COMBOIOS
Empresa francesa quer recuperar esplendor dos comboios
nocturnos. E com Lisboa e Porto como destinos
Paris será o hub da Midnight Trains, que se propõe
“reinventar um produto velho com mais de um século” numa experiência de viagem
cómoda e vanguardista. “Um trajecto entre Paris e Roma a bordo dos nossos
comboios vai gerar 23 vezes menos emissões de CO2 que um avião comercial sobre
o mesmo percurso”.
Carlos Cipriano
18 de Junho de
2021, 18:05
A primeira
start-up ferroviária francesa quer dar “uma nova mitologia” às viagens sobre
carris e criar comboios-hotel para ligar Paris a destinos que não são servidos
pela alta velocidade. A ideia é criar uma oferta de qualidade, cómoda e
confortável, onde o comboio não seja apenas um meio de transporte para ir do
ponto A ao ponto B, mas sim uma verdadeira experiência de viagem, que vale por
si mesma.
“Os nossos
comboios irão percorrer distâncias entre 800 a 1500 quilómetros a fim de servir
grandes cidades europeias como Madrid, Lisboa, Porto, Milão, Veneza, Florença,
Roma, Viena, Praga, Budapeste, Berlim, Hamburgo, Copenhaga e até Edimburgo”,
diz um comunicado da Midnight Trains, que se assume como um projecto a longo
prazo. Os primeiros passageiros só embarcarão em 2024. Até lá há muito trabalho
a fazer no recrutamento de pessoal, aquisição de material circulante e acesso
às infra-estruturas dos vários países e serviços de tracção.
Tal como George
Nagelmarkeres, o belga que no século XIX fundou a Compagnie Internationale des
Wagons Lits et des Grands Express Europeens tendo de vencer os nacionalismos da
época, também Adrien Aumont e Romain Payet, os dois fundadores da Midnight,
deverão agora enfrentar a pesada burocracia ferroviária europeia e as
dificuldades da falta da interoperabilidade para levarem a cabo o seu projecto.
“Hoje quando se
fala nos comboios nocturnos, pensa-se no luxuoso Oriente Expresso ou nos
comboios Corail [marca de carruagens francesas] das últimas décadas,
desconfortáveis e desprovidas de intimidade”, dizem os fundadores, que querem
agora “reinventar um produto velho com mais de um século” através de
comboios-hotel que privilegiam os espaços privados, com quartos individuais, de
casal, ou familiares, mas onde não faltam também os compartimentos com
beliches, democratizando assim a oferta.
Uma coisa garantem:
“Connosco está fora de questão dormir com desconhecidos pois cada um escolherá
a bolha social que lhe corresponde.” Mas o convívio será uma pedra-de-toque dos
comboios Midnight, que terão “um restaurante e um bar de qualidade onde
produtos naturais, cocktails e vinhos vigorosos” voltarão a proporcionar o
prazer da restauração sobre carris.
Atentos às novas
tendências, os fundadores desta empresa remetem para uma época “pós-aviação”
onde os consumidores preferem meios de transporte alternativos e mais amigos do
ambiente. Dizem que nas viagens dentro da Europa o avião é quase um monopólio e
que proporciona ao viajante uma experiência stressante e desconfortável. “A
rapidez que a aviação vende é uma ilusão pois um simples voo de uma hora
demora, na realidade, quatro horas se considerarmos o porta-a-porta.”
E com custos
ambientais pesados. “Um trajecto entre Paris e Roma a bordo dos nossos comboios
vai gerar 23 vezes menos emissões de CO2 que um avião comercial sobre o mesmo
percurso”, diz a Midnight. Os números são estes: 8,8 quilos de dióxido de
carbono para o comboio contra 206,1 para o avião.
A empresa é
financiada por Xavier Niel, um bilionário francês ligado às telecomunicações e
que tem financiado com sucesso vários projectos de start-ups.
Em Portugal, os
últimos comboios nocturnos circularam em Março de 2020 no início da pandemia. O
Lusitânia Expresso (Lisboa – Madrid) e o Sud Expresso (Lisboa – Hendaya) não
voltaram aos carris devido ao desinteresse espanhol por estas ligações.





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