LISBOA
Moradores e comerciantes do Bairro Alto preocupados com
criminalidade à noite
Queixam-se de actos de vandalismo contra o património,
assaltos, venda de droga, lutas de “gangues” por controlo de território e “toda
uma multidão de gente que bebe sem parar”.
Lusa
22 de Setembro de
2021, 12:20
“O facto de as discotecas estarem fechadas também não
ajuda”, diz o presidente da Associação de Moradores da Freguesia da
Misericórdia
Moradores e
comerciantes da zona lisboeta do Bairro Alto manifestaram-se nesta quarta-feira
preocupados com a criminalidade associada a ajuntamentos na via pública durante
a noite, inclusive o aumento de “gangues”, defendendo o reforço do policiamento
de proximidade.
“A percepção é
que a situação está completamente descontrolada, porque são milhares e milhares
e milhares de pessoas que andam nas ruas e a polícia não dá conta do recado”,
afirmou a presidente da associação de moradores Aqui Mora Gente, Isabel Sá da
Bandeira, destacando a ocorrência de actos de vandalismo contra o património,
assaltos, venda de droga, lutas de “gangues” por controlo de território e “toda
uma multidão de gente que bebe sem parar”, apesar de ser proibido beber na via
pública no âmbito das medidas para controlar a pandemia de covid-19.
Após uma reunião
com a presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira (PS),
realizada na semana passada, a representante dos moradores recebeu a
confirmação de que “a situação está descontrolada e que a polícia faz
detenções, muitas detenções por noite, mas que as multidões são tantas que não
consegue dar conta do assunto”.
Em declarações à
agência Lusa, Isabel Sá da Bandeira referiu que estas situações de
criminalidade em contexto de diversão nocturna já aconteciam antes da pandemia,
mas agravaram-se “talvez por força do confinamento e de as pessoas estarem
sequiosas de saídas”, com os ajuntamentos “no meio da rua até às tantas da
noite”, inclusive porque as discotecas continuam fechadas.
“É um modelo de
turismo que não é sustentável e que, enquanto se mantiver isto, está entregue
ao deus-dará”, reforçou Isabel Sá da Bandeira, revelando que tem recebido
dezenas de chamadas e de mensagens de pessoas residentes nestas zonas de Lisboa
a dizer que “estão desesperadas, que não conseguem viver assim”, sobretudo
devido à falta de descanso durante a noite.
Jovens a aproveitar ao máximo
Da Associação de
Moradores da Freguesia da Misericórdia, que resulta da antiga Associação de
Moradores do Bairro Alto, Luís Paisana falou também no aumento de ajuntamentos
na via pública durante a noite, a maioria jovens que “querem aproveitar o
divertimento ao máximo” após os períodos de confinamento devido à pandemia, e
“o aumento de “gangues” de marginais, que não vão divertir-se, mas vão para
roubar, para ter violência, para provocar, e esse tem sido um fenómeno novo,
que dá origem aos actos de violência, aos esfaqueamentos”.
“Há cenas de
violência que não havia tanto no passado”, indicou Luís Paisana, referindo que
houve um aumento de comportamentos agressivos, o que tem assustado os
moradores, em particular os mais idosos, “porque já não se limitam a estar na
rua, já forçam portas, já tentam entrar nas portas e, se alguém diz alguma
coisa, então rebentam mesmo a porta”.
Segundo o
presidente da Associação de Moradores da Freguesia da Misericórdia, esses actos
de vandalismo são “um fenómeno novo”, que põem em causa o descanso e a
segurança dos residentes, o que tem sido “um bocadinho alarmante”.
“Já tivemos uma
reunião com a Junta, com a PSP, com a associação de comerciantes, com a
protecção civil, sobre a questão da segurança, e a polícia esclareceu que de
facto é um fenómeno que eles estão a tentar controlar, mas que não é fácil
porque estamos a falar de grupos enormes, de muita gente, que se movimentam
muitas vezes sem qualquer previsão [...] estão na praia de Carcavelos e, de
repente, vão parar ao Cais do Sodré”, avançou o representante dos moradores.
Discotecas
fechadas são parte do problema
Ainda que seja
apenas uma parte do problema, “o facto de as discotecas estarem fechadas também
não ajuda”, apontou Luís Paisana, propondo uma acção policial “mais musculada e
mais dura”, inclusive com a polícia de intervenção, considerando que há regras
em vigor que não são cumpridas como, por exemplo, o consumo de álcool na rua.
“Neste momento,
toda a gente está a perder, estão os moradores, estão os comerciantes de porta
aberta com esplanadas que pagam impostos, está a própria cidade que está a ser
vandalizada e que está a criar uma imagem de confusão, e a política também fica
com uma imagem que não consegue controlar a situação”, declarou à Lusa o
presidente da Associação de Moradores da Freguesia da Misericórdia.
Afastando a ideia
de sentimento de medo e de insegurança, o presidente da Associação de
Comerciantes do Bairro Alto, Hilário Castro, partilhou da ideia que as
situações de criminalidade violenta, inclusive roubos e esfaqueamentos, são
provocadas por grupos que vêm das periferias de Lisboa, com o propósito de
assaltar ou vender estupefacientes.
“Estamos
constantemente a solicitar o apoio policial, um policiamento de proximidade
efectivo no terreno, [...] não quer dizer que o policiamento não exista mas é
pouco visível no terreno e isso proporciona a que, depois, estas coisas
aconteçam”, frisou Hilário Castro, considerando que o aumento de afluência às
zonas de diversão nocturna, sobretudo de jovens e turistas, aliado à falta de
policiamento “é o “cocktail” perfeito” para que aconteçam situações de
criminalidade violenta.
Na perspectiva do
representante dos comerciantes, o sistema de videovigilância que está instalado
deve ser utilizado melhor pela polícia e a reabertura das discotecas pode ajudar
a reduzir os ajuntamentos na rua.
“Não diria que há um sentimento de medo, não é o caso, até porque onde há pessoas a probabilidade de as coisas acontecerem não é propriamente dentro dos estabelecimentos, não há um caso registado nos estabelecimentos do bairro. Agora é evidente que depois a parte exterior é um problema sério, porque aí qualquer pessoa terá receio perante grupos desta natureza. Não podemos dissociar as coisas, mas, no cômputo geral, o Bairro Alto é um bairro tranquilo”, sublinhou o presidente da Associação de Comerciantes do Bairro Alto.
Nas últimas
semanas, Lisboa tem registado situações de criminalidade violenta em contexto
de diversão nocturna, nomeadamente no Bairro Alto, Cais do Sodré e Santos, com
ocorrências de esfaqueamentos.


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