quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Nunca estiveram tantos migrantes alojados no ZMar. Eco-resort continua sem licenciamento

 



ODEMIRA

Nunca estiveram tantos migrantes alojados no ZMar. Eco-resort continua sem licenciamento

 

Há 72 pessoas a viver no eco-resort devido à falta de condições de habitabilidade nos locais onde residiam. Estado já gastou 425 mil euros na cedência de casas. Complexo turístico continua fechado por falta de licenciamento.

 

Mariana Oliveira

1 de Setembro de 2021, 6:22

https://www.publico.pt/2021/09/01/sociedade/noticia/tantos-migrantes-alojados-zmar-ecoresort-continua-licenciamento-1975880?fbclid=IwAR3XUnEsetfJ6a2kuBG3jQgXup_wZ5MvqlKO7qCV7NLKhHtA23CJ2c3vIEY

 

Apesar de ter desaparecido dos holofotes da comunicação social, o eco-resort ZMar, em Odemira, nunca teve tantos migrantes lá alojados como agora. Há, neste momento, 72 pessoas a viver naquele complexo, para onde foram deslocadas por morarem em locais sobrelotados ou sem condições de salubridade. Desde o início de Maio, já passaram pelo empreendimento turístico 110 pessoas, 38 das quais “foram, entretanto, realojadas noutros edifícios, por iniciativa própria ou das respectivas entidades empregadoras”.

 

Os números foram enviados ao PÚBLICO pelo gabinete do secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional, Jorge Seguro Sanches, o governante que ficou responsável por coordenar a resposta à pandemia de covid-19 no Alentejo.

 

“Este aumento deve-se ao facto de no dia 14 de Junho ter ocorrido o realojamento no ZMar dos 44 cidadãos que se encontravam temporariamente na Pousada de Juventude de Almograve”, um local onde foram instalados cidadãos com teste positivo ao novo coronavírus e sem condições de efectuar isolamento no respectivo domicílio, adianta o gabinete do secretário de Estado.

 

“Em meados de Junho, com o aumento de casos positivos no concelho de Odemira, houve necessidade de tornar o processo de isolamento mais eficiente e ágil, evitando as deslocações de cidadãos para o Centro de Acolhimento da Marinha na Base Naval do Alfeite”, por onde chegaram a passar 111 pessoas infectadas com o SARS-CoV-2. Por essa razão, a pousada, que estava a ser usada igualmente para alojar pessoas que não dispunham de condições de habitabilidade, foi “afectada em exclusivo para cidadãos com teste PCR positivo”. Tal, garante o gabinete de Seguro Sanches, permitiu “maior rapidez no isolamento dos casos positivos, possibilitando ainda que estes cidadãos cumpram o isolamento mais próximos do local de residência”. 

 

O Governo diz que “ainda não é possível definir uma data precisa” para o fim da cedência temporária das 34 habitações que o Estado acordou com o ZMar, através de um protocolo assinado com o Instituto do Turismo de Portugal. Neste momento, o Estado já gastou 425 mil euros com este acordo, ou seja, 3400 euros por dia pela disponibilidade das 34 casas cedidas (100 euros por cada uma).

 

Sobre as soluções de médio/longo prazo para resolver o problema de falta de habitação no concelho, que afecta sobretudo as comunidades migrantes que trabalham na agricultura, o gabinete de Seguro Sanches remete para a Câmara Municipal de Odemira, que já elaborou a Estratégia Local de Habitação e é a entidade territorialmente competente para receber os pedidos de instalação de alojamento temporário amovíveis. O recurso a esta solução está previsto desde Outubro de 2019, mas não tem sido fácil de concretizar por esbarrar com a burocracia associada ao envolvimento de diversas entidades na aprovação da instalação dos alojamentos amovíveis.

 

Por isso, uma resolução do Conselho de Ministros simplificou no início de Junho algumas das regras de aprovação desse pedido. No prazo de cinco dias após a entrada do pedido a autarquia “convoca, para ter lugar nos 10 dias seguintes, uma conferência procedimental deliberativa, por meios telemáticos”. Esta reunião dá lugar a uma decisão única, que substitui a pronúncia de todas as entidades competentes da administração central e local e que é tomada no prazo máximo de 15 dias, contados desde a entrada do pedido, sob pena de deferimento tácito. “De referir que as organizações de produtores têm estado envolvidas e empenhadas em encontrar soluções alternativas para estes cidadãos”, garante o Governo. Contactada pelo PÚBLICO, a câmara de Odemira não respondeu às várias perguntas enviadas.

 

O ZMar continua fechado por causa do licenciamento que caducou em Dezembro de 2019 e que, descobriu-se este ano, nunca abarcou a maioria das 260 casas de madeira ali erguidas. Tal vai obrigar o ZMar a apresentar um novo pedido de licença que implicará a apresentação de projectos de arquitectura de todas as infra-estruturas e provavelmente sujeitar-se a uma nova avaliação de impacte ambiental. Apesar de o complexo estar fechado, os donos de cerca de 160 das 260 casas de madeira ali existentes (as restantes são do próprio empreendimento) e os migrantes podem utilizar as habitações. No entanto, a maior parte das zonas comuns, como o restaurante, as piscinas, a salas de eventos e o spa estão encerrados.

Sem comentários: