segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

O suicídio da esquerda radical

 



O suicídio da esquerda radical

 

O PS aguentou o seu centro e destruiu a sua esquerda. O muro caiu em cima do Bloco e do PCP, e o PS recolheu os escombros. António Costa é rei e senhor de Portugal.

 

João Miguel Tavares

30 de Janeiro de 2022, 23:59

https://www.publico.pt/2022/01/30/opiniao/opiniao/suicidio-esquerda-radical-1993657

 

Foi uma noite histórica para o PS e para António Costa, e a vitória mais saborosa de sempre, porque ninguém estava à espera do que aconteceu: o PS aguentou o seu centro e destruiu a sua esquerda. O muro caiu em cima do Bloco e do PCP, e o PS recolheu os escombros. António Costa é rei e senhor de Portugal.

 

As sondagens dos últimos dias falharam catastroficamente, ou melhor, ao transmitirem a ideia de uma corrida renhida e polarizada, puseram o país inteiro a correr para a cabine de voto para colocar a cruzinha no PS. Nunca tive dúvidas que António Costa ganharia estas eleições; jamais esperei que tivesse maioria absoluta.

 

O mantra o-PSD-não-é-um-partido-de-direita deixou espaço ao crescimento do Chega e da Iniciativa Liberal, e não conseguiu captar os votos de que precisava ao centro. O PSD sobe em relação a 2019, mas o projecto político de Rio acabou

 

Ainda há dois dias todos elogiavam a estratégia de Rui Rio. E, no entanto, ela acabou por falhar de forma estrondosa em cima da meta: o mantra o-PSD-não-é-um-partido-de-direita deixou espaço ao crescimento do Chega e da Iniciativa Liberal, e não conseguiu captar os votos que precisava ao centro. A votação do PSD sobe em relação a 2019, mas o projecto político de Rio acabou na noite de domingo.

 

Marcelo vai ter um último mandato santo. A convocação de eleições está totalmente justificada, e o presidente da República pode praticar a sua actividade favorita: um suave papel de vigilância, sem a necessidade de tomar decisões difíceis. Mais estabilidade – e “governabilidade” – não poderia haver.

 

António Costa tem agora oportunidade de governar tantos anos quanto Cavaco (10), exibir toda a ambição reformista que se lhe conhece, e provar, sem quaisquer entraves, o que realmente vale à frente do país. Pedro Nuno Santos continuará a tomar conta da TAP. Fernando Medina tem o seu lugar à espera nas Finanças. Edite Estrela vai ser presidente da Assembleia da República. E Eduardo Cabrita, abençoado seja, pode dormir em paz. Tudo está bem quando acaba bem.

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