O suicídio da esquerda radical
O PS aguentou o seu centro e destruiu a sua esquerda. O
muro caiu em cima do Bloco e do PCP, e o PS recolheu os escombros. António
Costa é rei e senhor de Portugal.
João Miguel
Tavares
30 de Janeiro de
2022, 23:59
https://www.publico.pt/2022/01/30/opiniao/opiniao/suicidio-esquerda-radical-1993657
Foi uma noite
histórica para o PS e para António Costa, e a vitória mais saborosa de sempre,
porque ninguém estava à espera do que aconteceu: o PS aguentou o seu centro e
destruiu a sua esquerda. O muro caiu em cima do Bloco e do PCP, e o PS recolheu
os escombros. António Costa é rei e senhor de Portugal.
As sondagens dos
últimos dias falharam catastroficamente, ou melhor, ao transmitirem a ideia de
uma corrida renhida e polarizada, puseram o país inteiro a correr para a cabine
de voto para colocar a cruzinha no PS. Nunca tive dúvidas que António Costa
ganharia estas eleições; jamais esperei que tivesse maioria absoluta.
O mantra o-PSD-não-é-um-partido-de-direita deixou espaço
ao crescimento do Chega e da Iniciativa Liberal, e não conseguiu captar os
votos de que precisava ao centro. O PSD sobe em relação a 2019, mas o projecto
político de Rio acabou
Ainda há dois
dias todos elogiavam a estratégia de Rui Rio. E, no entanto, ela acabou por
falhar de forma estrondosa em cima da meta: o mantra
o-PSD-não-é-um-partido-de-direita deixou espaço ao crescimento do Chega e da
Iniciativa Liberal, e não conseguiu captar os votos que precisava ao centro. A
votação do PSD sobe em relação a 2019, mas o projecto político de Rio acabou na
noite de domingo.
Marcelo vai ter
um último mandato santo. A convocação de eleições está totalmente justificada,
e o presidente da República pode praticar a sua actividade favorita: um suave
papel de vigilância, sem a necessidade de tomar decisões difíceis. Mais
estabilidade – e “governabilidade” – não poderia haver.
António Costa tem
agora oportunidade de governar tantos anos quanto Cavaco (10), exibir toda a
ambição reformista que se lhe conhece, e provar, sem quaisquer entraves, o que
realmente vale à frente do país. Pedro Nuno Santos continuará a tomar conta da
TAP. Fernando Medina tem o seu lugar à espera nas Finanças. Edite Estrela vai
ser presidente da Assembleia da República. E Eduardo Cabrita, abençoado seja,
pode dormir em paz. Tudo está bem quando acaba bem.
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