chega. “O abraço fraterno de pai e filha! Não quero cá choradeiras, quero alegria! Viva o Chega!”. “Por favor tomem os vossos lugares, o senhor André está quase a descer!”, grita Ricky do palco. “E, como se diz no norte, até os comemos!”

 

A noite evolui lenta e numa sala quase vazia, com a actriz Maria Vieira a tentar animar o pequeno grupo de militantes. A certa altura, deu um grito. “Quatro já cá estão!”. Um minuto depois, já eram cinco. “Chega!”, gritou a actriz, sempre activa nos congressos do partido e sempre acompanhada pelo marido e pelo cão, e ela própria nas listas de candidatos, em número 9 por Lisboa.

 

“Acabado de sair da missa”, Ventura chegou ao Marriott às 20h30, com um tom cauteloso e duas notícias: a “boa notícia” do crescimento do seu partido e a “má notícia” de que Costa iria continuar a ser primeiro-ministro de Portugal. Fez uns cálculos cautelosos e desapareceu durante as três horas seguintes. Antes, deixou a o tom da sua frustração: “Hoje, para a direita, não é um dia positivo.”

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